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Entrevista com Sheryl Crow

       Depois de tocar no Rock in Rio 3, a americana Sheryl Crow passou praticamente todo o resto de 2001 compondo um novo disco. O resultado do trabalho, batizado “C mon, C mon”, foi lançando mundialmente no início de abril, pela Universal Music. Quarto disco de estúdio de Sheryl, “C mon, C mon” não chega a se igualar ao disco de estréia da cantora, “Tuesday Night Music Club” (1994), mas é superior aos dois últimos trabalhos da loira, que estava sem gravar desde 1998. O chamado “rock rural” de Crow, herdeira da sonoridade de grupos dos anos 70/80 como o Eagles, está bem representado no novo disco em músicas como a vibrante “Steve McQueen”, a dançante “Soak Up The Sun”, na faixa título ou na balada romântica “Its Only Love”.


       Reproduzimos abaixo a entrevista distribuída pelo departamento de imprensa da Universal. Nela, a cantora conta vários detalhes sobre esse seu novo álbum, que estreiou direto no topo das paradas de discos dos EUA. Confira:


É correto afirmar que a vibração geral de C´mon, C´mon é mais pra cima do que a dos seus trabalhos mais recentes?
Não tenho certeza se gostaria que alguém passasse pelo meu processo de gravação, mas geralmente ele se fecha como um círculo. Na hora de fazer o disco, eu geralmente passo por um processo assim: quando começo, tenho uma idéia bem precisa de que tipo de disco eu quero fazer, mas acabo fazendo o exato oposto da minha idéia inicial. E então, no final, olho para o disco e ele se revela mais ou menos como o tipo de disco que eu queria a princípio. No último estágio da realização deste CD eu tive uma espécie de experiência revigorante que se originou do colapso que houve durante a gravação.

Por que o colapso?
Tive algumas experiências realmente desagradáveis que não se relacionavam com nada além do fato de eu estar trabalhando demais nos últimos anos. Permiti que a música se tornasse minha vida ao invés de ser algo que eu fizesse na vida. Chrissie Hynde me visitou no estúdio e eu fiquei me lamentando com ela sobre como era difícil este negócio de música e como é barra ser mulher. Disse que algumas vezes eu sentia vontade de não fazer mais música, que não sabia mais sobre o que estava escrevendo, que parecia que eu não conseguia terminar mais nada e que estava demorando muito para acabar o disco. Ela disse que eu tinha que ver que música é uma coisa que você faz, não é a sua vida. E naquele momento eu percebi que se eu parasse de fazer música, estaria tudo bem e a vida continuaria fazendo sentido. E com a liberdade que esta conclusão me deu, o disco se materializou, e por estranho que pareça, foi como se tivessem acoplado um motor de foguete nele.

Chrissie Hynde não aparece em C´mon, C´mon mas muitos outros amigos seus, novos e antigos, sim. Como você se sente em relação ao fato de o álbum estar tão cheio de estrelas como Don Henley, Emmylou Harris, Dixie Chick Natalie Maines, Liz Phair, Lenny Kravitz e Doyle Bramhall III?
É meio estranho porque, no fim, me dei conta de que havia muita gente no disco e fiquei realmente preocupada com isso. Fiquei preocupada com a forma como eles todos seriam percebidos e se pareceria que eu estava capitalizando meus relacionamentos. Mas percebi que acima de qualquer outra coisa, eu realmente precisava de apoio emocional neste disco. Então chamei pessoas que eram realmente minhas amigas, pessoas que, de algum jeito, estiveram ao meu lado na luta. O fato de eles terem se tornado grandes aliados foi algo como uma progressão orgânica natural.


Como você entrou em contato com Liz Phair (que aparece em “Soak Up The Sun”)?
Liz estava jogando basquete ao lado do estúdio, fazendo a maior bagunça. Eu saí pronta para brigar com alguém e lá estava Liz. Ao invés de gritar com ela, eu a arrastei para dentro do estúdio.


Vamos falar sobre algumas das faixas de C´mon, C´mon. Primeiro, tem “Steve McQueen”. Que parece uma canção que homenageia dois Steves – Steve McQueen e Steve Miller.
É um tributo descarado a Steve Miller. Na verdade, Steve Miller foi um nome que cogitei quando estava pensando em fazer este disco. Eu estava pensando nos discos e nas músicas que eram tipo a trilha sonora dos meus primeiros anos rebeldes – logo depois de tirar minha carteira de motorista, dirigindo pela cidade, circulando, ouvindo rock no rádio (Rumors, Heart, Steve Miller, Lynyrd Skynyrd e Peter Frampton). Depois do show do Central Park, eu estava realmente a fim de seguir por esse feeling do rock. Eu queria sair para fazer esse disco, e para mim tinha que ser uma coisa meio “Fly Like an Eagle”, com cara de Steve Miller ou algo do The James Gang. E essa música, eu acho que, metaforicamente, representa aquele tipo de desejo de ser louco e livre. Acho que Steve McQueen era tipo o arquétipo do espírito livre, rebelde – misterioso, heróico, norte-americano – e o que ele representava (na minha cabeça, pelo menos) era justamente isso: todas essas coisas – aquele tipo de vida livre e sem barreiras e como foi que meio que perdemos aquela vasta América. É uma música sobre a perda da inocência.


De onde “Soak Up The Sun” saiu?
A letra veio durante um dos períodos mais down do disco que você possa imaginar e acabou sendo uma das canções mais para cima. Mas é tipo um comentário social sobre a quantidade de pequenas coisas que só tumultuam nossas vidas e como a gente se perde e os momentos vão passando. Eu estava num ponto em que eu estava meio que patinando, não saía do lugar. Não tenho certeza do que estou fazendo e cada dia que passa não tem volta, não dá para recuperar. É na verdade uma canção sobre anseios por pequenas coisas, sabe?


Como foi trabalhar com a sua irmã em “It´s So Easy” – o dueto com Don Henley?
Fui até Nashville porque minha irmã é compositora de country music, e fui lá para escrever umas músicas com ela. Na verdade, nós fizemos “Its So Easy” para outro artista, e eu liguei para o Jimmy Iovine na Interscope Geffen A&M Records e disse que minha irmã e eu tínhamos escrito esta música, e que era muito boa. É uma valsa. Em 3/4, 6/8 basicamente, bem country. Ele disse, “Bem, vamos ouvi-la”. Mas ele adorou a música, me ligou e disse, “Você tem que gravar”. Conheço Don Henley há 14 anos. Foi muito legal porque ele foi um dos primeiros caras para quem eu fiz vocal de apoio. E a canção sempre me soou como um dueto. Ela, definitivamente, tem uma relação homem-mulher embutida. É basicamente sobre pessoas que vivem um relacionamento clandestino que sabem que é errado, mas é tão difícil se desligar, se separar, e isso é um sentimento universal. Não sei quantas pessoas já viveram um relacionamento adúltero, mas definitivamente todo mundo já esteve num relacionamento que sabia não ser adequado ou coisa assim. Mas de qualquer forma, ele é o rei do country rock e, também, eu o amo.


O que inspirou “You re An Original”, com Lenny Kravitz?
“You re An Original” é mais uma de comentário social, sabe? Realmente o conteúdo das letras deste disco é baseado no fato de como um observador vê o que está acontecendo na música pop… virou norma agora alimentar o público norte-americano – ou talvez mesmo o público do mundo todo – com coisas que sejam totalmente digeríveis e inteligíveis. A gente não quer coisas realmente originais e eu tenho tanto respeito por pessoas que, de fato, aparecem com algo original!


Como você acabou trabalhando com Emmylou Harris em “The Weather Channel”?
Eu estava em Nashville logo depois do 11 de setembro. Na verdade, talvez um ou dois dias depois. Foi muito estranho. E aquela música já tinha surgido de um lugar tão sombrio… Eu liguei para Emmylou e disse, “Eu estou muito a fim da sua voz nesta música”, porque a voz dela, para mim, representa algo mais profundo do que uma voz terrena. Para mim é algo muito espiritual. A voz dela tem poder de cura – se eu estivesse doente iria simplesmente colocá-la para tocar sem parar e sei que me curaria.


Que tipo de impacto você espera causar com C´mon, C´mon?
É um momento confuso porque se você prestar atenção no que está acontecendo na música pop, você pode achar que só garotos de 13 anos estão comprando discos e eu sei que seria muita sorte se tivesse uns garotos de 13 anos comprando meu disco. Mas eu acho que eu tenho sorte. Ei, vou pegar o dinheiro deles. Mas eu me sinto com sorte se qualquer um comprar meu disco, então nunca sei quem está comprando e a única coisa que realmente quero dizer ou desejo que aconteça é que este disco tenha o impacto que as músicas de quando eu era jovem tiveram. Eu gostava tanto das canções com as quais cresci e elas realmente criaram a cinematografia dos meus verões, dos meus invernos, dos meus outonos e das minhas primaveras, todas associadas a acontecimentos da minha vida, tipo ir a bailes de formatura ou tirar a carteira de motorista ou então, a primeira vez que meus pais me proibiram de sair de casa. Espero que as pessoas encontrem alguma coisa no disco que tenha significado para elas e que ele represente também liberdade e individualidade e o sentimento definitivo de que tudo é possível.



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Site oficial: Fica no endereço www.sherylcrow.com.

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