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A Diva do Inferno incendeia São Paulo

A última e única apresentação da deusa-gata da electro music, a francesa Caroline Hervé, mais conhecida como Miss Kittin no Brasil, rolou no Lov.e Club & Lounge em São Paulo na última terça-feira. Ingressos por salgados 50 reais e uma festa quase privê para 500 pessoas.


Representante do novo electro e cercada pela alma de glamour, fama e deboche, a Diva do Inferno faz uma mistura de música eletrônica experimental, funk e hip-hop. Em suas músicas, sua voz fetichista se sobressai e é quase impossível não prestar atenção ao seu jeito estranho, robótico, mais falado do que cantado e muito sexy.


Veio ao Brasil para quatro concorridíssimas apresentações: dia 31 na Marina da Glória e dia 3 na Fundição Progresso, ambos no Rio de Janeiro e no sábado último, dia 4 de janeiro, foi a vez do Ibiza Club em Camboriú, no litoral catarinense. E dia 7 de janeiro foi a vez dos paulistanos conferirem a diabinha em seu pulo pelo país.


No Rio, entre dancinhas, um top de tirar o fôlego e aplausos, a cantora manteve o ritmo da audiência de cerca de 5 mil pessoas na Fundição Progresso até o sol raiar. O hit Frank Sinatra não podia faltar. Em sua letra a canção fala da alegria de “comer caviar, beber champanhe, fazer sexo dentro de limousines e cheirar cocaína na área VIP” e apesar da cantora ter afirmado à imprensa que se entediava ao ouvir a música, a musa abriu uma justa exceção e atendeu aos pedidos do público que cantava junto.


No último sábado, os catarinenses assistiram a única apresentação de Miss Kittin no sul brasileiro. Do tecno ao tech-house, passando pelo electro. Além de bases de Madonna e Depeche Mode, seu set foi de Silver Screen (Shower Scene), do DJ Felix da Housecat, em um remix, gravado em seu mais recente álbum On The Road, lançado no começo do ano passado na Europa, com vocal de Miss Kittin até o remix de Soul on Soul, de Marc Almond do duo inglês de tecnopop Soft Cell, feito pelo DJ The Hacker, parceiro de Kittin no disco First Album. Empolgou cantando uma música nova, ainda sem nome. Às 6h30, com sol alto, colocou Stock Exchange. A festa ainda teve as apresentações de DJ Kako no Las Dos Lunas (pista caliente, com Hip Hop e Funk), e dos Djs da “Big Fish” Araújo, Ilan e Snoopy (DJ Revelação de Techno, no ranking da Folha de São Paulo).


Fã de Miles Davis, Cole Porter e Autechre, essa garota de 29 anos, nascida na cidade de Grenoble na França, próxima aos Alpes suíços, estudou arte contemporânea, foi modelo de campanhas publicitárias e freqüentou as mais loucas raves que aconteceram na França naquela época. Mas em 1998, ela foi a responsável, junto com DJ The Hacker, pela criação de um dos marcos do começo do electro, as músicas Life on MTV e Frank Sinatra, que depois foi inserida no álbum First Album de 2001. O lançamento do álbum no Brasil aconteceu em outubro de 2002. Então, agora todos podemos escutar o deboche e a ironia na delicadeza da sua risada nos versos escritos por Miss Kittin (“Você conhece Frank Sinatra? / Ele está morto”). Começou a tocar apenas por diversão em 1994, após discutir com um antigo namorado, que era dj, sobre um disco. O que ele não poderia imaginar é que ela o deixaria para trás rapidamente, começando ali uma carreira que ultrapassaria as barreiras francesas.


Muitos dizem que o fenômeno Miss Kittin é pior do que uma febre. É um vício. A expressão, a “musa do electro” nasceu depois do convite que o dj Felix da Housecat fez a ela ao ouvir Frank Sinatra, e foi inevitável convidá-la para participar de seu novo projeto. Com ele, Miss Kittin ganhou notoriedade, principalmente com o hit Madame Hollywood, onde “Sexo, drogas e rock roll já era / Já era / Eu decido o que já era”, que é responsável pela chamada Me Generation, a filosofia em primeira pessoa das pessoas que estão apenas interessadas na fama.


“Eu não me levo a sério”
Sobre o referencial de musa e sex symbol, Kittin diz: “é melhor ser um sex symbol do que ser ninguém. Espero ser reconhecida como uma boa DJ e como uma boa letrista. Mas eu não concordo. Eu sou realmente a musa do electro?”.


“Minhas letras são contra esse lixo que a gente ouve nas rádios todos os dias. Eu não me levo a sério, nem o que eu leio ou vejo sobre mim. Mas tem gente que sempre vê a ironia por um lado negativo e levam tudo isso realmente a sério. É apenas diversão. É claro que, no fim das contas, isso mostra a falta de consciência das pessoas sobre o mundo”.


O álbum de Felix acabou tendo diversas participações de Miss Kittin e o título é uma verdadeira homenagem à ela. Kittenz and Thee Glitz (a maneira electro de falar e escrever, sempre terminam as palavras com a letra z), algo em português como, Kittin e o Glamour, foi eleito o álbum do ano pela conceituada revista inglesa Muzik. “Ela já nasceu superstar”, derrete-se Felix.


Como uma verdadeira musa, não poderia faltar o escândalo e a polêmica. Sua música Rippin Kittin, que fez em parceria com o suíço Stefan Altenburger, ou melhor, Golden Boy, foi censurada na Alemanha. O motivo: a música incitava a violência entre as crianças.


Sua energia em repetir em refrões o deboche, com despretensão e simplicidade fez com que o seu maior hit (junto com The Hacker) Frank Sinatra, ela diz, em resumo, que ser famoso é legal: “tem sempre gente pra nos puxar o saco e transar”. Na real ela se revelou um pouco assustada ao saber que sua vinda ao Brasil provocaria o maior alvoroço entre os clubbers e os modernóides em geral. Disse à imprensa na semana passada: “Eu não tenho idéia de como vai ser tocar aí e não tinha idéia de que eu era popular assim” – diz Kittin. Eu nunca fui ao Brasil e, como tudo é novo para mim, estou bem excitada a respeito. Só espero que as pessoas não sejam tão loucas a ponto de eu ter que usar guarda-costas. Mas, se for o caso, terei que usar.”


Uma das figurinhas mais cintilantes do electro, uma cena que, até o momento, identifica-se como o primeiro movimento musical e comportamental importante desse século. “Eu me sinto parte da cena electro”, disse. Segunda ela, o mercado sempre precisa de algo novo e diferente para vender, daí o interesse pelo electro e por colocarem vários artistas dentro do mesmo estilo. “Mas eu também faço parte da cena techno e da cena pop”. E completa: “Há cinco anos, quando alguns djs daqui de Berlim começaram a tocar nossas músicas, ninguém falava de nós. As pessoas me conheciam bem antes dessa moda, e elas não davam a mínima para isso”. É a realização do tão falado revival da música dos anos 80, incluindo batidas à disco, letras ingênuas e bobas, com requintes de glamour e um mundo cor-de-rosa. Uma combinação de músicas divertidas, vibrantes e um tanto quanto irônicas.


“As pessoas pensam em electro como uma coisa dos anos 80, nostalgia, blablablá. Mas o electro que me interessa é o que é feito hoje em dia, em Detroit, nos Estados Unidos, e na Alemanha”


A Diva do Inferno nada mais é do que a estrela do selo Gigolo Records do alemão DJ Hell, que conta em seu casting com nomes como o parceiro de Kittin, o DJ The Hacker, Vitalic, Crossover, David Carretta, Savas Pascalidis e Tiga. Nomes um tanto anônimos aqui no Brasil, mas que são a alma do selo conhecido no mundo todo pelo seu caráter provocativo e desencanado.


Essa novidade está naquilo que a imprensa internacional chama de “estilo gigolo”, que consiste em ser glamouroso, mas de uma maneira simples, como na combinação entre camiseta, jeans e muita champanhe, principalmente se o set for do DJ Hell, que sempre faz seu tradicional banho de champanhe em quem está presente. “O estilo gigolo tem um cheiro especial”, garante Hell.


Mas ao escutar qualquer produção da Gigolo Records é impossível não identificar os sons dos anos 80, principalmente os produzidos pelos alemães do Kraftwerk e por todos os sintetizadores da new wave, acrescentando certas pitadas de punk rock. 


Em São Paulo, desde a metade do ano passado, começaram a ser feitas diversas festas dedicadas ao electro. Djs como Oscar Bueno, Phil Marques, Luana Padilha, Gláucia ++ e Jackson Araújo incorporaram a novidade em suas discotecagens. Mas é nesse começo de ano que o electro promete invadir o país.

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