Zémaria: alegria e música eletrônica versátil
“Eles representam o novo pop brasileiro”. A frase, que se refere ao grupo capixaba Zémaria, é do gaúcho Carlos Eduardo Miranda, diretor artístico da gravadora Trama e “musicófilo” dos mais respeitados no país.
Com essa credencial (e algumas outras – gente como o Fábio Massari e Gastão Moreira também aprovam), a improvável banda de Vitória desembarca amanhã em São Paulo para alguns shows e para divulgar seu disco de estréia, também intitulado Zémaria.
Esta é a terceira vez que a banda vai ao maior centro urbano do país. Nas duas anteriores, conquistou contatos, fez mais shows do que o previsto, foi convidada para se apresentar no programa Musikaos e ganhou do jornal Folha de São Paulo o rótulo de “revelação da música pop nacional”.
Dessa vez, com o disco finalmente pronto, a banda tem três apresentações previamente marcadas e entrevistas agendadas na MTV, TV Cultura e rádio 89 FM. Abaixo o MúsicaNews, que acompanha a trajetória do Zémaria em sua cidade de origem, publica duas críticas do disco de estréia da banda: a primeira feita pelo colunista Adriano Claret, que ouviu a banda pela primeira vez há poucos dias. A segunda pelo colaborador Marcos Sacramento, de olho no Zémaria desde o surgimento deles em Vitória.
Antes, porém, a agenda de shows do grupo em São Paulo, para os interessados:
30/08 – Blen Blen (SP)
31/08 – Feira da Benedito Calisto (SP)
04/09 – Moai Lounge (SP)
Zémaria: alegria!
A discussão travada no “drum´n´bras” é a mesma de outras cenas musicais: deve-se injetar brasilidade nas composições ou simplesmente botar as idéias em prática menos qualquer resquício banquinho-e-violão?
Zémaria prefere incluir a música de Tom Jobim e Cartola nas faixas de seu álbum homônimo. Inevitavelmente, irão dizer que é mpb para gringo ouvir. Mas, falar isso é cair na esparrela de incluir todos no mesmo saco.
O sexteto de Vitória (ES) privilegia a música dançante antes de descer a ladeira. O grupo se lança bem na eletrônica. Maduro, destina samplers e sintetizadores à causa das pistas.
“Iá!?” é d´n´b acelerador cardíaco. Um sintetizador no início parece aguardar as baterias carregarem. Normalizados os padrões de energia, solta-se a bomba. O terror, no bom sentido, é ouvido quando o refrão explode.
“Vermelha” tem bela harmonia. Fica distante do bafafá subdesenvolvido. “Jardim Camburi” junta numa fornada bossa nova, DJ Patife e Chico Science. “Tá Tudo Esquematizado” põe bpm e ruídos sincronizados a uma voz radiofônica.
A produção ainda não é para gringo ver. Este é um ponto a ser ajustado no próximo disco. Mas o caminho é este: o da alegria.
Zémaria: Música eletrônica versátil
Não há dúvida de que José e Maria são os nomes brasileiros mais comuns. Também não há a mínima dúvida de que eles sugerem humildade e resignação. São nomes que parecem pedir um complemento para soarem mais fortes, imponentes. Zémaria, disco de estréia da banda homônima, contrasta radicalmente com as características sugeridas pelas alcunhas dos pais de Jesus Cristo. O álbum é contemporâneo, sofisticado, globalizado. É música eletrônica versátil, que serve tanto para dançar quanto para ouvir em momentos de distração.
Os arranjos modernos, ricos em texturas psicodélicas, destoam do laconismo das letras, que muitas vezes surgem como meros acessórios ao som do grupo. Os 22 caracteres que compõem os versos de “Alegria”, primeira música do disco, deixam claro que a intenção da banda é comunicar por meio dos timbres sintéticos, oferecendo, dessa forma, múltiplas possibilidades interpretativas ao público.
Isso não quer dizer que o disco seja repleto de canções maçantes, tipo bate-estaca. Zémaria é eletrônico, mas não é um disco produzido exclusivamente em computador. Tem baixo, guitarra e bateria tocados normalmente. Prova disso é o road-song urbano “Jardim Camburi”, com baixo galopante e nuances de bossa nova, estilo presente também em “Do Limite ao Tempo”. Essa música, inclusive, tem a participação do violonista Nelsinho, do grupo de choro Carne de Gato.
“Mariola”, por causa de sua letra, também tem ares de road-song: “eu fui a Nova Almeida mas não sei voltar de lá, minha casa ficou na lembrança, minha casa é todo lugar”. Diferente de “Jardim Camburi”, “Mariola” é mais selvagem, incorporando batidas tribais e guitarras distorcidas.
A música seguinte, AM, chama a atenção pelo formato pop, enquanto “Tá tudo esquematizado” mistura guitarra surf music, BPMs aceleradas e samples de tambores de congo.
Os momentos mais viajantes ficam por conta de “Vermelha” (essa tem até videoclipe), “Há de estar” e “Um som na sala”, cuja letra cita a proposta do Zémaria: “uma nota, um loop, não é nada demais (…) ouça o sol rachar, quem me dera samplear a cor do som, só um dia”.
O disco atinge o clímax na última faixa, “Prece muda”. Com aproximadamente 10 minutos de duração, começa arrastada e depois ganha fôlego com os samples da bateria da escola de samba Unidos de Jucutuquara.
Mais informações
Maiores informações sobre os shows da banda em São Paulo podem ser obtidas através dos telefones 0xx27 9251.0901 / 9921.9298. O site oficial do Zémaria fica em www.zemaria.art.br e disponibiliza três canções para download em MP3. Já o disco da banda pode ser adquirido por R$ 12,00 no site da Lona Records. Clique aqui para acessar.