Entrevista com Bianca Jhordão, da banda Leela

A entrada dos cariocas do Leela no “mainstream” do rock nacional é algo dado como certo por muitos. Sobre essa banda, que no final de abril fez seu show mais importante, abrindo para o ex-Pavement Stephen Malkmus na versão paulista do Abril Pro Rock, é seguro dizer que trata-se de uma das mais badaladas do “underground” brasileiro. Em entrevista por e-mail, a vocalista e guitarrista da banda, Bianca Jhordão, falou não só sobre o status atual do Leela como ainda esclareceu os boatos de que a banda estaria prestes a assinar com o selo Deck Disc; falou sobre a saída abrupta da baixista Kátia Dotto e a entrada de Melvin, do Carbona; e criticou a falta de união do underground carioca, entre outros assuntos.
Para situar o leitor, uma apresentação da banda (quem-é-quem e experiências passadas) e um resumo da carreira de vocês até o momento.
Bianca Jhordão: Eu – vocal e guitarra. Uma das fundadoras do Polux, banda que durou 3 anos. Atualmente também toca guitarra na banda do Fausto Fawcett.
Rodrigo Brandão – guitarra. Tocava no Moebius e no Polux
Luciano Grossman – bateria. Tocou um tempo no Moebius com o Rodrigo e atualmente também toca com o “Luisa Mandou um Beijo”.
Melvin – baixo. Toca no Carbona e já tocou com um monte de outras bandas do underground.
Como surgiu o convite para tocar no Abril Pro Rock? Você acha que o Abril Pro Rock paulista tem tanto “peso” como “vitrine” quanto o pernambucano?
Bianca Jhordão: A gente tinha mandado uma demo do Leela pro Paulo André (organizador do festival) no começo do ano passado, mas ele já estava com o festival daquele ano fechado e falou que colocaria a gente no de 2002. Também no ano passado, ele viu nosso show em Natal, no MADA e curtiu a banda. Mas a confirmação mesmo veio por email. Já conhecíamos o Paulo André quando tocamos com o Polux no Abril de 98, em Recife. Achamos o festival fantástico. A edição de Recife tem mais peso sim porque já tem a tradição e pelo tamanho e estrutura também, mas o de São Paulo está começando a engrenar.
Recentemente a baixista Kátia Dotto saiu da banda para entrar no Penélope. Pouco tempo depois, foi anunciado que o substituto dela seria o Melvin, membro-fundador do Carbona. Como foi, na realidade, esse processo todo? O quão polêmica foi a saída da Kátia? Você acha que o Melvin já está 100% integrado à banda?
Bianca: Em janeiro desse ano, pouco antes da nossa turnê para o Sul, o Luisão (guitarrista da Penélope) ligou para a Kátia dizendo que a baixista deles tinha saído e que eles queriam que a Kátia entrasse no lugar dela. A Katia falou com a gente e combinamos que ela iria sair da banda logo depois da turnê do Sul. Já tínhamos alguns shows marcados e iríamos fazer com o Christian do Jimi James, que já tinha substituído a Kátia no ano passado quando ela foi viajar. Lógico que ficamos tristes por ela sair porque já tínhamos vivido mais de 1 ano juntos. Mas ela curte bastante a Penélope e viu ali uma oportunidade para crescer como música. Só que depois da estréia dela na banda, ela resolveu sair da Penélope para se dedicar a carreira solo. Quanto ao Melvin, ainda é cedo pra falar que ele está 100% integrado, porque ele só tem dois meses de Leela. E eu, Rodrigo e Luciano já estamos juntos há um tempão, já temos uma história juntos. Mas no geral tem sido legal tocar com ele.
O Leela é, atualmente, a banda independente de maior destaque do Rio de Janeiro, e uma das mais próximas de um contrato. Quais são as metas da banda? Vocês acham que existe algum tipo de “prazo” para a banda decolar de você, uma “janela de oportunidade”?
Bianca: Esse lance de estar próximo de um contrato é meio relativo porque nem sempre esses caras de selos e gravadoras estão antenados com o que tem rolado na cena de rock. Na verdade, nem sabemos se esse esquema gravadora grande irá continuar por tanto tempo, já que parece que elas estão muito mal, em processo de falência. Acho que, além da pirataria tão alardeada, elas gastam muito dinheiro em produtos ruins que não vão pegar de jeito nenhum, o pessoal que administra essas companhias vive muito distante da realidade, não sabem o que acontece na real, não vão a shows, não acompanham as coisas direito não. Nossa meta é gravar um disco e depois pensar em como lançá-lo. Não ficamos na paranóia de quando a banda irá decolar. Tudo tem seu tempo, e se tiver que chegar nossa hora, vai chegar. As coisas mudam muito rápido e não tem como ficar fazendo planos a médio/longo prazo. O lance é no aqui e agora.
Ainda sobre gravadoras. A ambição é, sem dúvida, assinar com uma major, certo? Mas vocês considerariam a possibilidade de assinar com um selo menor ou até lançar um disco de forma independente?
Bianca: Lógico que ter uma gravadora dá um certo status pra qualquer banda, porque já tem um esquema maior, tem dinheiro pra marketing, consegue uma melhor distribuição do disco, etc. Mas hoje estamos numa fase de transição, numa fase de que ninguém sabe como vai ser o futuro desses grandes esquemas. O maior problema de se lançar independente é que você acaba não tendo verba pra tocar no rádio, que é o que faz uma banda estourar. Mas é óbvio que consideramos muito a hipótese de se lançar independente ou por um selo menor.
Rumores circulavam por aí de que a banda esteve muito próxima de assinar com a Deck Disc, mas o negócio acabou não se realizando. O que aconteceu de verdade?
Bianca: Nunca estivemos perto de assinar com a Deck. O que rolou foi que o Rafael quis gravar umas músicas nossas no estúdio dele. Gravamos 5 músicas e estamos distribuindo para algumas pessoas, não vamos vender esse material. É como se fosse uma pré do nosso disco.
O som da banda tem algum compromisso direto com o rótulo, o conceito atual? Vocês acham que a proposta da banda permita mudanças radicais, musicalmente? Dá para imaginar o que o Leela vai estar fazendo em dois ou três anos?
Bianca: Nosso som tem o compromisso de nos agradar, não estamos presos a nenhum conceito. Acho que depois de um tempo, toda banda passa por transformações, o que se reflete diretamente no som. Acho impossível prever o que iremos fazer daqui a 2 ou 3 anos, mas espero que seja muita música boa!
Ao contrário da ampla maioria das bandas independentes, vocês não disponibilizam mp3s de suas músicas no seu site oficial. Por quê? Quais as vantagens de agir assim? Qual a postura de vocês na questão de mp3s vs Direitos autorais?
Bianca: Na realidade nosso site oficial nunca ficou pronto e por isso não colocamos. Mas quando pensamos em disponibilizar mp3, pensamos em colocar músicas ao vivo, versões, etc, não as músicas que temos gravadas porque o mp3 perde muito em qualidade sonora, mas se alguém quiser disponibilizar não vemos grandes problemas.
O Leela conseguiu uma evolução, um crescimento muito rápido com muito pouco tempo de banda. Muitos dizem que os contatos angariados pela banda em todos esses anos que vocês participam do underground foram fundamentais. Isso procede? É essa a maior justificativa para o crescimento da banda? Uma vez que os contatos são feitos, qual a melhor maneira de usá-los?
Bianca: Sim, nossos contatos ajudaram muito, mas se a banda não fosse boa não teríamos essa evolução rápida. Como eu e Rodrigo já tínhamos trilhado o caminho do Polux, que foi realmente uma escola pra gente, conseguimos ultrapassar algumas barreiras. Já sabíamos como chegar nos lugares, como fazer nosso kit para imprensa, como chegar nas pessoas, enfim, já tínhamos uma noção do melhor meio de trilhar nosso caminho.
Dentre todas as bandas cariocas, o Leela foi a que fez o maior número de shows fora do Rio, incluindo aparições importantes em shows de destaque. Dá para traçar alguma comparação entre o meio “underground” carioca e o de outros lugares? Muitos defendem a idéia de que o Rio tem um “underground” fraco e desorganizado, e, em contrapartida, o sul do país, por exemplo, oferece condições bem melhores às bandas iniciantes. O que vocês acham disso tudo?
Bianca: O meio underground carioca não é unido, perde muito tempo falando mal das outras bandas, o público está cada vez menor e os lugares não tem estrutura e nem pagam as bandas. Nos outros estados, os lugares tem esquema bilheteria ou cachê, o público vai nos shows, compra cds, se diverte e as bandas parecem se apoiar. No sul realmente tem um esquema bacana porque lá as rádios apóiam as bandas locais, tem muitos lugares e cidades pra tocar.
Diz-se muito hoje em dia que, para chegar a algum lugar, uma banda tem que ter um diferencial. Qual seria o diferencial do Leela?
Bianca: Fazer um som que nenhuma outra banda faz. Cantar temas sobre o universo feminino de uma maneira singular, apesar de termos afinidade estética com várias outras bandas alternativas do país, achamos nosso estilo único. Não que isso seja uma grande vantagem, às vezes pode até atrapalhar, mas temos orgulho de nos vermos assim. Goste ou não goste da banda, ninguém pode dizer que somos iguais a nenhum outro artista, apesar de termos nossas influências sonoras bem claras.
Entrevista publicada originalmente e gentilmente cedida pelo blog CincoMinutos.
Mais Leela
Site Não-Oficial: Localizado no www.leelahp.hpg.com.br, o site não-oficial da banda traz informações básicas como biografia e perfil dos integrantes, além de uma seção de fotos bem caprichada, com registro de vários shows.
Ouça: Apesar da banda não disponibilizar “oficialmente” suas músicas para download, dá para achar e baixar, com um pouco de persistência, algumas canções da Leela em sites de troca de músicas, como o AudioGalaxy. Neste, por exemplo, encontra-se com mais facilidade as músicas “Ver o que faço”, “Nenhuma Palavra” e “De Vez”.