Entrevista com Dean Wareham, do Luna
Formado em 1992 por Dean Wareham – que nos anos 80 esteve à frente do Galaxie 500, um dos grupos mais importantes do cenário independente norte-americano, o grupo nova-iorquino Luna esteve pela primeira vez no Brasil há duas semanas, se apresentando em seis cidades entre os dias 21 e 27 de setembro. Na passagem de som feita antes de uma dessas apresentações – a de Curitiba – a repórter Jeanne Callegari conversou com o vocalista e guitarrista Dean. Abaixo você confere esse bate-papo:
MúsicaNews: – Você mora perto do World Trade Center, em Nova Iorque. Como você se sente em relação ao atentado?
Dean: Acho que todo mundo está atordoado. É bom não estar lá, por um tempo. Falei com minha irmã, ela disse que a cidade está voltando ao normal, um pouco. Estão jogando beisebol e futebol de novo.
Sua relação com música vem da infância?
Acho que todo mundo tem música em casa quando está crescendo. Meus pais ouviam Bee Gees, Nina Simone, Elvis Presley, e ainda gosto dessas coisas. Mas a idade em que a música mais excita é a adolescência. Para mim, isso foi no fim dos anos 70, era a explosão do punk. The Clash, Sex Pistols e Ramones, Talking Heads, Blondie, Television…
Quando você começou a tocar guitarra?
Eu tinha 19 anos e estava na universidade. Tinha uma banda chamada Speedy and the Castanets. Éramos terríveis. Era eu, Damon, do Galaxie 500, e outro amigo nosso.
Você, Damon e Naomi (Galaxie 500) estudaram juntos na escola…
Sim, Naomi era um ano mais nova que nós. Começamos o Galaxie 500 em 1987.
E como aconteceu a melhora da sua primeira banda para o Galaxie 500?
É uma boa pergunta. Acho que a coisa mais difícil para uma banda é encontrar o próprio som. De algum modo, conseguimos encontrar uma boa sonoridade, com a ajuda de Kramer, nosso produtor. Foi uma surpresa. Quando saímos do estúdio, pensamos “isso soa bem”, e as pessoas acabaram gostando.
A semelhança com o som do Velvet Underground foi espontânea?
Eu era um grande fã do Velvet, gostava desde adolescente. Meu irmão mais velho tinha discos do Lou Reed. Definitivamente temos influência do Velvet. Mas não acho que soamos como eles. Algumas músicas parecem, mas não no último disco. Acho que ninguém parece com o Velvet Underground. Na primeira formação eles tinham violino, o baterista tocava de pé…
O Luna abriu shows para o Velvet Underground, em 1993.
Sim, na turnê européia. Foi muita sorte podermos assistir àqueles shows de cima do palco. Acho que eles tocaram muito bem.
Você ainda ouve punk rock?
Bem, não ouço Green Day ou Blink 182. Nos anos 70, Talking Heads era considerado punk, hoje não. Hoje, punk significa tocar como o Clash, música alta e rápida.
O que você está ouvindo agora?
Tenho o novo disco da Björk. Comprei discos aqui no Brasil, Jorge Ben e samba de raiz. Também tenho ouvido Strokes, Moldy Peaches… Madonna. Gosto do último disco dela, apesar de odiá-la. E Flaming Lips, The Only Ones…
No álbum Penthouse, há uma versão de Bonnie and Clyde com Laetitia Sadier, do Stereolab. Como aconteceu a parceria?
Conheci Laetitia quando estava no Galaxie 500, antes do Stereolab existir. Anos depois, fomos contratados pelo mesmo cara para o selo Elektra. Ele disse para fazermos uma música juntos e Laetitia escolheu Bonnie and Clyde. Ela me ajudou com meu francês. Agora, com Britta na banda, podemos tocar a música nos shows.
Suas músicas e discos favoritos, do Luna e do Galaxie 500.
Do Luna, gosto muito de Moon Palace e Friendly Advice. O disco favorito é Penthouse. Do Galaxie 500, as músicas são Temperature Rising e Dont let our youth go to waste, e o disco é Today.
Como você compõe? Há uma versão de que você guarda anotações nos bolsos, e junta tudo no dia da lavanderia…
Há um pouco de exagero nisso… Sabe, tenho anotações em margens de livros. Nunca sento e escrevo uma música inteira, é mais como um quebra-cabeça. Escrevo a melodia, depois vou para os livros ver quais palavras podem se encaixar. É trabalho duro. Não é fácil. Pode ser fácil para Bob Dylan, mas não para mim.
Como foram os shows no Brasil?
Muito bons! O problema é que os microfones dão choques, isso é irritante. Mas muitas pessoas vieram, São Paulo foi ótimo. Eu não sabia o que esperar, nas entrevistas só dizia “não sei”. O Brasil é muito exótico para nós.