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A missa que acabou em pancadaria

   Era o Festival de Jacaraípe, em 1982. Aproximadamente às 05:00 h da manhã, o Padre acordou todo mundo com sua voz estrondosa, porque ia rezar uma missa. O Padre era um sujeito que estava em todos os festivais em que a gente ia. Alto, dono de uma voz de trovão, era uma figura marcante. Lembro-me de um carnaval em Conceição da Barra em que encontrei um colega que me contou estar achando boa a folia, exceto pelo fato de que todo dia era acordado às 06:00 h da manhã por um sujeito rezando missa. Claro, era o Padre!


   Pois bem, neste festival de música em Jacaraípe, em plena 05:00 h da manhã, o Padre acordou todo o acampamento à beira da lagoa com as seguintes palavras: “Irmãos, acordem, vamos rezar! Vamos pedir a Deus para nos livrar do fogo do inferno!” e coisas do gênero.


   Mandou todos se ajoelharem e começou a fazer sua pregação. Foi então que um indivíduo falou: “Você me acordou e eu não gostei. Agora nós vamos acertar as contas.”


   Todo mundo ficou preocupado, mas logo deu para ver que o sujeito estava completamente bêbado, e mal se aguentava em pé. Como o Padre também não estava lá muito bem das pernas, aguardamos para ver no que ia dar. O Padre, aos gritos de “Infiel, herege” etc, tentou dar um murro no sujeito que reclamava. Errou, é claro, mas com a força do movimento, caiu no chão e lá ficou.


   O reclamão, então, ajeitou a cabeça do Padre no chão, como se fosse uma bola de futebol, tomou distância e veio correndo como se fosse bater uma falta. Tropeçou no meio do caminho, caiu e no chão ficou. Como nenhum dos dois se levantava, vimos que a festa acabou e fomos tentar dormir de novo.


   A última vez em que vi o Padre foi em 1986/1987, vendendo sanduíches num trailler na Rua da Lama, em Jardim da Penha. Tive o prazer de apresentá-lo à minha mulher que, como sempre, tentou entender minhas amizades. Nunca mais o vi, mas caso ainda esteja por aí, Padre, aí vai: “Aleluia Irmão!”.

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