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Entrevista com Kid Vinil

Músico, radialista, jornalista, produtor musical e ainda executivo de gravadora, Kid Vinil é um dos brasileiros que mais entende de boa música, seja ela alternativa ou do mainstream, seja rock ou eletrônica. Fazendo um belíssimo trabalho no departamento internacional da gravadora paulista Trama, que com sua ajuda tem lançado por essas terras tropicais o que de melhor se produz lá fora, Kid está voltando a aparecer na nossa cena musical na condição que ele mais gosta: como artista. Sua banda, o Magazine, que estava sem gravar desde 1993, lançou no final do mês passado o bom disco “Na Honestidade”, muito bem recebido pela imprensa e por fãs fãs das antigas.

O MúsicaNews levou um bate-papo exclusivo com Kid na última sexta-feira, na sede da Trama. Ele nos falou sobre a volta do Magazine, o novo disco, planos para shows e claro, sobre o mercado independente brasileiro. Confira.

MúsicaNews: Para começar, uma curiosidade: qual seu nome verdadeiro? E de onde surgiu o apelido “Kid Vinil”?
Kid: Meu nome verdadeiro é Antonio Carlos Senefonte. Kid Vinil surgiu num programa punk, new wave na rádio em 78 para 79. Já que não quis usar meu nome, criei Kid Vinil, que é a junção do nome de dois DJs da BBC de Londres. Como são nomes que deram certo em português, ficou uma brincadeira muito a ver comigo, que sempre fui colecionador de discos.

O Magazine, quando surgiu em 1983, causou um grande frisson por ser uma banda muito irreverente. Agora ele ressurge em 2002 trazendo quais novidades?
Quando surgimos tinha a onda punk e nós éramos mais pop, new wave. Antes de ser Magazine, éramos uma banda que tocava só punk, o Verminose. De certa forma o punk é muito reciclável e sempre gostamos de fazer rock pesado, desde a primeira fase, e resgatamos isso nesse trabalho novo. Agora tem essa onda dos anos oitenta, não só aqui como lá fora, e que coincidiu com a época que estamos soltando o disco.

E o bom humor ainda está presente…
A coisa do bom humor aconteceu porque não somos uma banda séria, e éramos influenciados pela jovem guarda, que é mais inocente. A crítica social aparece com uma pitada de bom humor. Muitas pessoas acham que isso está fora de moda, mas pra gente, isso nunca importou… O bom humor existe em todo tipo de rock, até estrangeiro, e às vezes, as pessoas não entendem a letra da música que não passa de uma piada… Rock tem bom humor, ou é político, ou critica social. Sempre gira em torno dos mesmos assuntos. E nós optamos pelo bom humor…

Por que não incluíram nenhum dos antigos sucessos?
Essa formação está há mais de três anos junta, mas a possibilidade de gravar aconteceu só no ano passado. Testamos várias músicas em estúdio, e achamos que essas 13 músicas tinham mais a ver com a unidade do trabalho e com a banda. Colocamos músicas inéditas para que não soasse como uma volta baseada em música antiga, porque só isso é meio chato…

Até mesmo porque da banda original só estão você e o baterista Trinkão, certo?
Isso mesmo, só eu e o baterista somos da formação antiga. O baixista (Ayrton Mugnaini) trabalhou comigo no Verminose. O guitarrista (Carlos Nishimiya) é sangue novo, trouxe idéias novas, e produziu o disco…

Vende seu peixe, fale aí sobre o “Na Honestidade”
Na Honestidade é um disco mais maduro no nosso trabalho. O título mostra que esse é um disco de rock’n’roll honesto, não tem muitas concessões, no sentido de ter que fazer sempre uma música mais comercial. A faixa título é inclusive uma das que a gente mais gosta, porque achamos a letra muito legal. Tem muito a ver com o Brasil e essa corrupção toda, imagine um político dizendo – “eu vou chegar lá nem que seja na honestidade!”.

Nessa linha de crítica social, há outras músicas no disco que tem algum tipo de crítica implícita?
O disco todo tem um lado social forte, fala de flanelinha, de desemprego no país. Sem precisar ser duro, nem xingar ninguém… Estamos tratando esses temas do dia-a dia com humor, para ser percebido nas entrelinhas o que está se passando no momento.

Você acha que a música deve estar carregada de mensagens sociais?
Não. Não obrigo que a musica trate de política, nem seja retrato de uma época, é uma questão de opção de estilo. Mas, naturalmente os grupos acabam retratando a sua própria sociedade e seu dia-a-dia.

Esse disco, do dia do seu lançamento até o dia 25 de março, estará sendo vendido apenas pela internet. De quem foi a iniciativa de soltar o disco primeiro em loja virtual?
Foi do pessoal da Trama. Eles estão investindo bastante em internet. A Trama tem um site e quer investir muito no comércio virtual. Afinal, cada vez mais cresce o número de computadores, de portais e a dependência da pessoa pelo computador. Eu perdi o interesse pela televisão por causa do meu computador!!

Inclusive, você como colecionador de discos deve usar muito a net para comprar as novidades…
Isso me ajuda demais, porque eu compro discos até em leilões, vinis raros… Faço cada negócio nos sites que você não acredita! Se não fosse a net, não aumentaria cada vez mais a minha coleção.

E em relação à sua pesquisa de música eletrônica: como ela influencia seu trabalho?
Eu ouço muito a música eletrônica, mas nunca fui de agregar muito, porque sempre fui mais rock básico, mais pop rock dentro do meu trabalho… A banda também é meio arredia à música eletrônica. Acho que essa é a única tendência que eu não consegui agregar ao meu trabalho.

Além de divulgação via internet, vocês irão trabalhar a música em meios convencionais, tipo rádio, fazer videoclipe, etc?
A primeira música, “Conversível Irresistível”, soa muito bem, e já até mandamos para as rádios. O engraçado é cada um que ouve, escolhe uma música diferente para ser single. É bom que não exista apenas uma música de trabalho, e sim tenha várias que as pessoas gostem!

E shows?
Ah sim! Temos planos para a partir de abril começarem os shows, clipes também…

Nos shows vai rolar sucessos antigos como “Tic Tic Nervoso” ou “Sou Boy”?
Com certeza… e temos arranjos novos muito legais para essas músicas.

Nos anos 90 vocês lançaram um Cd independente, o “Xu-Pa-Ki”. Como era esse disco?
Esse Cd foi lançado pelo Verminose, em 1993. Até tentamos colocar em gravadora, mas era muito punk e não deu muito resultado. Daí, prensamos só 300 copias com uma capinha caseira e distribuímos na Galeria do Rock…

Pretendem relançar esse disco?
Tenho vontade, principalmente com esse bom momento para punk. Mas primeiro vamos trabalhar o “Na Honestidade” e ver o que dá.

Como você trabalha a seleção do segmento internacional pela Trama?
Eu viajo muito, pesquiso na internet o que está acontecendo lá fora, acompanho o crescimento da carreira deles e trago para cá.

Além da Trama, que outros trabalhos você já realizou?
Nos anos 80, eu trabalhei com várias rádios, como a 89Rock, Brasil 2000, 97Fm (quando tocava rock). Já trabalhei na Eldorado Discos e na Continental/Warner. É uma coisa que eu faço paralela a minha carreira de músico.

Você tem uma relação muito próxima com o mercado indie. Quando surgiu seu interesse por ele?
Eu estava na Eldorado. Tentava até trabalhar o mercado indie no Brasil, que até então não tinha ninguém interessado em investir. Quando vim pra Trama, fui atrás dos selos e lancei Pizzicato Five, Belle & Sebastian. Tive bons resultados. Agora as pessoas começaram a ouvir essas bandas, se interessar pelo mercado independente.

E como você vê o mercado independente aqui no Brasil?
O mercado independente do Brasil tem muita coisa legal acontecendo, e a mídia em geral não dá muito espaço para isso. Há trabalhos que fogem de querer ser igual a Paralamas, Legião, as bandas dos anos 80…Tem muita garotada nova fazendo um trabalho legal e diferente. Só falta eles aparecerem mais.

Qual a diferença entre o mercado independente brasileiro e o estrangeiro?
Lá o mercado independente é muito bem organizado. Eles têm jornais semanais, críticas… O que falta no Brasil é uma mídia trabalhando com isso. O país é muito grande, tem público consumidor para isso. Duvido que não tenha 100 mil jovens que queiram ler sobre música independente.

Mas a internet está cumprindo esse papel de cobertura das novidades da música independente no Brasil, não?
É. A internet está fazendo isso, mas a imprensa escrita é muito importante. Em Londres isso funciona muito bem.

Gostaria de deixar algum recado?
O músico tem que ter o lado manager, ser investidor. Tem que ter coragem, ir a luta. Todos que conseguiram vencer foram por esse caminho. Pense em meios alternativos, seja bancas de jornal, internet, mas não pode se entregar!

Mais Kid Vinil & Magazine (clique nos links em azul)
Site oficial: No site oficial do Magazine você pode ler um faixa-a-faixa (com as músicas tocando ao fundo) do disco “Na Honestidade” e baixar o MP3 de “Conversível Irresistível”, dentre outras coisas. Há também uma seção imperdível com músicas raras da banda…

Coluna: Quem anda com saudade das dicas de Kid no programa Lado B, ainda pode conferir o que o ruivo tem a dizer acessando a coluna dele no site da Trama.

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