Entrevista com Rodrigo Amarante, baixista do Los Hermanos
Não são gritos no microfone, nem letras e melodias repetitivas que fazem de Los Hermanos a banda mais respeitada da atual música popular brasileira. Ao contrário, as vozes aveludadas e as letras bem construídas dos compositores Marcelo Camelo (guitarra e voz) e Rodrigo Amaranete (baixo, guitarra, tamborim e voz) ao lado da precisão de Bruno Medina (teclados) e Rodrigo Barba (bateria) querem mesmo é emocionar, seja fã ou crítico musical.
“Viu, não é só fazer a entrevista. Tem que ir ao show”. Inclusive os críticos? “Claro, eu quero que vá todo mundo!”, disse Rodrigo Amarante, que mal chegara a Curitiba e já partia em direção ao aeroporto Afonso Pena rumo ao Rio de Janeiro onde se uniu na noite do dia dos namorados à Orquestra Imperial.
Numa sexta-feira treze, dia de Santo Antônio, Amarante se apresentou ao lado dos Hermanos lançando o terceiro álbum de uma banda, cuja fidelidade ao próprio trabalho é muito mais louvável do que qualquer letra de rock´n roll engajada.
No caminho para o aeroporto, o vocalista mais conhecido como Ruivo, conversou tranquilamente por telefone.
P: Vocês estão estreando a turnê do “Ventura” em Curitiba. Dê uma prévia do que o público ouvirá.
R: Vamos tocar muita música nova. Praticamente mais da metade do show, porque a gente pensa que o público que vai nos assistir quer ouvir as novas canções. Eu sei que isso não é comum, o show acaba se tornando mais contemplativo. Mas o set list (roteiro) do show, a gente decide na hora mesmo.
P: Este terceiro disco, que chegou às lojas há três semanas, seria considerado um meio termo entre o sucesso de público conquistado por “Anna Júlia” e o “Bloco do Eu Sozinho”, segundo àlbum, muito elogiado pelos jornalistas?
R: Aconteceu uma série de fatores, causas e consequências alheias à banda. O sucesso do primeiro CD é certamente atribuído à Anna Júlia e por isso o pessoal da gravadora com a qual tinhamos assinado (a Abril Music), achou que repetiríamos a fórmula da canção. Mas nós não estamos neste meio pela grana. Nós somos amigos, companheiros na carreira artística. Acabou que o nosso segundo CD foi taxado de experimental, de difícil…
P: …e o que é ser difícil?
R:Pois é, ser difícil, é estar dentro da música popular? Eu nem sei o que significa ser experimental. O que aconteceu foi que a BMG, a nossa nova gravadora, apostou na banda. Eu não recrimino o que aconteceu com o “Bloco…”, não. A história fez acontecer.
P:Você mesmo é o idealizador das mensagens estampadas nas suas camisetas. Outro dia apareceu num programa de tevê com uma camiseta onde estava impressa “Estética. Est ética”. Até que ponto os críticos de música no Brasil se preocupam com a estética? Existe crítico de música?
R: É difícil dizer. O ato de criticar deve ter um objetivo. Se não for arte não existe objetivo. A função do critico é traduzir, interpretar o objeto artístico a quem não tem acesso à obra. É chamar a atenção do público para o trabalho do artista. O que acontece é que os críticos acabam se confundindo com o artista e publicam opiniões pessoais. São poucos os que pensam antes de escrever, hoje em dia. Por exemplo, a maioria dos jornalistas repete o que o Pedro Alexandre (Sanches, da Folha de S. Paulo) escreve. Depois que se escreve a primeira crítica, a tendência é repetí-la. Aqueles que criticam são pouquíssimos.
P: Mas o próprio Pedro Alexandre Sanches disse que os Tribalistas foram responsáveis pelo momento de renovação da música popular brasileira e por que não vocês?
R: De forma alguma eu concordo com isso que ele disse. Eu citei o Pedro, mas claro que não concordo com tudo o que ele escreve. O próprio texto que ele escreveu sobre o “Ventura”, de algumas coisas eu gostei, outras não. Se eu for me preocupar com tudo o que escrevem, entro em depressão. Afinal, é só a opinião de um cara. O que um amigo meu fala tem muito mais valor.
P: E quando alguém tenta decifrar qual é o destinatário e/ou sobre o que a canção alude? Alguns participantes do grupo de discussão sobre a banda na internet diziam que o Marcelo Camelo compôs “De onde vem a calma”, última faixa do CD, para um homossexual, o que não é necessariamente uma verdade.
R: Eu gosto de enxergar uma lacuna entre o compositor e o interlocutor. A lacuna acaba sendo um convite à interpretação, como se fosse desvendar um enigma. A nossa MPB fundou aquilo que se chama de “entrelinha estrita”, como uma conseqüência da ditadura. E a cultura incorporou essa entrelinha como se fosse algo sofisticado. O Marcelo fez “Conversa de botas batidas”, por exemplo, a partir de uma notícia de jornal, sobre um desmoronamento. Mas eu já ouvi outras interpretações como alguém, dizendo que a música se trata de uma mulher que quer fugir, algo assim. Mas no fundo, no fundo tudo tem a ver com o amor.
P: O efeito pra quem ouve as canções compostas por você e pelo Marcelo Camelo, principalmente as do “Bloco..”, é um tanto terapêutico?
R: (Risos) É essa que eu chamo de “a nossa política”. Tem gente que fala: “Vocês tem que olhar pro social”. Mas a nossa política é emocionar. É fazer com que as pessoas que escutam nossas canções olhem pra dentro de si e vejam que podem ser uma pessoa melhor. Eu não agrego um valor coletivo, do tipo: “ouço Los Hermanos, estou engajado”. Mas o importante é o romantismo, o otimismo. Isso sim pode mudar o mundo.
P: Daqui a alguns minutos você vai pegar o avião com destino ao Rio de Janeiro onde vai fazer o baile dos namorados com Orquestra Imperial. O que você acha do dia dos namorados?
R: O dia dos namorados não tem nada a ver com romantismo. Existe o sentido popular e o acadêmico da palavra romantico. Ser romantico, não é entregar flores. Mas tem muito mais a ver com ser otimista, embora para alguns seja motivo de piada, ingenuidade.
P: E para a sua namorada?
R: Ah…não comprei nenhum presente não. Eu dei todo o meu amor. A gente se presenteia diariamente.