Crítica: No tambor, na Casaca, Na Guitarra
“No Tambor, Na Casaca, Na Guitarra”, da Banda Casaca, é um trabalho excelente, principalmente por ser o CD de estréia e, dado a isso, como é de praxe, sempre escapa algum detalhe, já que a imaturidade da banda (não dos integrantes) pesa na gravação. No caso do Casaca (que gravou em novembro e dezembro de 2000; 11 meses após sua formação) o maior “problema” me pareceu ser a timbragem/mixagem dos 3 tambores de congo, que soaram iguais, perdendo um pouco do peso (há momentos em que só se escuta um tambor).
Apesar disso, “NTNCNG” é um CD agradável, pulsante, de boas músicas e letras, num estilo classificável como “congo-reggae-pop”. Ele também é limpo, onde o instrumental simples garante a identidade e clareza da música, sem embolação. A guitarra faz levadas básicas, entretanto eficientes, com baixos bem marcados que preenchem a harmonia do vocal, dispensando a utilização de teclados na maioria das faixas. Os tambores, como não poderiam deixar de ser, têm total referência no congo da Barra do Jucú, a inspiração dos rapazes.
Após uma breve congada tradicional, o CD começa com “Camarada”, que tem como introdução um congo barrense com uma guitarra agressiva e baixo pontuando a toada que antecede a música: um congo próximo de um reggae rápido, mas sem ser ska. Depois vem “Da Da Da”, onde a vinheta inicial chama a música que fala de solidão, amor e, assim como “Sereia”, distante da melancolia comum a essa temática. “Morro da Concha” faz referência a um dos locais preferidos dos moradores da região (chamado carinhosamente de “Olhos da Barra”); “Anjo Samile” é uma singela homenagem do vocalista Renato à sua filha – Samile – com um dedilhado de guitarra justapondo-se aos tambores.
Da primeira frase do coro sai o título de “Sabrina” (“SAudades BRIlham NA calada da noite”), conduzida por um violão de aço. Em clima de luau na praia vem “Ondas do Barrão”, primeiro sucesso do grupo, e o Congo Reggae assume a faceta “rasta” do Casaca. “Leva um Picolé” e “Garças de Jacarenema” são, na minha opinião, as melhores músicas de NTNCNG: a primeira – de onde saiu o nome do disco – lembra de longe um funk-rock (é só imaginar uma bateria tocando junto, o wah-wah da guitarra colabora) e “Garças” traz um apelo ecológico ao falar da Reserva de Jacarenema, também na Barra do Jucú.
Por fim resta “Ligado”, com pulsação correspondente ao nome, e alguns congos – espere até os 2’38″ da faixa 16, tem “Meu Santo Antônio” à voz e violão e um blues bem displicente com cara de final de noite… no Barrão, claro.
Faixa-a-faixa – Por Jura, Márcio, Vinicius e Jean, integrantes do Casaca
1) Congada: “É uma vinheta que a gente gravou em MD numa congada que estava rolando na praia, com todas as bandas de congo da Barra do Jucu, com a intenção de passar o congo cru”
2) Camarada: “É uma música mais política, ela era até um pouco mais pesada, a gente acabou mudando umas partes, é uma das músicas sociais do disco, do dia a dia. É o que a gente pensa mesmo.”
3) Da Da Da: “Olha, essa músicam o Renato estava na época ouvindo The Police, e tinha uma letra, do Sting, que chamada “Du du du da da da”, e nós resolvemos fazer uma música só com o da da da.”
4) e 5) Voz de Buchecha/Morro da Concha: “Nós colocamos o Buchecha, que é um cara lá da Barra que toca tambor e que a gente respeita muito, prá falar sobre o Morro da Concha, que é a música que vem na sequência.”
6) Anjo Samile: “Essa o Renato fez prá filha dele, que hoje tem quatro anos e tá uma capetinha (risos). Essa música foi feita antes dela nascer, é de antes do Casaca surgir.”
7) Sabrina: “Feita em homenagem à nossa fã que morreu atropelada no ano passado, durante as obras da Rodovia do Sol, ela tinha somente 12 anos.”
8) Luau: “A gente quis passar um clima do que fazemos à noite na Barra”
9) Ondas do Barrão: “O Renato ouviu um casal de namorados brigando na praia, durante um show do Casaca, e a letra conta bem a história do que aconteceu…”
10) Congo Reggae: “É o estilo da banda? Não, não é! O congo-reggae, na verdade, seria mais ou menos prá apresentar a banda, apesar de não dizer tudo sobre a banda.”
11) Luau: “Mais um luau…”
12) Sereia: “Essa o Renato fez muito antes do Casaca também, fala um pouco do cotidiano da Barra, dos pescadores e tal”
13) Leva um Picolé: “Eu (Jura) estava no Terminal e foi engraçado, veio uim menino gritando “olha o picolé 10, olha o picolé 10″, e parou bem assim na minha frente e falou “compra seu moço, é prá ajudar a família em casa”, e isso veio na minha cabeça na hora e fiz a música. A gente até correu atrás do menino prá gravar o “olha o picolé” com a voz dele na música, mas acabamos não encontrando.”
14) Garças de Jacarenema: “É sobre a Reserva de Jacaranema, é o cotidiano da Barra. Ecologia é um lance muito presente lá.”
15) Ligado: “É uma música feita prá um brother nosso lá da Barra, ele chegou pro Renato uma vez e falou “Pô colega, mais uma noite e eu tô ligado”, ele não resistia a ficar em casa a noite. Essa do “sai de mim abacaxi, tomei leite” é assim, abacaxi e leite não se misturam bem, essa história que ele conta é desde que os policiais pararam ele na rua, quando ele estava bêbado, ele disse “Sai de mim abacaxi, tomei leite”. A frase tá na música.”
16) Congada: “Mais uma congada, prá fechar o disco. E tem uma coisa que muita gente não sabe, se após o final dessa música, você deixar o CD rolando por uns dois minutos no aparelho de som, tem uma outra música, surpresa…”