Wilson Simoninha: Toda a versatilidade de um brasileiro
Um show marcado pelo pluralismo. Assim foi a apresentação do cantor, produtor e instrumentista Wilson Simoninha, realizada em Vitória, ES, no último dia 09. Para um público razoável e de diferentes faixas etárias, o músico, que falou para Central da Música no dia anterior, demonstrou total entrega no palco.
Adepto de estilos musicais que se caracterizam por fusões de estilos, tem influência marcante no Negro Spiritual e nos covers, que executa com a destreza de quem conhece os compositores. Filho de “peixe”, Simoninha conviveu desde muito cedo com o “backstage”, numa época em que se descobriam figuras históricas como Tim Maia e Jair Rodrigues.
De Tim, executou “Você”, e o público se empolgou. O rei do soul brasileiro foi lembrado a altura. Além de “Você”, houveram outros covers, leves, divertidos e bem trabalhados. Dessa atmosfera alto astral Simoninha tirou proveito: dançou muito, sorriu todo o tempo e cantou, com ares de festa.
“Quando estou no palco procuro ser o mais profissional possível. Me entrego muito e não acho que tenho o direito de estragar o prazer do público por essa ou aquela razão pessoal”. Para exemplificar sua relação de enorme respeito com o público, cita até um exemplo:
“Numa ocasião fui fazer um show e, no meio dele havia uma homenagem ao meu pai, um telão com imagens dele, que deveria aparecer no meio do show. Aí eu virei e anunciei: Com vocês, Wilson Simonal… E nada… tentamos uma, duas, três vezes e nada. Era um momento muito sério pra mim, meu pai tinha falecido a pouco tempo. No início fiquei chateado, até porque aquilo havia sido super ensaiado. Mas aí parei e pensei que não tinha o direito de atrapalhar o diversão de toda a platéia por causa de um sentimento meu. No final o telão funcionou e morremos de rir”.
Ainda sobre o pai, conta que a maior lição que o grande mestre o deixou foi a certeza de que a vida é feita de altos e baixos.
Um dos maiores nomes da música popular nacional, Wilson Simonal criou no país um gênero musical conhecido como pilantragem, músicas de arranjos dançantes e letras bem-humoradas. Em “Sambaland Club”, atual trabalho de seu filho, a pilantragem não é o estilo predominante. Encontram-se influências de funk e do sambajazz, que ele não considera tão tradicional assim, além da já mencionada influência do Negro Spiritual norte-americano, que segundo ele próprio não tem nada a ver com religião: “Como a maioria dos brasileiros, eu sou uma pessoa de fé, mas a questão musical tem mais a ver com som que com isso em si”.
Simoninha também é taxativo ao afirmar que toca o que gosta e não sofre nenhum tipo de influência de gravadora ou mercado. “Hoje em dia há uma grande confusão entre arte e produto. O Brasil tem uma diversidade artística incrível, uma enorme gama de estilos, mas o que acontece é que, por inúmeros motivos, muitos artistas param de produzir o que gostariam para fazerem o que acham que devem. É uma pena, porque muita coisa boa se perde aí”.
E “nesse balanço mercadológico”, Wilson, que trabalhou como produtor, compositor e arranjador desde sempre, só conseguiu entregar sua primeira demo em gravadora em 87, tendo o primeiro CD sido lançado em 1995, pela Trama, casa atual. Juntamente com a seleta trupe considerada “a nova cara da MPB”, gravou o projeto “Artistas Reunidos”, que os tornou conhecidos, mas que não virou show:
“Foi até interessante… gravamos um CD que nunca realmente trabalhamos… é que nós (ele, Luciana Mello, Jairzinho Oliveira, Max de Castro e Pedro Mariano) sempre convivemos, sempre rolaram participações nos trabalhos uns dos outros. Gravar foi um sonho, mas como todos estavam trabalhando em seus respectivos projetos solo, não saímos em excursão. Além do mais houve aquele medo de que achassem que éramos uma banda, como tende a acontecer”.
Os amigos de infância mencionados acima trabalham com experimentos musicais, e embora unidos pela marcante influência “MPBística”, apresentam estilos bem diferentes entre si. O próprio, é um admirador da música brasileira, e acha que, independente do estilo, se voltar os olhos para dentro, dá certo: “O drum n bass, o hip hop e outros estilos ficaram mais fortes depois que passaram a olhar pra dentro…”, finaliza.
Fotos do show (por Fabrício Zuculoto)