Sana Inside » 'Green Rock: Woodstock à brasileira em Minas Gerais'

Green Rock: Woodstock à brasileira em Minas Gerais

   A pacata cidade mineira de Palma, com apenas 8 mil habitantes, transformou-se na capital nacional do rock durante os dias 30 e 31 de agosto.  Milhares de pessoas vindas de todas as partes do país curtiram os shows de Sepultura, Raimundos, Ira!, Tianastácia e Nação Zumbi, além de mais de 20 bandas independentes, todas selecionadas pela produção. No local do evento, uma fazenda com mais de 40 mil metros quadrados, foi montada uma grande estrutura com 3 palcos, camping, banheiros, restaurantes, pista de skate e posto de atendimento médico.


   Além dos shows, o público presente podia comprar CD´s e camisetas de bandas, fazer tatuagem ou colocar piercing (com o capixaba Fred), ver exposição de quadros que retratam grande artistas da história do rock e dezenas de capas de discos de vinil raros. Quando os shows não estavam rolando, a tenda que abrigava estas opções ficava cheia de curiosos e admiradores.


   Dezenas de bandas independentes tiveram a oportunidade de se apresentar para um público grande, vindo de diversas cidades da região sudeste. Uma falha na organização fez com que várias dessas bandas só subissem ao palco várias horas depois do previsto. Mesmo assim elas mostraram porque estavam ali e botaram todo mundo para dançar, seja na tenda ou no segundo palco, do mesmo tamanho e ao lado do principal. Entre os destaques, Projeto 50 (PB), Leela (RJ), Magos de Id (MG), Bia Grabois (RJ), Inverso (MG) e S.P.I.T (MG).


   Representando o Espírito Santo, duas bandas: Dead Fish e Pé-do-Lixo, provando que é possível sobreviver de música e conquistar um público fiel mesmo no mercado independente. As duas levaram na bagagem seus novos Cds para serem vendidos na barraquinha da Lona Records, juntamente com camisas e adesivos, itens fundamentais para divulgação no meio alternativo.


   No domingo, dia dos capixabas tocarem, era comum ver fãs de outros estados usando camisas e pedindo autógrafos. Entre eles o músico Rafel Faé, da banda brasiliense Bois de Gerião: “O Dead Fish foi a banda que me chamou atenção. Tocamos com eles na casa de shows Ballroom, no Rio, e fiquei impressionado com o número de pessoas que sabiam cantar as músicas. Sem dúvida alguma eles são uma das maiores bandas independentes do Brasil”.


   No primeiro dia do Green Rock as principais atrações eram os mineiros do Tianastácia e os paulistas do Ira!. Com vocais divididos entre Podé e Maurinho Nastácia, o Tianastácia fez um show perfeito, levantando o público presente e mostrando muito rock de qualidade, seja com baladas cheias de violões ou com músicas pesadas como o cover da banda Rage Against the Machine.


   Representantes dos anos 80, mas cheios de vigor, o Ira! é uma das poucas bandas que não parou no tempo nem precisou fazer álbum acústico para reativar a carreira. No show, a banda mostrou músicas de seu último disco, “Entre Seus Rins”, alguns sucessos e finalizou com uma seqüência de covers que incluíam Jimi Hendrix, The Clash e outros.


   No sábado, o baterista do Raimundos, Fred, aproveitou a tarde antes do show para conhecer o local.  “A gente já tocou num festival parecido com esse, na Espanha. Tanto aqui quanto lá fiz o mesmo ritual, logo que cheguei dei uma volta, falei com a galera do camping, tomei uma cerveja. Eu gosto disso, é um festival, você fica mais livre”, contou Fred.


   A banda brasileira de maior sucesso no exterior, o Sepultura, era sem dúvida, a atração principal do Greenrock e até por isso foi escalada para o último dia.  Na estrada desde 1984, eles estão finalizando um disco só de covers,  onde regravaram de U2 à Public Enemy. O show, por volta de 1 hora da madrugada, foi simplesmente arrasador. A multidão cantava cada refrão em coro, liderada pelo vocalista Derreck Green, que vestia uma camisa do Brasil onde lia-se atrás Sepulnation (Nação Sepultura). Derreck assumiu os vocais em 1999, após uma conturbada saída de Max Cavalera. Pela empolgação dos fãs, Max não deixou saudades.


   Quem foi ao Green Rock com certeza não se arrependeu. Do ponto de vista negativo, apenas os atrasos com as bandas independentes. A organização do evento precisa rever com bastante atenção estas questões, afinal de contas estas bandas também merecem todo o respeito e foram parte fundamental de todo o espetáculo. No mais os shows foram irados, nenhuma briga aconteceu nos dois dias e a cerveja estava gelada. Resta aguardar pela próxima edição…que venha o segundo o Green Rock.
 
Trechos de Entrevistas
 
   Nos bastidores, antes ou depois dos shows, conversamos com várias das bandas que fizeram do Green Rock um festival inesquecível para todos aqueles sortudos que estavam por lá. Foram dois dias com algumas das maiores bandas de rock do Brasil.


“Quem precisa se preocupar com a pirataria são as gravadoras. Os musicos são como escravos delas, ganham dinheiro mesmo é com shows e merchandising. Lógico que eles (músicos) também querem ter o seu direito garantido, mas a contribuição por cada CD é muito pequena. Talvez a pirataria sirva para eles repensarem o preço a que estão sendo vendidos os Cds.”


“Não tem muita banda nova que tô gostando aqui no Brasil, há muito tempo não vejo nada que me chame atenção. Eu ouço falar do Dead Fish, que vai tocar aqui. Espero ver o show deles para, quem sabe, mudar de opinião.”
Igor Cavalera, baterista do Sepultura, sobre piratarias e novas bandas.


“Eu tenho uma ligação muito forte com o Espírito Santo, minha avó e alguns tios moram em Vitória mas, infelizmente, tocamos poucas vezes por lá. O nosso último show foi no Circuito Banco do Brasil no final de 2001, junto com a banda Pé-do-Lixo. Fiquei muito impressionado com o som deles. É importante que no Brasil outros pólos musicais apareçam.”


“Estou preparando um novo trabalho solo, que deve contar com muitas participações (…) Queria muito gravar uma música do Sérgio Sampaio. Há pouco tempo comprei um de seus primeiros discos, relançado em CD. Ele escreveu aquela música, Filme de Terror, gosto muito.”
Nasi, vocalista do Ira!, sobre suas raízes no ES e novos trabalhos.


Divulgando seu novo CD, o Pé-do-Lixo, juntamente com a galera da Lona Records, esteve no Green Rock escalado para tocar no sábado.  Neste novo trabalho, a banda regrava sucessos dos dois primeiros discos, desta vez com os vocais de Reginaldo e alguns novos arranjos.  Na mala, muitos CDs e camisetas, umas das ferramentas para quem corre atrás, ao invés de esperar a ajuda de gravadoras. O baterista Cid Travaglia falou sobre a participação no festival:


“Foi mais um evento que participamos fora do estado. É muito positivo porque somos muito bem recebidos,  mostramos a cara da música capixaba e nacional que ainda é nova para muita gente. As pessoas estão curiosas  com o Espírito Santo. Outros ficam surpresos  de saber que em Vitória a cena musical está tão expressiva. Também recolhemos e-mails de pessoas de vários estados. Daqui pra frente eles vão receber noticias nossas toda semana”
Cidinho, que toca no Pé-do-Lixo, organiza festivais e é diretor artístico da Lona Records


Revistas, rádios e programas de TV de todo o país foram fazer a cobertura do Green Rock. O correspondente Anderson Araújo, da Radio Cidade de Vila Velha aproveitou a oportunidade para gravar entrevistas e depoimentos, que serão utilizadas na programação.


“A minha  melhor surpresa foi ver o reconhecimento da música capixaba fora de nossas terras. Dead Fish, Pé do Lixo, Muqueca de Rato, Rastaclone, Casaca e outras foram citadas pela galera. Até Igor Cavalera estava ansioso para assistir o show do Dead Fish.”
Anderson entrevista Andréas Kisser, do Sepultura


Algumas fotos do evento



Platéia vibra com o os tambores da Nação Zumbi, diretamente de Recife, no primeiro dia do evento


A tarde, algumas pessoas já circulavam na fazenda. Alguns observavam as passagens de som das bandas que viriam a se apresentar horas depois



Usando tambores de maracatu e fazendo uma fusão com o rock/pop a Nação Zumbi, inicialmente sob o comando de Chico Science, levou o mangue beat para o mundo



Digão: 100% adaptado ao vocal principal





Canisso marcado na pele com os Raimundos



Andreas Kisser: “No começo a gente era meio radical. Agora estamos de ouvidos abertos a tudo que é bom”



Representante de Minas Gerais, o Tianastácia agitou o primeiro dia do festival. O set list dos mineiros revela surpresas: covers de Planet Hemp, Nirvana e Rage Against



Nasi, no show do Ira!

© 2008 Powered by WordPress