Entrevista com Gustavo Drummond, vocalista da banda Diesel
Com quase quatro de anos muita batalha, a Diesel já é o que se pode chamar de uma banda bem sucedida no cenário underground. Formada na capital mineira Belo Horizonte, a banda vem sendo considerada pela crítica especializada como a mais promissora do cenário brasileiro desde o Sepultura, já tocou – com grande aceitação – no exterior e vendeu 2 mil cópias de seu primeiro CD, gravado e distribuído de forma independente, e cujas músicas são todas cantadas em inglês.
Vencedora da Escalada do Rock, promovida pela organização do Rock in Rio III, que a escolheu dentre mais de 2 mil bandas para ter o direito de se apresentar no Palco Mundo do festival carioca, a Diesel fez o seu debut para o grande público no dia 21 de janeiro, num palco em que se apresentaram grandes nomes do rock nacional e mundial. Nesta entrevista, o vocalista Gustavo Drummond nos falou sobre influências, o preconceito contra as bandas brasileiras que cantam em inglês, as dificuldades da carreira e claro, Rock in Rio III e planos para o futuro. Confira:
Música News: Uma recente nota sobre o Diesel diz que este grupo “parece ter saído de um beco de Seattle” e vocês dizem que o rock do Diesel ultrapassa a influência do grunge. Até onde o grunge de Seattle influencia vocês? E fora do grunge, tem alguma influência?
Diesel: Nossas influências não se restringem à música. O fato de escrevermos as músicas que escrevemos está diretamente ligado à forma como experimentamos o mundo, ao nosso dia-dia, ao amor que sentimos um pelo outro como amigos e irmãos, aos lugares que visitamos, etc. Em se tratando de bandas e movimentos musicais, a afirmação “parece ter saído de um beco de Seattle” está por conta de quem a escreveu. Tivemos, todos do Diesel, uma grande admiração por bandas como Nirvana, Soundgarden e Screaming trees, que punham a honestidade musical acima de interesses mercadológicos. Em contrapartida, temos a mesma admiração por artistas como Jeff Buckley, Nil Lara, Seal, UAKTI, Tortoise, Guns n roses, Fairh no More, Lenine (entre outros), o que faz com que nossa fonte musical seja bem mais diversificada do que apenas o estilo “grunge”.
Música News: E como é para uma banda com três anos de estrada ser reconhecida pela mídia como a banda mais promissora do cenário brasileiro desde o Sepultura? Vocês conhecem pessoalmente o Sepultura? E eles, conhecem vocês?
Diesel: É muito gratificante. Pois eles foram ídolos que nos inspiraram durante a infância a seguir o caminho da música. Tivemos a oportunidade de conhecer o Sílvio Gomes (roadie) que apresentou o Diesel para o Igor, o Andreas e o Paulo. O Igor foi em um dos nossos shows, disse que achou porradão, o Andreas, acho que não se interessou muito e o Paulo foi o que mais gostou.
Música News: Sobre os planos para o mercado internacional: vocês pretendem, assim como o Sepultura, dar prioridade ao mercado externo? Vocês acham que é possível serem amplamente reconhecidos também em nosso país, como o Sepultura nunca foi de verdade?
Diesel: Pretendemos dar igual prioridade para o Brasil e pro mundo. Achamos, sim, que é possível. O Sepultura, é a única banda brasileira que pode se gabar de encher estádios em qualquer parte do mundo. Isso, na minha opinião, é um puta reconhecimento.
Música News: Ainda existe um preconceito no Brasil com os grupos nacionais que cantam em inglês, como vocês? Já gravaram alguma canção em português?
Diesel: Sim, existe. No Brasil, existe um ranço de patriotada em muitas pessoas. Sinto que essas pessoas se acostumam tanto a ver copa do mundo e Guga no Globo esporte, que elas criam uma grande expectativa em relação a qualquer artista que busque a internacionalização. Essa expectativa, na minha opinião, oriunda da relação vencedor x perdedor do esporte e de um senso de patriotismo vago e nebuloso, cai em cima da cabeça do músico ou da banda, que acaba por sentir uma obrigação de “vencer”, de “trazer medalha”, quando muitas vezes, a banda que canta em inglês busca apenas ser ouvida pelo máximo de pessoas possível, sem precisar de estar “competindo”. Ainda não gravamos nenhuma música em português, ainda não saiu. Porém, pretendemos gravar. A única exigência é que soe bem para os nossos ouvidos. Se não soar, não faremos.
Música News: O que representa para a carreira de vocês a vitória na Escalada do Rock? Vocês acreditavam desde o início que podiam chegar lá? Já haviam participado de algum outro festival de bandas?
Diesel: Representa um atalho muito grande. Nós já tínhamos uma carreira sólida no Underground brasileiro e com certeza demoraríamos bem mais para chegar a tocar num festival desse porte se não tivéssemos ganhado a escalada. Não acreditávamos porque achávamos que a banda vencedora seria uma banda que preenchesse todos o “pré-requisitos” do mercado brasileiro. Nunca pensamos que agindo da forma inflexível como agimos, sem abrir concessões a absolutamente nada, pudéssemos conseguir. Nunca tínhamos participado de nenhum festival.
Música News: Com esta vitória o grupo ganhou o direito de ter seu disco lançado pelo selo Rock in Rio, a ser distrubuído pela Trama. Vocês chegaram a procurar algum selo para lançar este primeiro álbum, antes de surgir esta oportunidade da Escalada do Rock?
Diesel: Buscamos gravadoras ao redor do mundo e temos recebido algumas propostas.
Música News: A internet ajudou na distribuição e divulgação do álbum de vocês? E depois que lançarem este álbum pelo selo Rock in Rio, como vocês pretendem se utilizar da internet para divulgá-lo mais e mais?
Diesel: Sim. Foi fundamental. Muitas pessoas conheceram nosso trabalho pelo site www.diesel.art.br e por nossa página no mp3.com. Com o disco regravado pelo selo do RIR, pretendemos melhorar e atualizar um sistema que tem se mostrado satisfatório na divulgação.
Música News: E em que pé está essa questão do lançamento do CD de vocês pelo selo Rock in Rio? Já está sendo distribuído? De que formas as pessoas podem adquirir o disco?
Diesel: Ainda estamos em negociação em relação ao lançamento do CD. Por enquanto o CD pode ser adquirido pelo correio com a gente mesmo. É só pedir pelo email diesel@diesel.art.br que nós enviamos as instruções de pagamento.
Música News: Numa entrevista que deu ao Multishow no dia 21/01, o Phillipe Seabra, da Plebe Rude, disse que estava curioso para ver o show de vocês, revelando que tinha dado uma nota “fantástica” para a banda no concurso Escalada do Rock. Ele chegou a falar com vocês depois? Algum outro artista que se apresentou no RiR os procurou no backstage para “mensagens de apoio” ou algo parecido?
Diesel: Ele falou com a gente depois do show da Escalada e foi muito simpático conosco. No show do dia 21, o Tianastácia e Habagaceira vieram nos cumprimentar e desejar boa sorte.
Música News: Qual foi a sensação da banda ao subir no palco do Rock in Rio III e ver aquela multidão ali? Rolou um friozinho anormal na barriga?
Diesel: Foi uma sensação de alegria por ter nosso trabalho reconhecido e finalmente levado ao grande público. Não ficamos nervosos, apenas ansiosos pra tocar logo e mostrar nossas músicas. Tocamos com o coração na ponta dos dedos para aquelas 200 mil pessoas assim como fizemos nos shows com a platéia em 3 ou 4 pessoas. A empolgação foi a mesma. Em termos de divulgação, foi obviamente o mais importante show da nossa carreira.
Música News: E ao final, por que vocês foram para junto do público?
Diesel: Fomos para o público porque queríamos comemorar o fato de estar ali com as pessoas que nos ajudaram a estar ali. Haviam muitos amigos de BH e fãs da banda naquele miolo e foi um prazer poder abraçá-los.
Música News: Por falar em público, percebeu-se pela televisão várias faixas de incentivo à banda e no início da curta apresentação até um coro “Diesel, Diesel, Diesel…”. Esse pessoal é de algum fã-clube da banda, amigos, algo assim?
Diesel: Muitos deles sim, eram nossos amigos, ou fãs de outras cidades que conhecemos em nossas turnês pelo Brasil. Mas acho que foi a imensa maioria do público desse dia, que obviamente nunca tinha ouvido falar da gente, que entendeu nossa proposta, gostou da banda e entoou o coro.
Música News: Ainda no palco quando você anunciou que iria ter que interromper o show, você disse que a banda não iria sumir, que vocês já tinham passado por várias dificuldades e que nem por isso colocaram uma loira e uma morena rebolando no palco para agradar ao mercado mainstream. Conte-nos um pouco sobre estas dificuldades. E situações curiosas, aconteceram muitas?
Diesel: Tem tantas que eu nem sei por onde começar…. Tem uma história de quando estávamos em Florianópolis morrendo de fome, sem grana e tivemos que trocar nossos CD por sanduíches numa barraquinha, outra vez, numa espelunca horrível que nos hospedamos não tinha banheiro e o Jean quase cagou no chão…Tem várias… O que eu quis dizer foi que nós sempre preferimos enfrentar situações não muito favoráveis a abrir concessões ao mercado mainstream.
Música News: Após a apresentação no RiR III, abriram-se muitos novos horizontes para a banda?
Diesel: Sim. Agora recebemos muito mais propostas para shows, entrevistas, etc. Vemos isso como algo positivo.
Música News: E agora, quais são os planos da banda? Vocês objetivam um dia poder levar a música de vocês ao grande público, seja ele nacional ou internacional, ou preferem continuar tocando para o restrito – mas fiel – público underground?
Diesel: Pretendemos tocar para o máximo de pessoas possível. Gostaríamos de regravar esse CD, lançá-lo mundialmente e fazer turne por 1 ano e meio ao redor do planeta. Depois, voltar a tocar em lugares pequenos, gravar outro disco e começar tudo de novo.
Saiba mais sobre o Diesel
www.diesel.art.br – Site oficial da banda mineira, traz fotos, notícias, release e informações/instruções sobre como adquirir o CD do grupo.