•
Ed Motta em retrato pop

Por isso, estão à disposição violão e teclado no “pocket show” que a gravadora Trama promoveu quarta-feira, 28 de maio. Se o músico está em casa, compõe nas notas firmes do teclado. “Já está tudo ali.” Na estrada, ele prefere usar o instrumento de cordas. O motivo é a praticidade. “Mas é difícil de acostumar no início. As notas não ficam nítidas. Depois, pego o jeito.”
Excentricidades
Ed Motta chama as músicas de “temas”. “O tema Que Bom Voltar…” Antecipando possíveis erros ou esquecimentos de letras, o bem-humorado cantor diz que “não decorar letra é normal no jazz”. Para as várias letras que se somam à original, são feitas prateleiras de todas versões.
Durante a entrevista, o compositor cita Duke Ellington, Stanley Kubrick, Debussy e Stravinski. Nomes menos pomposos, Thin Lizzy e Kiss são elogiados. Ao falar das péssimas letras do baterista Neil Peart, o autor de “Fora da Lei” critica, “Rush é a pior banda de rock de todos os tempos. Olha que gosto até de Kiss”.
Grana
Pode parecer estranho, mas Ed Motta busca sucesso comercial. Se a música vai ou não ser absorvida pela massa que escuta rádio é questão importante. “Quero ser ouvido, quero que meu disco venda.”
A sensata idéia de que o álbum tem de gerar retorno financeiro confronta com o distanciamento que o músico parece ter da realidade pagode-churrasquinho de gato. Mas o abismo entre esses mundos pode ser diminuído por um megahit.
Para elaborar o disco e seus eventuais sucessos, o compositor se diz um ditador. “Sou completamente centralizador. As maiores contribuições nas artes foram feitas por pessoas que tinham controle absoluto do que estava sendo realizado. Kubrick sabia até qual era o cardápio dos técnicos de luz.”
Línguas
A música brasileira chegou aos ouvidos de Ed Motta apenas quando ele estava morando nos Estados Unidos. A partir de então, a influência da MPB é cada vez maior em sua obra. Nada disso diminui o crédito que o soul leva em sua discografia.
Cantar em inglês é uma necessidade. Ser entendido na Alemanha ou nos Estados Unidos satisfaz o artista. Existe também o aspecto comercial. Uma música com letra em inglês tem chance maior de atingir outros mercados.
Diferentemente do público pop, “90% das músicas que escuto são instrumentais”. Então, é inevitável Ed Motta cantarolar em vez de criar orações inteligíveis. “Para mim, uma composição não aparece com frases compreensíveis. Cantar em figuras aguça a musicalidade.” “Em figuras” quer dizer cantarolar, tipo “larilarô”. O músico acredita que essa forma peculiar de lidar com a canção dá maior liberdade ao artista. Nesse quesito, Cassiano e Johny Alf são lembrados como precursores.
Essa maneira de botar a voz para fora está em voga. Programas de calouros vêm mostrando artistas que utilizam do mesmo artifício para ganharem aplausos da platéia. “Hoje é uma coisa vigente”, diz Ed Motta. A concorrência não parece preocupar o artista.
Por fim, ele mostra canções novas que não estão em Poptical. “O disco não é tudo que produzi. Poptical é apenas um retrado das composições.”