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Fernanda Takai: Acho que não somos roqueiros purinhos

       Uma das bandas principais bandas mineiras surgidas na última década, o Pato Fu é mais uma banda vinda das minas gerais que invadiu o cenário musical nacional, fazendo o público pop/rock cantar sucessos como “Sobre o Tempo”, “Pinga”, “Antes que seja Tarde” e mais recentemente “Depois”, do álbum Isopor.


       Preparando atualmente o sexto álbum do grupo em um estúdio caseiro, e afinando as guitarras para se apresentar no Rock in Rio III no dia 14 de janeiro, a vocalista Fernanda Takai nos falou sobre jingles, MP3, o show no Rock in Rio, adiantou algumas novidades sobre o próximo álbum (que deve sair ainda no primeiro semestre de 2001) e falou sobre a participação das mulheres no rock. Confira!


Música News: Fernanda, em outubro a Rita Lee falou de um projeto (algo como “As Aranhas do Rock” ou “Tem Aranha no Rock”) que ela tem para o ano que vem de convidar band leaders como você, a Paula Toller, Cássia Eller e outras para formar uma banda só de mulheres. O que você acha da idéia? Já rolou alguma conversa neste sentido?
Fernanda: A idéia da Rita é ótima, parece um pouco com o projeto Lilith Fair que foi feito nos EUA com cantoras bem legais. A gente conversou um pouco sim, mas o problema é conciliar as agendas das bandas e carreiras solo. Tomara que a gente possa fazer pelo menos algumas apresentações desse projeto!


Música News: Por falar em roqueiras, como você vê a participação das mulheres no mundo do rock, no passado, hoje e o como gostaria que fosse no futuro? Há uma carência de mulheres neste movimento? O Pato Fu já sofreu alguma discriminação por ter na banda uma vocalista?
Fernanda: Mundialmente falando eu acho que hoje as mulheres até tem um bom espaço. Agora aqui no Brasil ainda há poucas mulheres no rock. Outro dia vi uma entrevista da Dulce Quental que era do Sempre Livre (banda só de mulheres, dos anos 80) e ela disse que as pessoas tinham curiosidade em ver o show delas porque não acreditavam que elas tocavam de verdade, principalmente os outros músicos! Então tem essa coisa de achar que a gente não toca, não canta, é tudo truque… E também alguns acham que as “chatices” da banda como atraso, pedido de equipamento, segurança etc, são culpa só da mulher! Acho que não somos roqueiros purinhos, tem um pouco de tudo em nossa música, então gosto de coisas híbridas também!


Música News: E quais roqueiras / bandas formadas por mulheres que você mais admira?
Fernanda: Falando em mulheres, gosto da Marina, Garbage, Sheryl Crow, Rita Lee, Cássia Eller, Björk, Adriana Calcanhoto, BIS, Suzanne Vega, Emiliana Torrini, The Delgados, Hooverphonic, Elastica, Pizzicato Five, Portishead, K. D. Lang, Looper, Pretenders, Frente!, Zélia Duncan, 10,000 Maniacs, Stella Campos, Maybees, Vange Leonel, Ná Ozzetti etc…


Música News: Neste ano o Brasil inteiro ouviu, via Rede Globo, diversas vezes o tema que o Pato Fu fez para as Olímpiadas de Sidney. Como é que rolou esta composição, foi a pedido da Globo ou vocês fizeram “por conta própria” e mandaram para a emissora?
Fernanda: O pessoal do esporte da Globo queria fazer uma versão com letra diferente de uma música nossa. Versões assim costumam ser bem duvidosas, soam bem estranho. Propusemos fazer uma música que poderia ser descartada se eles não gostassem… até achamos que nunca a Globo ia aceitar uma música do Pato Fu e sim de algum outro artista mais popular pra virar tema olímpico. Fizemos uma música que não fala da Globo em hora alguma e sim sobre viver o sonho olímpico. A sonoridade dela é também bem diferente do padrão de trilhas da Globo.


Música News: Vocês já fizeram outros temas ou jingles publicitários? E como foi para o John produzir no seu estúdio caseiro a trilha sonora de um curta-metragem?
Fernanda: Antes do Pato Fu eu gravava jingles, como muita gente já fez. Mas quando decidi investir na nossa música mesmo, parei com todos. Acho que gravei o último em 93. Não só a trilha do curta-metragem, mas nosso disco novo está sendo gravado em casa. Faremos algumas gravações de voz e bateria em SP. Mas 80% do material sairá daqui mesmo. Investimos em equipamento e temos agora a tranqüilidade pra gravar nos horários que escolhemos, fazendo e refazendo o que quisermos. Não tem um taxímetro correndo… Acho que muitas bandas tem feito isso no mundo todo. Está cada vez mais viável se ter um estúdio caseiro de boa qualidade.


Música News: Em cada CD o Pato Fu tem uma música em outro idioma. A música “Made in Japan”, num primeiro instante, parecia ser um tanto quanto desafiadora para o público nacional e acabou sendo bem aceita. Como foi vencer as barreiras da indústria fonográfica com uma música com essa letra em japonês?
Fernanda: A gente sempre teve músicas em outros idiomas nos discos, mas não foi algo planejado. Quando íamos gravar, lá estava uma idéia estrangeira… “Made In Japan” não foi grande sucesso, mas foi ótimo ligar o rádio e ouvir uma música em japonês tocando! O pessoal da gravadora achava perigoso abrir o disco com uma música como aquela, mas era justamente o que a gente queria: uma coisa inusitada.


Música News: Haverá algo parecido no próximo CD?
Fernanda: Para o próximo disco, até agora, só estamos gravando em Português mesmo.


Música News: Depois da debandada de seis bandas nacionais do Rock in Rio, parece que rolou uma declaração sua de que o Pato Fu não apoiava porque quando vocês quiseram apoio para mudar a data/horário do show de vocês no festival ninguém quis ajudar. Como foi a negociação com a organização?
Fernanda: Num grande festival como o Rock In Rio não tem como escapar de grandes discussões sobre a produção técnica e programação artística. Tivemos um problema e conseguimos resolvê-lo, sem que alguém sequer tomasse as dores. Então, vemos que as bandas parecem não ter as mesmas necessidades… Por enquanto estamos tendo diálogo e atenção por parte da produção.


Música News: Aliás, o que vocês estão preparando para a apresentação no Rock in Rio?
Fernanda: Vamos fazer um show condensado de 50 minutos. Queremos mostrar alguma música nova lá. O resto vai ser surpresa até pra gente!


Música News: Muitos artistas vêem o MP3 como um fantasma, outros como um aliado. O último álbum do Pato Fu e as músicas mais antigas já se encontram totalmente disponíveis na Internet. E para a banda, qual é o valor real do MP3? Vocês encaram como pirataria?
Fernanda: A gente mesmo colocou em nosso site mp3 de músicas em 98! Quase ninguém falava em mp3 aqui no Brasil. Hoje se você entrar na nossa página, vai encontrar versões inéditas de músicas que nós mesmos disponibilizamos. Isso já mostra que acreditamos no mp3. Somos totalmente contra corporações e gente que vende ou ganha dinheiro com nossa música, sem prestar qualquer conta de direitos autorais. Se alguém pagar a produção do meu disco e meus royalties, ótimo! Vai direto pra rede. Só que hoje quem paga por isso é a minha gravadora e nós mesmos. Então sou a favor da música grátis, desde que eu tenha sido remunerada pelo meu custo e criação artística, pois essa é a minha profissão, não é? Acho que o caminho pra isso ficar bem confortável pra todas as partes, são os patrocínios dos projetos, posso vender meu disco para um fabricante de carros, por exemplo, e ele vai grátis pra todo mundo, através do site dele. Enquanto isso não acontece, as gravadoras estão correndo atrás… O melhor pra quem faz música é que essas novas tecnologias trazem novas discussões sobre direitos autorais e distribuição de material pra todo mundo.


Saiba mais sobre o Pato Fu
www.patofu.com.br – Site oficial da banda, tem fotos, notícias, agenda de shows, página para contato com o grupo (eles respondem os e-mails meeesmo!), video clips e o melhor: algumas músicas em mp3 para download.

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