Casaca: ou vai, ou não vai
Iôu! Poisé, máibródis, esse lance de escrever coluna não é fogo de palha não! Cá estou eu de novo, com um pouquinho de atraso, é verdade. Culpa do vestibular, que consumiu meu escasso time nos últimos dias.
Entonces, a bagaça hoje é a seguinte: Casaca. Como boa parte de vocês devem saber, a banda faz neste sábado, dia 02/02, o show que vai marcar sua “estréia nacional”. A apresentação será no Palco Pop do Festival de Verão de Salvador e foi “armada” pelo pessoal da Sony Music, que como todo mundo também já sabe, é a gravadora que contratou os moços da Barra do Jucú. Antes de comentar o contrato da banda com a Sony, que poderá ou não ser a mola propulsora para o sucesso do Casaca no mercado nacional, gostaria de dizer que, prá começo de conversa, um show no Festival de Verão de Salvador está de muito bom tamanho. Tudo bem, o palco em que eles vão se apresentar é uma espécie de Tenda Brasil (aquela do Rock in Rio III), ou seja, não é o principal. Mas mesmo esse palco supostamente secundário não é prá qualquer um: no mesmo dia do show do Casaca, vão tocar neste palco o grande Marcelo Nova, os roqueiros (?) do Superfly e a 2ª melhor (perde do Dead Fish) banda de hardcore melódico do Brasil, o CPM 22, que anda em alta nas rádios rock brasileiras. Subindo ao palco às 20:30 horas, a banda capixaba deve “concorrer” com o final do show do Alexandre Pires e com todo o show do KLB, ambos no palco principal. Penso que, por mais que estes tenham um grande público, muita gente vai preferir ir conferir o que está rolando em outros palcos a assistir um pagodeiro assassino e a três chorões. É aí que Renato Casanova & cia podem se dar bem. Ademais, ainda sobre a apresentação em Salvador, vale lembrar que deve dar para a banda fazer uns bons contatos com a imprensa nacional, o que também já ajuda a abrir algumas portas.
Feito o comentário sobre a estréia nacional do Casaca, vamos ao verdadeiro assunto desta coluna: qual é o tratamento que a Sony Music está dispensando à banda? Quem vive no mundo da lua ainda não deve ter percebido, mas para uma banda fazer sucesso junto ao grande público, não basta ter boa música (isso, por vezes, é até secundário…) ou ter contrato assinado com uma grande gravadora. Tanto é que, mesmo nas grandes gravadoras, para cada artista que faz sucesso, há uns cinco que fracassam. O fazer sucesso ou não depende em boa parte do tratamento que a gravadora dispensa ao artista contratado. Essa ladainha toda escrevo apenas para dizer que conversei com o Alexandre Mignoni, representante da Sony aqui no ES, para saber como a gravadora está tratando o Casaca. Esse bate papo rolou há um bom tempo (final de novembro/2001!), a idéia inicial era fazer uma matéria, mas como fiquei com preguiça, vou aproveitar o depoimento do cara aqui na coluna. Muito do que ele disse na época já está desatualizado, então selecionei o que ainda interessa saber. Com vocês, as palavras de Don Alexandre:
“Até onde eu sei, deu prá perceber que há um entusiasmo muito grande da companhia em cima do Casaca. Por quê? Porque é um produto que se apresenta com um conteúdo, mas ao mesmo tempo é um produto muito fácil. É um produto que pode ser popular, sem ser simples, tem substância. Então eu vejo todos os departamentos da companhia muito empenhados. Sinto que a companhia está cuidando do Casaca com muito carinho, com muito cuidado, não quer errar, sabe que tem um puta produto nas mãos, eu tenho muita certeza que a Sony vai fazer o melhor por eles.”
Prosseguindo no bate-papo com o Alexandre, perguntei de quanto tempo era o contrato do Casaca, no que ele respondeu que “o contrato não é por tempo, é um contrato de cinco discos, que pode ser interrompido”. Depois, ele explicou: “Normalmente, as bandas assinam por três discos. Se um disco não vai bem, pode ser que tenha uma segunda chance, mas se dois discos não foram sucedidos, dificilmente vai ter o terceiro. O Casaca assinou por cinco discos, o que já demonstra que a Sony acredita muito no Casaca.” Depois disso, o cara me disse que, dentro da Sony, a trajetória do Casaca vem sendo muito comparada com a do Skank. Tanto é que a estratégia adotada para o Casaca é a mesma que foi usada para lançar nacionalmente o Skank. Assim como a banda capixaba, os mineiros, no início, tiveram um primeiro disco independente com êxito regional. O que a Sony fez então foi relançar esse independente, dar uma divulgada por baixo, e em seguida botar eles em estúdio, para gravar um segundo disco. O mesmo vai acontecer com o Casaca: um segundo disco da banda deve sair já depois do Carnaval, trazendo provavelmente os maiores hits do primeiro CD, mais algumas inéditas.
Adicionalmente à firmeza que deu prá sentir depois desse depoimento, queria fazer três considerações: 1) o mercado pop nacional, atualmente, anda sem novas caras. Com um som diferente, a banda capixaba tem boas chances de se configurar na nova cara do pop brasileiro; 2) Esse segundo disco do Casaca, se reunir mesmo os hits do primeiro e juntar as melhores inéditas que os caras têm, certamente vai ser uma espécie de super disco de música pop, como foi o segundo do Skank, o “Calango”, que teve pelo menos uns 6 hits de rádio. 3) A aceitação da banda fora do ES, que no início eu achava que não poderia ser tão grande como aqui no estado, vem sendo boa. Os poucos veículos da imprensa nacional que já citaram o Casaca foram unânimes em atestar a potencial pop da banda. O mesmo vale para os muitos internautas de outros estados que visitam o Central da Música e baixam as músicas da banda.
Mas como não estamos no país das maravilhas, nem tudo são flores: a meu ver, o que mais pode atrapalhar a banda no mercado nacional é o bairrismo. Esse papo de “viva o congo, viva a barra do jucú, viva o Espírito Santo” é muito bonito aqui no estado e dá um puta orgulho prá gente. Eu mesmo já cheguei a ficar arrepiado em shows com toda essa atmosfera de ufanismo. Mas fora das nossas pequenas fronteiras, mermão, o papo é outro. Nego tá cagando e andando prá isso, e pode até mesmo sentir uma certa repulsa. E há até quem levante a hipótese um tanto radical de que, fora do ES, falar de Barrão, Jacarenema, Morro da Concha, etc vai soar sem sentido. Bobagem, acho, já que, se o público brasileiro se interessar pelo Casaca, dificilmente será por suas letras (que prá mim e prá muita gente nada têm de extraordinárias), mas por sua incrível sonoridade.
Conclusão final: mesmo tendo essa limitação do bairrismo e não sendo uma banda de grandes compositores, acho que o Casaca deve sim entrar para o rol das bandas que fizeram sucesso numa grande gravadora, afinal, de acordo com o próprio Alexandre, trata-se de “um produto muito fácil, que pode ser popular”. Então, para os que torcem pela banda e pela cena capixaba, o que resta é esperar que o show em Salvador seja produtivo e que os acontecimentos sigam a ordem natural das coisas. E que “uma força maior” esteja com Renato, Jura, Piriquito, Márcio, Vinícius, Magrizan, Jean, Flavinho e Thiago.
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Mais do mesmo, sobre o Casaca
+ Contraponto: Não vou discordar do Alexandre, que disse haver um grande entusiasmo em torno do Casaca dentro da Sony, mas quero fazer apenas um questionamento: por que a gravadora ainda não anunciou para a mídia nacional a contratação da banda, ocorrida há mais de quatro meses? Por conta do Central da Música, recebo aqui em meu email os boletins que o depto. de imprensa da gravadora envia para veículos de todo o país. Lembro-me que, quando eles contrataram uma banda baiana chamada Lampirônicos, esse boletim anunciava alguma coisa relativa à banda praticamente a toda semana. Fiquei até muito curioso para conhecer o grupo, como deve ter acontecido com jornalistas de todo o Brasil. No mesmo boletim, só agora nesta semana, foi dito que a Sony contratou “a capixaba Casaca”. E nem era uma “notinha” só sobre a banda, escreveram isso no final de uma notinha sobre os artistas da Sony que estão participando do Festival de Verão de Salvador. Eu hein!
+ Bate na madeira: lendo uma entrevista e conversando com o Serjão Nascimento (Lordose e Rock por Essas Bandas), saíram umas considerações interessantes. Para ele, “a mídia capixaba de uma forma geral tem que parar de carregar nos ombros do Casaca a responsabilidade de todo um movimento. Não devemos apostar todas as fichas em apenas uma banda, temos um cardápio inacreditável e uma decepção com o Casaca (bate na madeira!) pode abalar tudo o que conquistamos até aqui”. Concordo e assino embaixo.
+ Carlinhos Brown nããããooooo!: há uns dois ou três domingos, em entrevista a um jornal que vocês sabem qual, o Renato Casanova disse que a Sony iria escolher entre Liminha, Carlinhos Brown e Paulo Rafael o produtor do segundo CD do Casaca. Quando li isso, esbugalhei os olhos e pensei: Carlinhos Brown, nããããooooo! Explico: na boa, essa caricatura baiana há muito perdeu o tino para fazer música pop. Com exceção da brega “Amor, I Love You” (Marisa Monte), não me lembro de nenhuma música feita ou produzida pelo Brown recentemente que fez sucesso. Os discos do cara e sua carreira solo, aliás, são a maior prova disso. Com aquelas palavras de quem se acha um gênio, o “Filho de Ogum” (foi assim que ele se definiu antes de tomar aquelas garrafadas históricas no Rock in Rio III), o cara conseguiu bater o recorde negativo de público numa grande casa de shows em São Paulo: apenas 20 testemunhas compareceram a uma recente apresentação dele na terra da garoa, mesmo com a divulgação maciça nos jornais de lá. Rizível. Além da antipatia que eu – e muita gente – nutre pelo sr. Brown, ainda existe uma tal de “Maldição Carlinhos Brown”. É isso mesmo, hehehe: há um site na internet que diz que Brown é do mal: quem gravou discos ou se envolveu com ele, se deu mal. Há evidências: leia, primeiro, o texto que há em http://www.ivanmarqx.hpg.com.br/carlinhosbrown1.htm. Depois, veja o em http://www.ivanmarqx.hpg.com.br/carlinhosbrown2.htm. É, no mínimo, engraçado e surpreendente. Chegaram até a prever o acidente com o Herbert Vianna, dos Paralamas…
+ Vai ser o Paulo Rafael: antes que o leitor que levar a sério a “Maldição do Carlinhos Brown” fique preocupado, começando a temer pelo futuro do Casaca, um tranquilizador. Segundo o Alexandre Mignoni, que você já sabe quem é, a produção do segundo disco do Casaca estará por conta do Paulo Rafael, que se não me engano, toca na banda do Alceu Valença e já produziu muita gente boa. Melhor assim!
+ Bye bye, porquinho: não queria ser o primeiro chato a comentar isso, mas a realidade é dura. Comprar discos de bandas capixabas baratinhos, na faixa dos 12 paus, é um privilégio que deve acabar, pelo menos no caso do Casaca. O primeiro disco da banda, já levando o selo da Sony, ainda pode ser encontrado nas lojas por esse preço, mas só porque a gravadora bancou apenas uma nova prensagem do álbum. Agora, o segundo álbum, com todos os custos de produção, marketing, etc, deverá ser vendido na mesma faixa “extorsiva” de R$ 20,00, que é o preço que cobram por um disco de artistas de grandes gravadoras. E outra: essa moleza do Central da Música Capixaba de conseguir disponibilizar MP3s legalmente, com autorização das bandas, também acabou no caso do Casaca. Moral da estória: se pelo lado do coração de fã é bacana a sua banda predileta estar numa grande gravadora, pelo lado do bolso, a coisa muda de lado. E aí, vão continuar torcendo para outras bandas capixabas assinarem com grandes gravadoras? :o)
+ até em Dororéu do Rio Pretéu: fui passar o Natal em Dores do Rio Preto, município da região sul do ES, lá na Serra do Caparaó (Pico da Bandeira). Como não havia nada prá fazer, passei a tarde do dia 25 sentado numa calçada da pacata cidade. Em certo momento, um desses babacas que gostam de chamar a atenção ligou o som do seu carro na maior altura, no “centro” da cidade, e botou prá tocar um CD do… Casaca! Fiquei surpreso e fui perguntar a uma prima se ela conhecia aquelas músicas. “Toca direto na rádio daqui”, me respondeu. Prá quem ainda duvidava, taí a prova de que o ES foi realmente conquistado pelo Casaca, de leste a oeste, de norte a sul. E olha que a onda não é a dança da galinha azul :o)
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Prá não dizer que só falei dos tambores
+ No topo das paradas: na última quinta, quando peguei o Caderno 2 prá ler a seção de discos, fiquei feliz ao me deparar com o ranking dos dez discos mais vendidos na Laser Discos. Por quê? Ele fala por si só: 1º – “No Tambor, na Casaca, na Guitarra”, Casaca; 2º – “Os Dias”, Salvação; 3º – “Macucos”, Idem; 6º – “Essiédubão”, Rastaclone; Se a ficha não caiu, saiba que fiquei feliz por ver quatro bandas capixabas entre as mais vendidas no estado, a frente de artistas nacionais e internacionais. Aliás, aproveito a deixa e parabenizo o pessoal da Laser. Creio que essas posições se devem, em grande parte, ao maior destaque que a Laser está dando aos discos das bandas locais. Quem passar em frente a alguma loja da rede vai ver pelo menos uns seis discos de bandas capixabas na vitrine.
+ A próxima vítima: ainda no bate-papo com o Alexandre Mignoni, foi-me dito que a Sony Music estaria negociando com outras bandas capixabas também. “Não quero citar nomes prá prejudicar alguma negociação, mas eu posso te dizer que já existe sim. Não resta nenhuma dúvida de que a Sony é a gravadora mais próxima da cena local. O Bruno Batista, que é o coordenador artístico, já esteve no estado oito vezes, ele abraçou a cena e sente que o ES tem tudo prá ser a grande novidade no cenário musical brasileiro”. Apesar de dar uma de sabão neste dia, como é comum no mundo dos bussines, o Alexandre soltou dias depois, no show do Casaca no Álvares, que “o menino do Macucos é muito bom, é a próxima vítima”, se referindo ao vocalista Fred. O mesmo também já me disse que o Manimal quase assinou com a Sony na época do lançamento de seu segundo disco. Edu Louzada, empresário da banda, também já me contou que o Manimal continua sendo assediado por gravadoras. Duas, pelo menos.
+ O sósia do Billy Corgan: um maluco aparentemente gente-fina, depois de ler a primeira edição desta coluna, me mandou um email perguntando se eu pego a linha de ônibus 124 (sim, sometimes!) e dizendo outras cositas. Até aí tudo bem. Achei graça quando o cara fez o seguinte comentário: “É pq eu sempre via um cara parecido com vc e achava igualzinho ao vocalista do Smashing Pumpkins!”. Manjam que é o vocalista? Billy Corgan, o carecão. Disse isso a uns amigos e eles acham que, se fizer um pouquinho de força, o brother do email tem razão. Eu não acho! Sou muito mais charmoso que o Billy…
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Acabou-ou-ou-ou, aa-caa-bou!
Preciso parar com essa mania de escrever textos longos. Será que alguém teve paciência de ler até o final? De qualquer forma, até a próxima. E lembrando que elogios e xingamentos podem ser despachados para o email diegoms@escelsanet.com.br. Abraço pros mano, beijo prá mina!