“Italiano” evidencia talento polivalente da Família Lima
A boa música é eterna e prevalece. Convicto disso, o multi-instrumentista José Carlos Lima, ensinou os filhos Amon-Rá, Moisés, Lucas e o sobrinho Alen a desenvolverem-se musicalmente ao mesmo tempo em que trabalhavam disciplina e concentração, características essenciais aos homens de sucesso. E foi assim, em família e com todo a infra-estrutura, que eles se tornaram mestres em instrumentos clássicos como violino, viola e cello; e pós-modernos, como teclado e guitarra. Às vezes misturam tudo, outras não. Não importa; os anos de dedicação os conferiram “know how” para ousarem de inúmeras formas. O mais novo trabalho, um apanhado de canções em italiano acaba de chegar às lojas e resgata “pérolas” do repertório nativo, que conhecidas ou não e que receberam arranjos pessoais da exímia trupe de músicos. Na entrevista abaixo, Alen comenta peculiaridades do disco e da batalhada trajetória do grupo.
Central da Música: Vocês dedicam uma enorme carga horária a ensaios e estudos de prática e teoria musical. Qual a importância disso?
Alen: Essa enorme carga de estudo vem desde o começo da carreira e tem como principal objetivo a qualidade dos arranjos e de execução das músicas. Acreditamos que o estudo é refletido na boa execução e na comunicação com o público… É incrível como a música toca as pessoas…
O José Carlos ensinou música a seus filhos pelo método japonês conhecido como Suzuki, que tem como filosofia o aprimoramento do indivíduo através da música. Vocês tem alcançado esse aprimoramento?
Alen: Estamos muito felizes em fazermos o que gostamos… estudamos com o intuito de nos aprimorarmos a cada dia, como músicos e seres humanos.
Qual é a função da arte em tempos tão conturbados como os atuais? O artista deve ter responsabilidade social?
Alen: A função do artista é passar coisas positivas… buscamos transmitir que união e paz funcionam e que são possíveis. Somos uma família, normal e que de vez em quando tem problemas , mas nossa primordial intenção é permanecermos unidos… a função da arte é essa, passar emoção e mensagens positivas e de alegria.
O repertório de “Italiano” é bem diversificado… vocês gravaram Vivaldi, clássicos como Barbeiro de Sevilla e composições próprias… o objetivo foi alcançar um público maior ou se expressar de todas as formas possíveis?
Alen: Um e outro… nós sempre trabalhamos com uma grande influência da música italiana, até pelo fato do próprio clássico ter muito de italiano. Aí veio o convite do Benedito Rui Barbosa para prepararmos uma música para a novela Esperanza, preparamos o Marechiare e foi o impulso que faltava para concretizarmos esse projeto de um disco dedicado exclusivamente ao estilo italiano, que é riquíssimo. Pesquisamos muito e encontramos canções que fazem parte do repertório italiano, e que já haviam sido regravadas por artistas brasileiros, como “Ragazzo che comme me”, “Amava os Beatles e os Rolling Stones”, que os Engenheiros do Havaii gravaram antes de nós. “Para Per Amore” quisemos fazer um arranjo totalmente diferente também.
Quais as contribuições que a Mafalda Minotti trouxe para o trabalho de vocês?
Alen: Foi fundamental. Ela ajudou meu tio (José Carlos Lima) e o Lucas a trabalharem a dicção, inclusive na faixa Marechiare, que é Napolitana, ou seja, totalmente diferente. E fez versões de duas músicas do CD. Sem falar na grande cantora e pessoa que ela é.
Algum de vocês planeja desenvolver paralelamente um trabalho solo, como cantor ou instrumentista?
Alen: Nós sempre priorizamos a Família Lima e nosso trabalho em conjunto. Somos todos cantores, instrumentistas, talvez até aconteça de um de nós vir futuramente a trabalhar paralelamente solo, mas o grupo fica sempre em primeiro lugar… até porque somos uma família e pensamos na união e em fazermos o que quisermos juntos… fazendo crescer o nome do grupo.
Em recente apresentação o violonista Yamandú Costa disse que seu trabalho visava resgatar e apresentar ao público jovem um tipo de música que ele não escutava por que não tinha oportunidade… como vocês, que tem um bom espaço na inclusive na mídia televisiva, analisam essa questão?
Alen: Adoramos o trabalho do Yamandú, somos amigos, o consideramos fantástico em todos os sentidos. Acho que toda música bem tocada acaba tendo seu espaço… nosso sucesso de shows e venda de Cds comprova isso… o povo brasileiro é receptivo e tem uma enorme cultura, daí a grande diversidade de estilos musicais… vale tudo desde que bem feito. Assim como o Yamandú, a Família Lima vem tentando popularizar o clássico e é possível sim… pode ver que os grandes cantores, de clássico e MPB estão aí, os modismos passam e eles perduram…
Vocês acreditam que deveria haver maior formação de platéia, tipo educação musical em escolas e etc…?
Alen: Tentamos levar esse tipo de educação, através da própria proposta de mistura de estilos e de popularizar a música clássica… intencionamos meio que abrir a cabeça das pessoas para o que vai além da “modinha”. A receptividade do povo brasileiro nos impressiona, a mistura de culturas e o quanto o nosso povo é receptivo, aberto mesmo ao diferente.
O que vocês procuram passar para o público através da música?
Alen: Tentamos fazer com que o público sinta a música, esquecer um pouco de pensar em coisas negativas e sentir tudo o que a música passa. Tentamos passar uma união, afinal somos uma família, que como todas as outras tem problemas, atritos, mas que está aí unida, trabalhando e vivendo junta
Qual a mensagem que deixam antes de finalizarmos esta entrevista?
Alen: Gostaria de dizer que a Família Lima está cada vez mais madura e feliz de fazer o que faz e também que as pessoas se concentrem em ver o lado bom das coisas, em pensar um pouco menos nos problemas e mais no lado positivo e bom da vida. Afinal, há tanta coisa maravilhosa por aí…