Cobertura do Lona Festival
O cenário era a Fábrica 747, ambiente alternativo recentemente inaugurado em Vitória. O público, variado, e as bandas, algumas das mais populares da cena atual. O festival “Lona Records”, realizado no dia 11 de outubro, foi uma mostra, em todas as estâncias do que é e significa a música produzida no estado do Espírito Santo. Se apresentaram: Java Roots, Herança Negra, Zé Maria, Manimal e Pé-do-Lixo, cada um “mostrando por que este é o momento glorioso da cena local”. Aliás, esta foi a máxima repetida por todos. Público, mídia e músicos concordam, que é a vez do som local. Cada um ao seu estilo e a seu modo, mostraram os respectivos repertórios.
O público era mediano, relativamente variado e pequeno para o local da apresentação. “Acredito que o local foi meio contramão… talvez se houvesse sido realizado na UFES, o público da distribuidora, que é totalmente jovem, teria sido maior”, afirma o estudante de jornalismo Igor, 22 anos. A respeito da estimativa de público, Cidinho, da Lona Records acredita que o evento foi positivo no contexto, até pelo aspecto divulgador da campanha antecedente ao mesmo e para tornar público que a cena local está indo para o Brasil.
O Herança Negra apresentou um show do qual o ponto alto foi a execução de “De um povo guerreiro”, indiscutivelmente melhor música da banda. No que diz respeito à postura no palco, não existem observações negativas a serem feitas. “On the stage”, o Herança Negra é divertido e animado.
O show do Zémaria também foi convencional. Os meninos da música eletrônica comemoram sua fase privilegiada após as vitoriosas turnês no Rio e São Paulo e a música “Jardim Camburi” em uma coletânea da Alemanha. O som do Zémaria é mesmo a cara da Europa e o ponto alto são os instrumentos. A banda é o ideal para o público das boites e raves.
“Curto o Zémaria desde o início da carreira da banda”, diz a estudante “clubber” Fabiane Rios, 22 anos. No contexto de produção do Lona Festival, deixou a desejar. Faltou iluminação, cenário, enfim todo um contexto para embalar as rápidas batidas da banda, que em termo instrumentais é excelente.
Se ao Zémaria faltou contextualização, o Manimal se virou mesmo sem ela. Ponto alto da noite, as músicas de “Espírito Congo” puseram todo mundo para dançar. Destaque para a batida forte dos tambores, dos quais as variações vem sendo exploradas ao máximo por Farinha, Queiroz e Fábio. Até os “não- congueiros” (como esta que vos escreve) se aventuraram. Já na primeira canção, “Àgua de Benzer”, não houve quem ficasse parado. Sobre o sucesso de vendas de disco, o vocalista e guitarrista Alexandre Lima atribui à evolução do trabalho que completa 7 anos em dezembro. “Na realidade, Espírito Congo é uma celebração e acima de tudo identidade capixaba. Trabalhamos 4 meses no disco e não prevíamos o sucesso. Senão faríamos um atrás do outro”.
O músico acha fundamental discutir o assunto do “capixabismo”, do que é ser capixaba, e acredita que a divergência de opiniões seja positiva e que Vitória é mesmo a nova Seattle. “Faço até uma comparação meio inusitada: Jimmy Hendrix nasceu em Seattle e Roberto Carlos nasceu aqui, no Espírito Santo.”
E o que é mais importante para o Manimal: qualidade ou aceitação em massa? “Essa onda de sucesso é muito legal. Só Deus sabe o que passamos ao longo desses 7 anos… e nunca tivemos isso que estamos tendo agora, ou seja o grande público se aproximando da gente. Porém nunca deixamos de nós preocupar com a arte, não só a música, mas juntar com as artes plásticas, fotografia e cênicas… isso é a cara do Espírito Santo”.
Em linha gerais, o evento pode ser definido como “uma extensão da Curva da Jurema”, porém sem a beleza do local e casualidade do ambiente, o que fez toda a diferença. No quer diz respeito ao “cast”, tanto gravadora quanto o público não tem muitas observações negativas a fazer, afinal, sentimento pelo Estado está incutido em cada nota do som trabalhado pelos músicos, que com todas as suas características, é singularmente nosso.