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Entrevista: Roger (Ultraje) bate um papo com o Central

O vocalista, guitarrista e principal compositor do Ultraje A Rigor, Roger Moreira, falou por e-mail com a gente e contou algumas novidades e reminiscências da carreira. Roger fala sobre música, mercado, política e sobre sua experiência como líder de uma banda que já experimentou diversos formatos, passou por gravadoras grandes e pequenas (embora ele ressalta que o Ultraje nunca esteve numa major de verdade) e que, pelo visto, está preparada para o que der e vier.


Atualmente, Roger está ocupadíssimo na divulgação do novo disco do Ulraje, Os Invisíveis (Deck Disc) e vem dando shows pelo Brasil. Além de se ocupar da música do Ultraje, Roger também cuida da parte de informática da banda, montando ele mesmo o site oficial do Ultraje, que tem até um blog – novidade da internet a qual o próprio Central da Música já aderiu -, e correspondendo-se regularmente com os fâs. Curta a entrevista e depois visite o site da banda no endereço http://www.ultraje.com(o blog do Ultraje, escrito pelo próprio Roger entre um e outro show, é o http://ultraje.blogger.com.br).


CENTRAL DA MÚSICA: Qual a relação do Ultraje a Rigor com a surf music? Você se sente influenciado por algum grupo ou guitarrista em especial?
ROGER MOREIRA: Tenho bastante influência dos Beach Boys e do surf mesmo, esporte que sempre apreciei. Gosto muito dos Ventures e dos Shadows também, além, é claro, de Dick Dale. Mas é apenas uma de minhas influências.


Vocês estão bem “visíveis” e têm sido lembrados por uma série de bandas novas. Como você avalia o reconhecimento que o Ultraje tem?
Merecido, modéstia à parte.


O disco novo está com um som bem mais pesado e variado, tem umas coisas até meio hardcore, tipo “Agora é tarde”. Você curte esse tipo de som ou isso pintou mais pela entrada do Bacalhau?
O disco estava pronto quando Bacalhau entrou. O disco só está mais pesado porque foi bem gravado, sempre fomos pesados ao vivo.


Falando nisso, como foi que rolou do Bacalhau entrar e do Sérgio voltar?
Foram escolhas quase naturais, sabia que Serginho gostaria de voltar e eu gostaria que ele voltasse. O Bacalhau foi também a escolha mais óbvia, é um grande baterista, já o conhecíamos e ele gosta do que nós fazemos, foi só juntar a fome com a vontade de comer.


Durante o período em que estavam literalmente “invisíveis”, vocês ficaram bastante ativos na internet, assim como aconteceu também com o Biquíni Cavadão e vem acontecendo com uma série de bandas novas. Como foi essa experiência?
É uma pena que não houvesse internet nos anos 80, acho o máximo!


Mesmo sendo o principal compositor do Ultraje, você diz que compõe pouco. Nunca pintou a idéia de usar músicas de amigos ou covers, como o Ira! faz?
Bem, nós lançamos um disco de covers em 1990, antes de todo mundo. O que acontece é que é difícil achar pessoas que componham em nosso estilo e eu gosto do desafio de compor.


Há anos, o disco Porque Ultraje A Rigor (1990) enfrentou problemas com a gravadora antiga de vocês. Hoje discos de covers, de flashback ou acústicos servem até para levantar carreiras. Como você vê isso?
Acho que sempre estivemos à frente de nosso tempo, prova disso é que nossas músicas antigas ainda são atuais. Provavelmente darão mais valor ao que estamos fazendo hoje daqui a alguns anos. E sempre estaremos a anos-luz de distância do pensamento de qualquer executivo de gravadora, talvez com exceção do André Midani, que pensava quase como um artista.


Você chegou a escutar a remasterização do primeiro disco do Ultraje? O que achou?
Achei muito bom! Detalhe, tive que comprar o disco…:-/ (Nota: O disco Nós vamos Iinvadir sua praia foi reeditado pela WEA com bônus em 2001, sob a supervisão de Charles Gavin).


Hoje vocês estão na Deck, que é uma gravadora meio termo: é pequena, com um elenco pequeno, mas tem um lado meio de major, não chega a ser um selo independente. O que é mais fácil: estar numa major ou numa gravadora menor?
Estar numa major, suponho. Nunca estivemos em uma, a Warner só tinha nome, estava quase falida quando entramos.


Aos 45 anos, você presenciou praticamente todos os grandes movimentos do rock, desde os anos 50 até hoje. Tem algum período que você curta mais, ou que te traga melhores lembranças?
Bem, os anos 60 foram insuperáveis em termos de qualidade e variedade, além de eu ser garoto naquele tempo…:-)


O Ultraje A Rigor deve ter sido a única banda brasileira dos anos 80 que jamais tentou fazer um link com a MPB típica (Gil, Caetano, Chico, etc). O que você acha desses grandes nomes aí?
Gosto deles e me influenciaram bastante como letristas, mas começamos como uma alternativa à MPB, acho que, ao tentar o link, essas bandas de rock fizeram o movimento de rock perder força, e nem deveriam mais ser chamadas de bandas de rock, assim como os da MPB que fizeram o link com guitarras passaram a ser chamados de tropicalistas. Não condeno o link como tentativa musical, apenas acho que rock é uma coisa e MPB é outra.


O disco em que talvez você tenha mais se exposto é o Crescendo (1989), especialmente na faixa-título, que segundo o que você disse numa entrevista da época, falava sobre um idealista que perdia sua ingenuidade (ou algo assim). Dá pra continuar sendo idealista hoje em dia, nesses novos tempos?
Eu continuo sendo, mas o nível de frustração aumenta muito.


Hoje em dia tem uma série de bandas novas fazendo o caminho inverso: começam numa gravadora grande e, desiludidas, voltam para o mercado alternativo. Nunca passou pela sua cabeça entrar numa dessas?
Ainda passa…


Como você avalia os oito anos do governo FHC e a entrada do Lula? Você, mesmo não tendo votado no Lula, aposta nele de alguma forma?
Acho que o Fernando Henrique foi um dos melhores presidentes que já tivemos, certamente o melhor em meu tempo até agora. Não é apenas uma opinião, o nível de mortalidade infantil baixou, o brasileiro passou a comer mais e melhor, a inflação galopante foi controlada, progredimos muito, mas o brasileiro tem memória fraca, pouco conhecimento e tende a julgar o governo pelos erros, além de esperar demais. É claro que aposto no Lula, e inclusive já havia dito que, embora o Serra fosse certamente mais preparado que o Lula (note bem, eu não disse melhor, disse mais preparado, o que é indiscutível), o Lula também seria uma boa opção. Mas a impressão que dá é que esperam um milagre do homem, o que é, no mínimo, ingênuo, e pode causar frustração. Sou um otimista por natureza mas o Brasil não é uma ilha isolada do mundo, não é possível acabar com todos os nossos problemas e dependências em 4 anos, não importa quem esteja no comando do país. Mas acho importante para o processo de conscientização política.


E essa idéia de fazer um blog? Como foi que apareceu isso? Você é leitor de blogs?
Não, mas fico atento às novidades e acabei conhecendo uma coisa nova e interessante. Comecei como um teste, como uma forma de ser mais ágil na atualização das notícias e confesso que estou gostando muito.


Finalizando, o que você tem ouvido ultimamente?
Nada em especial, ouço rádios de rock para saber das novidades e rádios de rock clássico para ouvir coisa boa…:-)

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