Cobertura do Festival “Ilha em Movimento”
Tinha tudo para ser uma espécie de mini-Dia D. Mas não foi, principalmente por causa do público: apenas 1600 pessoas compareceram à MegaZoom na última sexta-feira para conferir a 4ª edição do festival Ilha em Movimento. Uma grande pena, pois a maioria das 13 bandas que se apresentaram capricharam em suas performances, fazendo ótimos shows.
Lamentações a parte, há de se destacar que: 1) mais uma vez, a galera da ilha saiu de casa apenas para se divertir, ou seja, não foram registradas brigas; 2) as bandas mostraram seu profissionalismo, fazendo shows, para um público aquém do esperado, com a mesma energia desprendida em shows para grandes platéias; 3) apesar do atraso inicial de 45 minutos, depois disso, todos os shows ocorreram nos horários previstos.
Mas também há de se criticar que: 1) apesar de muito bem divulgado por meio dos veículos de rádio e internet, o festival poderia ter atraído mais gente se fosse feita uma divulgação utilizando-se outdoors e peruinhas; 2) assim como no Dia D, bem que poderia se ter usado mais folhetos ou outros meios quaisquer para sinalizar a programação. Foram apenas 13 bandas, a boate não é tão grande quanto a Praça do Papa, mas ainda assim muita gente ficou desorientada…; 3) Não procuramos saber quem era os responsáveis pelo som, se era a própria boate ou alguma equipe contratada pela organização, mas de qualquer forma, foi uma grande falta de respeito o que fizeram com o Renegrado Jorge, que esperou até as 5 da manhã para fazer seu show. Mas também não dá prá inocentar totalmente o rapper, que não precisava reagir da forma que reagiu.
Feitas nossas sinceras considerações, vamos aos comentários sobre cada um dos shows:
Marcos CP
Abriu o festival, às 23:10 horas, enquanto o público ainda chegava à Megazoom. No show mais curto do Ilha em Movimento (tocou por apenas 30 minutos), mandou competentemente sua black music, com um tanto de suingue. Destaque para a versão de “Encontrei” (que está no 2º do Manimal, mas é de autoria dele) e para a canção “5 da manhã” (que está no CD Ilha em Movimento). As poucas pessoas em frente ao palco Rocksambacongo dançavam timididamente, o suficiente para, ao final da apresentação, Marcos dizer que o show foi “muito bom”.
Java Roots
Fez, no palco Ilha (o principal), o primeiro “grande” show do festival. Chocolate, o vocalista, entrou dizendo “só quero saber de quem faz o movimento”, antes da banda abrir com “O Carangueijo e a paneleira”, sua música mais “pesada”. O repertório do show foi baseado no recém-lançado 2º CD da banda, que foi tocado quase na íntegra. O rapper Renegrado Jorge, vestido com uma camisa com as cores da bandeira da Etiópia (vermelho, verde e amarelo), participou em “Tenha-me”, num show que teve espaço até para uma vinheta de “Suck My Kiss” (Red Hot Chilli Peppers) e um tanto de ufanismo: depois de tocar “Os anjos”, o baixista Jr. Bocca, vendo uma pessoa na platéia com a bandeira do ES bradou: “Espírito Santo sempre, carregue essa bandeira onde você for”. Um bom show, mas que infelizmente não teve nada de diferente para os que vem acompanhando as apresentações da banda.
Nave
A banda Nave aterrissou no palco Movimento logo após a apresentação do Java Roots, mostrando para o público um som pesado e ao mesmo tempo melódico, com guitarras cheias de efeitos e amparado por uma bateria firme. Nem os problemas acústicos do palco Movimento – uma microfonia insuportável soou durante boa parte da apresentação – abalaram a banda, que parecia estar bem a vontade dentro do ambiente onde funcionara a maior boate de estado. Os pontos altos do show foram as músicas “Nada Sei”, que está no CD Ilha em Movimento e “O dia em que faremos contato”, do cantor pernambucano Lenine. No final, houve a participação de J3 na música “Contato”.
Tamy
Tocando simultaneamente à banda Nave, só que no palco Rocksambacongo, foi a atração deste palco que atraiu mais público. No repertório, músicas como “Cidade Sol”, uma homenagem a Vitória, e “Para Gerlindo”. Com um “chega aí negão, vamo fazer uma rapidinha”, chamou Renegrado Jorge ao palco, para participar da música “Não é mole”. No final, a cantora desceu do palco e foi conversar com amigos, enquanto sua banda continuava tocando.
Pé do Lixo
Com repertório que mesclou as músicas novas (como “Vá em paz”, “O mundo” e outras) com as do seu CD de estréia, o Pé do Lixo subiu ao palco Ilha para fazer o melhor show da noite. Mostrando que é possível juntar diversão com conscientização, a banda deu lições de ecologia na música “Plante uma Árvore”, clamou pela união dos povos cantando “América Sob o Sol” e mostrou que o lixo pode ser luxo, por meio da música 100% Reciclado, que estará no 2º CD. Como vem sendo de praxe nos shows do Pé, durante a execução desta música houve um desfile de meninas vestindo trajes feitos com materiais reciclados. Como não poderia deixar de ser, a banda deixou a indefectível “Terra Prometida” para o final, para delírio dos fãs. A performance, a mais linda e empolgante da noite, com destaque todo especial para o vocalista Reginaldo, contou com a participação dos integrantes do Herança Negra. Quem também participou do show foi Jr. Bocca, que deu uma de backing vocal numa das canções apresentadas. Finalizada a apresentação, um rapaz comentava com um amigo: “Caralho, muito foda o show do Pé do Lixo”.
Bacana e o Universo Reciclado
A banda do ex-vocalista do Pé do Lixo começou sua apresentação no palco “Movimento” minutos antes do final do show do Pé, trazendo uma novidade: sua nova formação, estreiada no último dia 07, conta com duas baterias! Empolgado, Bacana só saudou o público com um “Boa Noite” depois da quarta música. Os destaques do show foram o cover de “Eu não sei”, de Zeca Pagodinho, e os já hits “Sintonia” e “Uma força maior”, tocada duas vezes: na primeira vez, participou Alexandre Lima, do Manimal, que compôs a música em parceria com Bacana. Já a segunda execução da canção fechou o show, depois de Bacana apresentar a banda e desejar “um bom 2002 para todos”. Sem papas na língua, o vocalista disse inclusive que, “apesar da falta de organização, o festival está bom prá caralho”.
Marcela Lobo
Apesar de ter feito uma das mais empolgantes apresentações da noite, mesclando composições próprias com músicas de compositores consagrados, Marcela Lobo foi vista por pouquíssimas pessoas. A cantora subiu ao palco acompanhada apenas de um pianista, que cuidava também da programações de bateria. Aproveitando o ressurgimento do Rei Roberto Carlos, a cantora interpretou “As Curvas da Estrada de Santos” numa roupagem completamente nova, transformando a única road-song existencialista da MPB em um “blusão” arrastado. Depois a cantora atacou de “Garganta” (Ana Carolina) e “Pessoa” (de Marina Lima), levadas em versão house, mudando totalmente o clima do show, que começou ligeiramente intimista para terminar dançante.
Crivo
Abriu sua apresentação às 2:30 horas, no palco Movimento, com a forte candidata a hit “Prá consertar o rádio”, que está no CD Ilha em Movimento. As músicas “docinhas”, como “Por ela ou por você”, foram interpretadas com muito sentimento pela vocalista Tatiana Whuo, que aliás, no quesito performance, dentre as cantoras capixabas, só perde para Manuela Bergamin, da Lucy. Não dá prá deixar de citar o figurino: os dois rapazes (Tarcísio, baterista, e Bruno, Baixista), de gravata colorida; e as duas mocinhas, Tati e Matê, com trajes que dão todo um ar de menininhas inocentes. Bem “fofinho”! A banda fechou o bom show, assistido por poucas pessoas, tocando novamente “Prá consertar o rádio”.
Manimal
Começou a tocar no palco Ilha enquanto a apresentação da Crivo estava na metade, num show que marcou o aniversário de seis anos da banda, fundada no dia 22 de dezembro de 1995. Lá pela quarta música, Amaro disse que “é um prazer estar aqui, passando pela primeira vez, no palco, nosso aniversário”. A banda abriu o show com tradicional parte instrumental, seguida do hino “Água de Benzer”. A galera da ilha, claro, pulou muito. Aliás, foi o show em que a galera mais agitou. O que não quer dizer que foi o melhor, principalmente porque esse show do Manimal é basicamente o mesmo há muito tempo, já perdeu o fator surpresa. Nesse quesito, os destaques foram a versão mais lenta de “Encontrei”, segundo Amaro Lima “feita especialmente para esta noite”; o cover de “Sereia”, do Casaca; e o set de congos, comandado pelo percussionista Fábio Carvalho, outro que estava aniversariando no dia. Cantaram até parabéns para ele, que depois ainda pediu a bandeira do ES que uma pessoa da platéia carregava.
Zémaria
O zémaria começou a tocar por volta das 3:30h da madrugada. Quando entrou, a vocalista Sany conclamou: “São mais de 3 horas, quem ficou aqui até agora, por favor, vamos tratar de quebrar tudo”! A banda se apresentou no palco Movimento, provavelmente o local mais apropriado para o Zémaria, porque estava localizado no interior da boate. Logo o grupo impregnou o ambiente de drum n bass e trance misturados com doses cavalares de rock n roll, em músicas que se fundiam umas nas outras, formando mantras sonoros hipnotizantes. Destaque para a música “Vermelha”, cuja versão ao vivo ficou duas vezes maior que a versão dos CDs.
Escaranovos
Tocou paralelamente ao zémaria, no palco Rocksambacongo. Como era uma das bandas que se apresentaram menos conhecidas da galera, acabou sendo vista por poucas pessoas, que reagiram timidamente ao roquinho básico e por vezes dançante da banda.
Lordose
Começou a tocar por volta das 4:30 horas e fez o segundo melhor show do festival. Foi impressionante a animação da galera e até mesmo de alguns jornalistas presentes, que pela lógica, àquela altura do campeonato, deveriam estar em frangalhos. O mesmo não se pode dizer, entretanto, dos seguranças da boate: presenciamos uns dois ou três, literalmente, dormindo em pé! A apresentação teve basicamente o mesmo repertório do show de lançamento do 2º CD do Lordose, com canções da fase da UFES, do 1º e do 2º CD. Nenhuma música em especial se destacou, já que a energia e a animação da galera foi a mesma durante todo o show. Vale registrar apenas a participação de Jr. Bocca nos backing vocals de “Um indivíduo”, segundo Adolfo uma música “fácil, extremamente fácil”. No final, não rolou bolo como no show de lançamento, mas Adolfo pegou uma sacola cheia de papéis não-identificados por nós e distribuiu aos que correram para próximo do palco, dizendo ser os “5 mil reais que ganhamos para fazer esse show”.
Renegrado Jorge
Escalado para fechar o festival, começou por volta das 5:20 horas no palco Rocksambacongo dizendo que “não vai fazer muita diferença, mas vamos fazer um som aqui”. A apresentação, entretanto, não durou nem 10 minutos. Revoltado com a fato de um microfone não funcionar adequadamente, mandou o “filho da p.” que estava cuidando do som tomar naquele lugar. Como o sujeito não resolveu o problema, Renegrado parou o show, aplaudido pelos poucos presentes. Depois disso, ainda fizeram o desaforo de apagar as luzes do palco, enquanto o rapper ainda retirava os instrumentos. Lamentável!