“Somos uma banda dos anos 70″, afirma McCulloch
Para a divulgação do álbum Live In Liverpool, lançado em fevereiro desse ano, os ingleses do Echo & The Bunnymen estão no Brasil para dois shows em São Paulo nos dias 27 e 29 de maio no Credicard Hall, dia 30 no Festival de Alegre, no Espírito Santo e dia 31 no ATL Hall, no Rio de Janeiro. O líder da banda e vocalista Ian McCulloch, juntamente com o guitarrista Will Sergeant, integrantes originais da banda desde sua origem, participaram nesta segunda-feira (dia 27) de uma coletiva de imprensa no Ceasar Park Hotel, em São Paulo. Pete Wilkinson, baixo, Vinny Jamieson, bateria, Ceri James, teclados, Ged Malley, guitarra, são os novos componentes da banda de Liverpool, nascida na ferveção da new wave no começo da década de 80. Afirmam detestarem serem rotulados como góticos e preferem ser considerados como uma banda dos anos 70. Confira a entrevista na íntegra.
Qual é a concepção do álbum Live In Liverpool e como foi a gravação do álbum como um todo?
Ian McCulloch: Sempre me perguntavam por que nos últimos dez anos não fazíamos um álbum ao vivo e quando fizemos shows na América do Sul e Europa tivemos a idéia. Nosso público é grande fora da Inglaterra e pretendíamos mostrar um lado mais sujo, mais puro, o que é muito diferente de um álbum de estúdio. Gostei da idéia de ser gravado em Liverpool porque foi onde nossas essências surgiram.
Por que o álbum BBC Radio 1 in Concert de 1990 não foi considerado um registro oficial da banda?
IMc: Na verdade esse disco não foi aprovado por nós como um registro oficial. A gente optou por fazê-lo como um boothleg (registros não-oficiais ao vivo). A maioria dos álbuns boothlegs são bons, sempre trazem algo diferente, uma forma diferente de som, de expressão nas letras, do momento em que se está no palco cantando ou tocando.
A banda tem pouco mais de 20 anos (24 anos) e os antigos fãs da década de 80 continuam comprando seus álbuns novos e ou a banda está conquistando um público mais jovem?
IMc: Os fãs mais antigos se estiverem vivos ainda (risos) com certeza comprariam nossos últimos trabalhos. Nossa sonoridade não mudou radicalmente e a garotada que compram nossos discos e vão a nossos shows também curtem o nosso som assim como eles, principalmente em Liverpool, aonde vão muitos garotos loucos e garotas bonitas (risos). Hoje no Brasil os adolescentes gostam mais de rock do que na Inglaterra. Os jovens de lá estão mais ligados a raves e música eletrônica e deixam de lado um pouco da história do rock. Quando vim ao Brasil no ano passado fui tocar no Musikaos (da TV Cultura). Tinha uns meninos com a camiseta do Nirvana e do Sepultura e antes de mim, iria tocar uma banda de hard rock. Fiquei com um pouco de medo por que eu iria fazer um set acústico de Killing Moon (do álbum Ocean Rain de 1984). Mas no final todos me receberam muito bem e foi uma apresentação surpreendente.
Como será o repertório das músicas dos shows no Brasil? O que esperam do show de hoje e de quarta-feira?
IMc: Vamos tocar um pouco de cada período da história do Echo & The Bunnymen. Com certeza nossos maiores hits, Lips Like Sugar, Killing Moon, It’s Alright (do último álbum gravado em estúdio, Flowers de 2001) e Ocean Rain. São Paulo é talvez o nosso maior público do que em qualquer lugar. Fiquei triste depois de um show em 1987 quando a gente se separou e eu pensei que nunca mais tocaríamos por aqui. Mas eu estava errado, voltamos aqui em 1999 quando lançamos What Are You Going to Do with Your Life? e foi incrível.
O que acham de álbuns faixa a faixa compilados em MP3 de graça pela internet e que proporcionam aos fãs a gravação de seus próprios álbuns?
Will Sergeant: Muita gente está extremamente preocupada com a gravação de faixas grátis pela internet. Não vejo nenhum problema nisso.
IMc: Também não vejo problema nenhum em baixar músicas pela internet. Quando um amigo ou você mesmo grava um disco em MP3 já é uma forma de divulgar o artista e isso não o prejudica de forma nenhuma.
A banda possui uma relação muito próxima com o Brasil. Vocês pretendem fazer algum registro de algum show por aqui?
(Ian pergunta ao Will o que ele acha sobre isso)
Will Sergeant: Vamos pensar realmente a respeito disso.
IMc: Boa idéia, vamos tentar fazer isso hoje à noite.
Nos primeiros álbuns você utilizou muitos recursos que faziam da sua voz uma das mais fortes e dissonantes dos anos 80. Em algumas faixas do Ocean Rain de 1984, sua voz possuía três tons diferentes. Com os anos sua voz perdeu a força e principalmente no álbum ao vivo ela parece muito fraca. A que isso se deveu?
IMc: Isso não é verdade. É a primeira vez que me dizem isso. Muitos afirmam que com o passar dos anos, minha voz está cada vez melhor. Você não sabe muito sobre técnicas vocais. Vai ao show hoje à noite? Leve uma plaquinha para me dar nota (risos).
Além do álbum ao vivo, vocês estão lançando o primeiro DVD. Como foi a experiência de produzi-lo?
IMc: Não vi o DVD ainda. Fez sentido a gravação do álbum junto com o DVD também gravado ao vivo. Assim traz a fusão completa do áudio e vídeo, como se fossem colagens de trabalhos. Nós não somos naturalmente as melhores pessoas ao vivo. No DVD fingimos estar cantando, o acompanhamento é play back. Com certeza em estúdio somos mais audíveis. A diferença do som de um show ao vivo é muito diferente de um play back.
Com a música eletrônica em destaque na Inglaterra, o trance, a house music e o drum’n’bass estão fortes ou o rock inglês está fraco? O que vocês ouvem?
IMc: Mesmo com a ascensão da música eletrônica ainda tem espaço para todos. As guitar bands inglesas estão voltando, apesar de bandas como The Strokes e The Hives não terem nascido por lá. Tem um pessoal novo pegando novamente a guitarra para fazer rock.
Will: Tenho escutado bastante Sigur Rós, The Moldy Peaches, Coldplay.
IMc: Eu assisto mais TV. O Will escuta mais música do que eu (risos).
Algum plano de álbum em estúdio com músicas inéditas?
IMc: No final do ano nos aprontaremos para começar a gravar um álbum novo em estúdio. Por enquanto ainda estamos pensando na turnê do Live In Liverpool e no meu álbum solo que está por vir. Estamos esperando a Copa do Mundo terminar (risos).
Qual a característica principal dos seus trabalhos fora do Echo & The Bunnymen?
Will: Meu trabalho solo chama-se The Glide. Flerta mais com a música eletrônica.
IMc: O disco é um punhado de canções antigas dos anos passados. Suei para parecer um pouco o Lou Reed sem o Velvet Underground. Não é exatamente igual, mas o jeito como algumas canções foram construídas lembram muito o Transformer (1972). Para a turnê do meu álbum, voltarei ao Brasil. Penso em fazer apresentações pequenas em palcos pequenos, estando no mesmo nível do público, algo mais acústico.
E terá participações especiais como o David Bowie ou Courtney Love?
IMc: Participações especiais só o Coldplay com uma ou duas faixas. Se estivéssemos em 1971, talvez o Bowie participaria do álbum (risos). Bandas como Coldplay, Flaming Lips, The Verve foram influenciadas pelo Bunnymen e é um prazer trabalhar com bandas que se inspiraram na gente.
Nos últimos anos, tanto no Brasil, como na Inglaterra está manifestando-se um revival dos anos 80. Raves e festas góticas estão acontecendo. Isso serve de inspiração ou influência para continuar compondo canções sonoricamente produzidas nos anos 80?
IMc: Somos influenciados pelos anos 70, como The Stooges, Velvet Underground, The Doors. Não gostamos que nos rotulem como góticos ou darks, só porque usamos ternos e sobretudos pretos. Até mesmo porque detestamos música gótica. Somos uma banda dos anos 70. Comprávamos essas roupas em brechós. Depois percebemos que os nossos fãs também usavam o mesmo traje. Usávamos para ficarmos mais bonitos até vermos a mesma roupa no Robert Smith (The Cure) (risos).
Mais Echo and The Bunnymen
www.bunnymen.com: Site oficial da banda.
www.glide-hub.cwc.net: Site oficial de Glide, projeto paralelo de Will Sergeant.
www.ianmcculloch.com: Site oficial de Ian McCulloch.