Entrevista com Jorge Vercilo
O cantor/compositor Jorge Vercilo está lançando o seu quarto disco, “ELO”, segundo pela gravadora EMI. Nele, Jorge continua a investir em uma linguagem que o aproxima da black-music, mas sem esquecer a MPB que é a sua essência. Dizer que Jorge Vercilo lembra este ou aquele ícone da nossa música é tentar estigmatizar um artista que já provou com o seus trabalhos que tem personalidade e potencial únicos. Abaixo, Jorge fala sobre este novo trabalho:
MúsicaNews: Você ainda tem influência, no seu trabalho, do Djavan?
Jorge: No início de minha carreira era uma referência, algo mais próximo dele. Mas neste eu posso estar e no próximo eu não estarei. Isso de notar eu deixo pras outras pessoas perceberem qual a distância do meu trabalho para o dele.
Fale deste novo disco
Este é um disco especial. O nome dele (ELO), marca a passagem de uma realidade menor para uma maior. Eu tive a felicidade de trabalhar com a minha equipe nele. Eles fizeram o trabalho anterior (o disco Leve), tocaram nos shows da turnê e agora gravaram este Cd comigo.
Mas você teve autonomia ao realizar este trabalho?
Sim. O Calazans (Paulo Calazans, produtor), que é um músico muito conhecido, me ajudou muito. Mas o último toque sobre o que seria feito era sempre meu.
Neste disco há algo que tenha uma forte carga espiritual?
A letra de “Suave” é uma homenagem ao meu filho, à esposa e a uma deusa-mãe que pode ser Iris, Oxum ou outra qualquer. Ela é meio maquiada porque eu não tenho uma religião. O lado espiritual sempre esteve presente no meu trabalho.
Em que faixas do disco se notam com mais intensidade as influências da música negra?
“Homem-aranha” tem uma coisa negra que fica longe da programação da bateria, por exemplo. “Do jeito que for” é um baião com música negra na onda da salsa. O que ficou diferente é permanecer distante dos “loopings” e preferir uma percussionista. Eu me vejo como quem faz MPB e ao mesmo tempo adora música negra.
Estamos no momento em que a EMI dispensou alguns artistas e está contratando pouco. Você é uma exceção, com um CD de material inédito sem regravações. Como foi isso?
O meu disco anterior, “Leve”, não foi trabalhado na minha antiga gravadora, Continental. Eu saí dela e fui fazer um disco independente. Gravei com um dinheiro que eu tinha guardado. Encontrei o Djavan, e ele aceitou participar de “Final feliz” e ela começou a tocar no nordeste. Eu então larguei o violão e virei empresário durante meses. A música começou a tocar no Rio, sem jabá. Com a venda dos discos no nordeste, eu investia em chamadas para os shows. O disco independente vendeu 10.000 cópias e eu fiz um show no Canecão, sem patrocínio. O artista hoje em dia não pode esperar ser descoberto, tem que se fazer descobrir. Eu fiz o disco pequeno pensando, trocando idéias com as pessoas do mercado fonográfico. Ele, independente, era meu. No momento que deu certo, e cresceu, fez com que eu procurasse uma “major” para administrar este bolo que cresceu.
Você então era o empresário de você mesmo?
Sim. Nós estamos falando de mercado. Eu vendia direto para os lojistas do nordeste. Com a venda eu reinvistia nas chamadas de meu shows, que fiz no Canecão e no Rival. Não precisei ficar batendo nas portas das gravadoras.
Como você vê o mercado fonográfico?
O mercado quando fica bom, se torna oportunista. Quando as coisas estão mal, ele se abre para as coisas novas terem possibilidades de acontecerem. A cultura de regravações é nociva pra esta coisas novas.
Como é a relação com o diretor musical Torquato Mariano?
É muito legal. Ele diz que eu faço até o trabalho de editor musical. Quanto da escolha da música de trabalho, “Que nem maré”, as pessoas da gravadora concordaram comigo e eu fiquei feliz com isso. Ela é a mais ampla.
Ela, “Que nem maré”, já está tocando bem nas rádios. Quanto você espera que o disco venda?
Eu não tenho muito este tipo de expectativa. O “Leve” vendeu 25.000 cópias. Neste, estamos trabalhando para que venda 100.000, mas se vender mais que o “Leve” ficará de bom tamanho.
Mais Jorge Vercilo
Site oficial: No endereço www.jorgevercilo.com.br, traz agenda de shows, biografia, discografia, etc.