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Skank: aquilo que a gente é hoje não é o que era há 2 anos

       Formado há oito anos por Samuel Rosa (guitarra e vocal), Haroldo Ferretti (bateria), Lelo Zaneti (baixo) e Henrique Portugal (teclados) e cansados do rótulo de reggae ou pop, a rapaziada do Skank resolveu passar em seu quinto disco um pouco mais que a fórmula de ritmos latinos e melodias dançantes que marcou a carreira do grupo. A até então presença obrigatória dos metais em suas músicas foi totalmente deixada de lado em “Maquinarama”, que reflete uma banda com novas influências. Rock, de muitos solos de guitarra e teclado, e drum n bass dão o tom nessa nova fase, que valoriza a canção.


       Nas lojas desde o mês de junho, “Maquinarama” já emplacou nas rádios dois hits (“Três Lados” e “Balada do amor inabalável”), arrancou elogios da crítica (que até então nem era muito simpática ao som do grupo) e não deu margem aos que achavam que a guinada no estilo do grupo seria maléfica, comercialmente falando. Em entrevista à colaboradora Suzana Gnipper, os quatro integrantes do grupo falam sobre a nova sonoridade e a carreira. Se aprochegue e confira!


Música News: Vocês mudaram bastante a sonoridade dos discos passados em “Maquinarama”. Qual o motivo de optarem por essa mudança, partindo do reggae, ska e ritmos latinos para um som mais voltado ao rock, funk e até drum n bass?
Haroldo Ferretti – De disco pra disco a gente sempre tenta mudar. Até eu acho que o motivo maior para se fazer um disco seja mesmo a mudança. Há a necessidade de mostrar pro nosso público que aquilo que a gente é hoje não é o que era há 2 anos. Falo 2 anos porque é o intervalo de tempo que a gente costuma lançar discos. E nesse, realmente, a gente deixou transparecer mais certas influências, que sempre existiram no nosso trabalho como o reggae, o rock e outras coisas como o drum n bass, que é um passo seguinte do dance hall. Então a gente usou mais dessas influências em “Maquinarama”.


Música News: E as letras também deram uma mudada. Estão mais intimistas e introspectivas. As novas parcerias influenciaram no estilo das composições?
Lelo – Sobre as letras, a gente procura falar sobre as coisas que estão em nosso alcance, do cotidiano, como sempre foi. Pintaram novos parceiros, como o caso do Fausto Fawcett, que só vem acresentando. E a gente percebeu que, além de temas sociais, pintou nesse disco alguns temas mais existencialistas. Talvez seja um momento do Skank porque o disco é uma atualização do que a gente é hoje em dia. E acho que os temas passam por aí também.


Música News: E como foi chegar nessas parcerias?
Samuel: Com o Edgard Scandurra, a primeira vez que a gente teve contato, foi numa jam da MTV (MTV Rock e Gol Jam) em que sugeriram que a gente fizesse um pequeno show, um show case, com todo mundo junto. Então tocou o Ira! e o Skank. Acabamos tocando “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo” e “Jorge Maravilha”, que fizeram parte do último disco do Ira!, inclusive. Por fim, acabei participando de uma faixa do álbum do Ira! e… Esta é uma longa história… O André Jung, numa ocasião, me ligou e mandou uma fita com uma música e queria que eu colocasse uma letra nela. Mas, definitivamente, letra não é o meu forte, mesmo. Então eu decidi procurar o Chico (Amaral), que é meu parceiro. Ele escreveu “Bagaceira Sincera”, que foi um nome provisório. Mandamos devolta para o Ira!, mas acho que pelo fato do disco deles ter um argumento de regravações optaram por não incluí-la. Então peguei a música, mostrei algumas alterações que eu tinha feito para o Chico e para o Edgard, que aprovaram. E ela entrou para o álbum do Skank, a primeira faixa do disco, como “Água e Fogo”.


Música News: Então o “Maquinarama” pode-se dizer que é um divisor de águas?
Haroldo – A gente não gosta de pensar muito nisso, então deixa para que as pessoas interpretem dessa forma. Mas uma coisa que não dá pra passar desapercebido é que realmente há uma diferença desse álbum para os outros. Desde a fase de composição, de como foi feito, gravado; e é nosso quinto álbum. Isso tudo faz com que ele soe diferente. Falar que é um divisor de águas talvez seja muito, porque é o Skank, só que com novas influências e novas parcerias em letras.


Música News: Seria um Skank menos pop?
Lelo – Hum… Acho que a gente tem uma coisa pop, uma coisa rock e algo de swing. No “Maquinarama”, muita coisa que a gente ouviu nos anos 60, muito big beat, drum n bass, como você mesmo disse, acabou apontando para um trabalho que nesse disco ficou bem consolidado. E o fato de ter podido gravar na nossa cidade, num estúdio que a gente sempre tinha feito as pré-produções, acabou nos dando uma certa liberdade de fazer uma gravação a qualquer hora, a qualquer momento…


Música News: Foi gravado na casa do Haroldo, inclusive. Então foi por opção!
Haroldo – É! E foi assim… O que acontecia nos outros álbuns é que a gente fazia a pré-produção propriamente dita. E várias idéias legais pintavam naquele momento. Quando a gente ía para um estúdio no Rio, para realmente gravar o disco, era meio que passar a limpo. Muita coisa que pinta no dia da pré-produção não volta, acaba ficando difícl até para copiar. Acabamos equipando o estúdio para dar aquele clima mais descontraído, que pudesse ser transmitido para o disco. E foi o que aconteceu. Um dos fatos de “Maquinarama” ser como é, foi por ter sido gravado em casa, num clima relax. Equanto um estava gravando o instrumento os outros estavam presentes, bem diferente dos outros álbuns. Quando a gente gravou no Rio e em São Paulo tinha semana que, por exemplo, o Lelo ía gravar o baixo e a gente acabava ficando em Belo Horizonte com a família. A banda acabava ficando meio distante. Agora não, a banda ficou mais junta.


Música News: E como vocês acham que vai repercutir essa mudança entre o público dito antigo? Vocês acham que vai mudar o público do Skank?
Lelo – Bom, a gente acha que o público fiel, que conhece o nosso trabalho, acredita nas verdades pra banda e naquela real mudança, nas novas referências. Eu acho que o público é muito “acertivo”; ele vai acabar entendendo que as coisas tem de seguir certos caminhos que são importantes. E a gente já tinha apontado esse rumo da canção em “Siderado”. Nesse novo disco tem fatias que se paracem com “Resposta”, por exemplo. Então acredito que o público vai assimilando, assim como a banda, que tem um campo de atuação grande. O público começa a compreender essa verdade e entender esses diversos pólos.


Música News: Sobre essa turnê, já existe algum plano traçado para o mercado internacional, já que nos discos passados vocês acabaram tocando na América Latina e em países na Europa?
Haroldo – Este disco está sendo lançado simultaneamente em Portugal, Espanha, Chile e Argentina. O que acontece é que nesses países as coisas mais legais são no verão, principalmente no caso na Europa, que é agora. Mas a gente está lançando o álbum aqui no Brasil. E o Brasil é um país muito grande, a gente precisa fazer o trabalho bem feito aqui primeiro, ir à todas as principais cidades. Se largamos mão disso para lançar o disco fora vai ser complicado. Mas a gente já deu entrevista para alguns países e, passando essa fase de lançamento, o Skank deve visitá-los. Provavelmente no próximo verão europeu. Isso já tem sido feito há quatro anos, quase todo verão europeu a gente sai em turnê internacional.


Música News: Só para finalizar, tem algo que o Skank não fez que ainda pretende investir?
Lelo: Na verdade a gente tem algumas coisas guardadas que nunca foram lançadas, como músicas em inglês. Por exemplo, agora participamos do Tributo à Bob Dilan, recentemente vai ser lançado, com uma música de nosso primeiro disco, “I Want You”, em inglês. Como também “Uma Partida de Futebol”, que a gente também gravou em inglês e outras coisas em espanhol. De repente seria legal num futuro próximo elaborar um disco bacana só com músicas que não foram lançadas aqui.

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