Blog: considerações sobre o Miseravão
Conforme prometido, vou tecer aqui algumas considerações sobre o Miseravão, que tinha tudo para ser o “Dia D 2002 que deu certo”, tamanha a quantidade de bandas capixabas, mas que acabou mesmo sendo uma espécie de “Dia D 2002 – Parte II”. Duas tristes coincidências entre os eventos:
1ª) a programação do palco “Rock por Essas Bandas”, do Miseravão, assim como a do “Palco das Artes”, do Dia D, atrasou quatro horas por conta da queima de um gerador. No primeiro festival, o problema aconteceu antes do show do Dead Fish. No segundo, durante! Os caras do DF, aliás, deviam dar uma passada num terreiro pra uma sessão de descarrego, porque a uruca está feia pra cima deles (há duas semanas, num festival que rolou em Minas, a banda enfrentou o mesmo problema! E teve que esperar 9 horas pra tocar…).
2ª) O público que compareceu a esta edição do Miseravão foi menor, em relação a edição anterior. Assim como no Dia D 2002. Não tenho os números oficiais, mas é certo que não havia 9 mil cabeças (público do ano passado) por lá. No caso do Miseravão, talvez pelo fato do espaço lá na UFES ser bem menor que a Praça do Papa, não ficou aquela sensação de vazio e frustração que tivemos no Dia D.
Como adorador do estilo popularizado por Elvis Presley (momento nada a ver: saca a frase bacana que a gravadora BMG anda usando para divulgar a coletânea com 30 hits do chamado rei do rock: “Antes que alguém fizesse algo, Elvis fez tudo”), só vi mesmo, entre papos com amigos, as atrações do palco Rock por Essas Bandas. Nem entrei na tenda onde estava rolando forró; e do palco reggae, só vi que o Salvação se apresentou sem o vocalista Rodrigo CX (que, depois fiquei sabendo, operou de apendicite na sexta-feira). Quem assumiu os vocais, bem razoavelmente (com muita boa vontade…), foi o guitarrista Paulão. Vi também que Chocolate, vocalista do Java Roots, deu uma força aos caras cantando “Altas Ondas Astrais”. Parece que o show teve outras participações…
No palco rock, além do problema com o gerador, o som em si estava bem pior que nos outros palcos, rolando várias falhas, até mesmo nos microfones, durante as apresentações da bandas. Foi bacana ver:
- Rodrigo Lima (vocal do Dead Fish), reclamando da “desorganização da organização”. E o cara ainda atiçou o público: “isso (o atraso) é uma falta de respeito com vocês, acho que vocês deveriam protestar”. Já Adolfo Oleari, do Lordose, foi mais bacana ainda: falou que estava tudo uma merda e no final do show agradeceu ao cara que estava cuidando do som.
- O Mukeka di Rato cantando “Deturpação Divina”, às quatro da tarde, enquanto alguns corriam batendo na cabeça pela área do evento, que sofreu um pequeno ataque de abelhas (hehehe, foi hilário!)
- O show do Dead Fish! Pô, acho que sou o maior baba-ovo dos caras, mas eles são bons mesmo. Rolou música nova, que vai estar no próximo CD deles (previsto para novembro), e até uma bandeira da Palestina (show do DF sem um momento político não é show do DF!). No final, Rodrigo teve um momento Renato Russo. Vendo a animação da galera, saiu-se com essa: “Não tem ninguém aí com a canela inchada não, né? Vocês estão se acabando, hein! Nós somos… uma banda sensível. Gostamos de homens e mulheres”.
- O cover dos Símios de “In The End”, do Linkin Park. Eu não gosto da música (nem do Linkin), mas ficou maneiro, principalmente porque o rapper J3 participou, mandando um rap de fundo, em português. Os Símios, aliás, foram os recordistas de covers da noite (minto, a banda The Rover, que só toca covers, foi a recordista): estragaram a já não tão empolgante “By The Way” (Red Hot Chili Peppers), e não comprometeram com “Killing in The Name” (RATM);
- O show do Lordose. Os caras estavam “com a macaca”. Como nos vários shows deles que vi ultimamente, aliás. Distribuiram o cachê para o público (“porque aqui só tem miserável”, gritou Serjão), fizeram campanha presidencial (“o Lula é uma aposta melhor”, disse Adolfo), declararam que não tocam por dinheiro (“senão vocês estavam fudidos”, explicou Zen Renato) e também mandaram covers de Camisa de Vênus (“Sílvia”), Ramones (e todo mundo cantou junto “Hey Ho, Lets Go”), Raimundos (“Eu quero ver o oco”), Zé Ramalho (“Freve Mulher”) e até Cidinho e Doca (“Rap do Silva”, que foi recebida por alguns punks com o dedo médio levantado).
- A barriga de cerveja do vocalista Mao, do Garotos Podres. O cara tá mais pra “Seu Boneco” que pra vocalista de banda de punk rock. Mas o show da atração paulista foi o máximo. O redemoinho de poeira que a galera levantou em frente ao palco também foi bacaníssimo. Nego saiu do meio da rodinha amarelinho da Silva. Ah sim: confesso que nunca tinha ouvido nada dos caras, mas antes mesmo do show comprei o CD “Live in Rio” por 10 paus na banquinha da Lona Records. Ouvi o CD umas cinco vezes de ontem pra hoje e, por sinal, o show apresentado no Miseravão foi exatamente igual (incluindo as falas entre as músicas).
Depois dos Garotos Podres, piquei a mula (ou “dei um vazari”, como preferem alguns). Ou seja: fiquei sem ver Lucy, Nave, Siecrist e Pé do Lixo. Já eram 2:30 da madruga, cheguei a UFES por volta das 16:00 horas. As pernas não estavam em boas condições e eu estava prestes a dar umas “pescadas” em pé. O bom guerreiro é aquele que sabe a hora de se retirar da batalha…
Ps.: Dessa vez vamos ficar devendo fotos do evento. Ninguém precisava saber disso, mas como o site (e o dono dele) é sincero, o que rolou foi que houve um desencontro entre este que vos escreve mais a adorável mocinha que faria as fotos e a que nos entregaria a câmera na porta do evento. Faiô, como dizia Didi!