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Entrevista com Autoramas

       Formada por um trio de ex-integrantes de outras bandas, Gabriel Thomaz (ex-Little Quail and the Mad Birds), Simone do Vale (ex-Dash) e Bacalhau (ex-Planet Hemp), a Autoramas acaba de lançar seu segundo álbum, “Vida Real”, gravado ao vivo no estúdio. Com basicamente os mesmos ingredientes do primeiro disco, “Stress, Depressão e Síndrome do Pânico”, letras ácidas e hilárias e influências de psichobilly, punk rock, batidas new wave e som dos anos 60, o Autoramas salva o rock brasileiro da mesmice requentada e “acústica”, como já diria Eduardo Stoller, da Senhor F – a revista do rock.


       Em entrevista ao MúsicaNews, Simone e Gabriel falaram do novo disco, mercado fonográfico e ainda deram dicas pras bandas que estão começando. O que eles querem? “… tocar, tocar e tocar”. Confere aí!


MúsicaNews: Rola sempre uma curiosidade em relação aos nomes das bandas, então… porque Autoramas? :-)
Simone: A gente queria um nome sonoro, que desse idéia logo de cara da personalidade da banda. E também porque nós três somos frustrados porque nunca tivemos um autorama da Estrela.O Bacalhau pediu pra avó dele, e ganhou um Ferrorama.


Gabriel: Bem, primeiro porque foi o melhor nome que a gente achou, e como nenhum de nós nunca teve um autorama, ficamos felizes em sê-los agora.


No primeiro disco, “Stress, Depressão e Síndrome do Pânico”, a base das letras são explosões de rancor, frustração, vingança,… enquanto o novo disco, “Vida Real”, as letras falam mais de amor. A temática da banda mudou?
Simone: A temática é a mesma, mas ela foi se equilibrando, se expandindo, e as letras possuem a mesma personalidade de “Stress…” . Quando a gente fala de amor, fala de um jeito Autoramas, tem muita ironia nas entrelinhas. Nós não mudamos o nosso jeito de ver as coisas, dá pra sentir isso em “Paciência”, “Deus me deu um cérebro”, “Minha Guerrilha particular”, que são uma continuidade das idéias de “Fale mal de mim”, “Autodestruição” e “Tudo errado”.

Simone, você disse uma vez que “… o underground [no Brasil] é uma falta de opção”. Vocês querem é ser populares?
Simone: Nós queremos o nosso espaço, sem rótulos, sem delimitações de território. No Brasil as bandas independentes são injustamente sentenciadas a um espaço X, que é o nosso underground. Não existe segmentação de mídia, não existem meios dessas bandas alcançarem o objetivo de viver do seu trabalho. Quando eu digo que o underground é a falta de opção, parafraseando meu amigo goiano Márcio, dos Mechanics, eu quero dizer que aqui as bandas se criam no underground, se desenvolvem, lançam seus discos, mas infelizmente ficam restritas ao celeiro. Ao contrário da Europa e dos EUA, que têm um mercado segmentado, no Brasil só sobrevive quem consegue entrar numa brecha no mercadão. Ser popular é conquistar a liberdade de mostrar seu trabalho para um público maior e poder viver de música. Queremos ser populares, acho que todo mundo quer.


Gabriel: Queremos que quanto mais gente possível venha a conhecer o nosso som e ouvir nossas letras.


Simone, a sua ex-banda, Dash, tinha um destaque no meio musical e recebeu elogios do Dave Grohl do Foo Fighters. Conta pra gente como foi isto.
Simone: É engraçado porque eu não tive nada a ver com essa história, eu nunca vi o cara, nem mandei material nenhum pra ele. Parece que alguém mandou um K7 pra ele com uma música do Dash, e o Robert Halfoun, que entrevistou o Dave Grohl, perguntou que bandas brasileiras ele curtia. E o homem me soltou essa, foi muito legal.


O Autoramas é formado por integrantes que tiveram experiências com outras bandas. O baterista Bacalhau vem do Planet Hemp, o vocalista e guitarrista Gabriel fez parte da Little Quail and the Mad Birds e a baixista Simone veio da banda Dash, bandas conhecidas e alternativas. Isto de alguma forma facilitou a trajetória dos Autoramas? Quais dicas vocês podem passar para as bandas que estão começando?
Simone: Facilitou muito, porque quando a gente se juntou, já sabia o que queria, já conhecia as pessoas a quem nós deveríamos entregar material pra marcar show, pra divulgar a banda, essas coisas. As gravadoras já conheciam o trabalho do Gabriel como compositor, e isso abriu muitas portas pra gente. Quem está começando tem que ter sempre muito carinho, muito capricho em tudo que faz, desde o nome da banda, passando pela execução de cada músico, nos releases, nas demos… cada detalhe é importante pra caramba. Tem que ter na cabeça que existem 10.000 bandas tentando o mesmo objetivo, então você tem que ter o seu diferencial, a sua personalidade, a sua verdade, sem se preocupar com moda, com tendência. É isso que vai fazer as pessoas se interessarem pelo seu trabalho.


Gabriel: Com certeza, fez tudo andar mais rápido. Para as bandas recomendo:sejam originais!


Sem tirar da reta: qual a música que cada um de vocês não suporta? E qual o último, bom, disco que compraram?
Simone: Eu não suporto nada que seja malemolente e que tenha batuque. Tipo Calcinha Preta, odeio essa merda. O último disco bom que eu ouvi eu ganhei do meu ídolo Tor Zanatas, do Zumbis do Espaço. É o “Abominável mundo monstro”, é sensacional!!!!!


Gabriel: Não suporto bandas fabricadas, no Brasil temos aos montes.O último disco que comprei foi um vinil do Burt Bacharach.

Quais as bandas favoritas do Autoramas? Quais são as maiores influências?
Simone: B-52´s, Devo, Dick Dale, Pixies, Jovem Guarda… tem muita coisa. As influências são tão múltiplas, que eu nem saberia dizer qual é qual! Acho que tudo que a gente vê de bom, que é marcante pra cada um, acaba passando pela corrente sanguínea. A gente gosta de muita coisa, mas ao mesmo tempo elas não refletem na banda de um jeito que dê pra dizer”ah, isso parece isso” e “aquilo parece aquilo outro”.


MúsicaNews: O que tem de pior e melhor na música hoje?
Gabriel: De melhor tem Influenza, Guitar Wolf, Jon Spencer Blues Explosion, Weezer, o novo do Los Hermanos. De pior, é só ligar no programa do Gugu.


Por que regravar “Você não soube me amar”, da Blitz, nesse segundo Cd de vocês?
Simone: A gente adora essa música! O Gabriel tem uma coleção de vinil cheia de coisas da época, muita coisa bizarra que a gente adora, tipo Gengis Khan, Trio Los Angeles, Bianca… e foi fuxicando nos compactos que ele teve a idéia. A gente é uma das poucas bandas que têm um vocal masculino e feminino, por que iríamos deixar passar a oportunidade de nos divertir gravando “Você não soube me amar”?

O Cd “Vida Real” será vendido apenas no Rio de Janeiro e São Paulo, além da internet. Por que?
Simone: A tal da dona crise explica tudo. Apesar dela, o CD tá indo super bem, já tem loja no terceiro pedido. Aonde ele bate, some.


Gabriel: A vida é difícil, o nome “Vida Real” tem razão de ser.

Já vi muita gente com grande nome na música nacional que fala maravilhas do Autoramas, um exemplo é o Dado Vila Lobos. A banda tem um som excelente, mas não vemos muita divulgação pelo país. O que falta para o Autoramas estourar? Qual é a “política” da Universal em relação a vocês?
Simone: A gente não tem essa preocupação de estourar. A gente tem sim a preocupação de dar continuidade ao nosso trabalho. O Autoramas é livre pra ser uma banda de rock de verdade no Brasil, e não tem ninguém nos obrigando a ser diferente, o que já é uma conquista e tanto. A Universal é muito legal com a gente, eles fazem o que pode ser feito. O que nos cabe é tocar.


Gabriel: Nossa meta é tocar, tocar e tocar, não entendo nada de mercado fonográfico, A NOSSA “política” é fazer um som cada vez melhor.


Saiba mais sobre o Autoramas
www.autoramas.com.br – No site oficial da banda, mantido pela própria Simone do Vale, você encontra fotos da banda, discografia, letras e mp3, além de links para sites de bandas, selos e informativos. Vale uma visita!

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