Entrevista com a cantora Luciana Mello
Jovem, inteligente, dona de uma voz simples e bela e de atitude expressiva em cima do palco. Luciana Rodrigues Mello de Oliveira é um desses raros casos de filhos de artistas que conseguem constituir uma identidade própria e produzir música nova.
Seu último lançamento, Olha Pra Mim, é menos pop que os primeiros dois, e bastante diferente de “É Assim que se Faz”, disco homônimo à música que popularizou no mercado. Dos anos em aqui acompanhava o pai no “backstage” até seu último disco, muitas foram as mudanças. Desde gravadora, até a abordagem do CD, sendo que o último, lançado pela Universal tende a ser mais intimista que o anterior.
Num bate-papo informal com Central da Música, a simpática e bem informada Luciana falou de seu atual momento, de concepções pessoais e é claro, de música. Confira:
CDM: Como você começou a desenvolver sua musicalidade?
Luciana: Aos 6 anos… comecei a fazer aulas de piano, depois canto e assim foi…
CDM: Apesar de ser filha de um grande e consagrado músico brasileiro, você trabalha com estilos sonoros bem diferentes do dele. Isso se deve ao fato de pertencer a uma outra geração ou é predileção por outros estilos?
Luciana: Não sei, acho que os dois… tudo no meu trabalho é o que eu gosto de escutar, o que eu gosto de cantar. Algumas coisas diferentes do que meu pai gosta de escutar, outras não. Fazemos música todos os dois…
CDM: Todos os três, né (rs)… (numa referência a Jair Oliveira, irmão de Luciana)
Luciana: Todos os três, é verdade… e a minha mãe é a empresária. Fica ali estruturando as coisas.
CDM:O grupo que participou do projeto artistas reunidos vem sendo apontado como a vanguarda da música nacional. Vocês tem em comum a jovialidade, o fato de estarem no backstage há muito tempo, a “influência genética” (sem a pejoratividade da expressão), o fato de serem músicos polivalentes… e a principal diferença é que cada um de vocês tem um estilo predominante. Como você avalia esse grupo de artistas ?
Luciana: Somos amigos, nos conhecemos há muito tempo. Conheço esse pessoal desde os 15 anos e a gente começou a fazer música. Nós trabalhamos juntos mesmo estando em gravadoras diferentes. No meu disco o Max compôs uma faixa junto com o Jair, o Pedro Mariano participou cantando “Por Amor a Você”, que é um samba-bossa, o Jair é meu produtor, a nossa parada é amizade, é música, é nosso interesse me comum.
CDM: O que a artistas reunidos trouxe para o seu trabalho?
Luciana: Tudo, trouxe tudo. As principais músicas que eu cantei no disco “É assim que se faz” foram cantadas primeiramente e ao vivo no artistas reunidos. E também minha experiência de palco, essa coisa do ego dos artistas. Você ter que dividir o palco com mais 6, aprende a dosar porque são mais 5 dividindo o palco com você. Eu aprendi demais com os artistas reunidos… foi uma época de ouro na minha vida. Nós fomos pra Cuba, interior de São Paulo, trabalhamos 2 anos com o projeto.
CDM: Você estava falando que não gosta muito do rótulo de “grupo responsável pela nova cara da MPB”…
Luciana: … Eu acho que todo o rótulo é mal visto. A nossa turma está aí há muito tempo e as pessoas, talvez porque só agora conheceram o nosso trabalho, falam “Ah, a nova cara da MPB”. Talvez seja por causa de uma carência, o Brasil está carente de muita coisa, de música, de cultura. Não porque não haja, pelo contrário, tem muito até… mais do que imaginamos que tenha… só que passamos por um momento de massificação e de carência de ídolos. Então acaba acontecendo a rotulação para ter algo a que se apegar.
CDM: Seu primeiro CD não teve nenhuma composição assinada por você. No terceiro existem 2 (uma só e outra assinada com o seu irmão Jair de Oliveira). Por que a súbita decisão por gravar composições próprias. Você passou a compor a pouco tempo?
Luciana:Não… componho desde sempre. Só que eu não me pressiono pra nada. Eu tenho compositores maravilhosos na minha frente, amigos. Talvez nunca tenha sentido essa pressão. Foi um momento, a vida é feita de momentos e a arte é um momento do que você vive: hoje eu quero pôr duas, amanhã nenhuma…
CDM: Então pode rolar um Cd seu com todas as composições suas?
Luciana: Mais tarde, talvez. Por enquanto não tenho essa pretensão não.
CDM: A temática principal de “Olha Pra Mim” são os sentimentos intimistas. Você se considera uma cantora romântica?
Luciana: Eu sou uma pessoa romântica. Gosto de amor, de ser amada e não é só com namorado, mas com amigos, família, sou muito carinhosa com as pessoas. Eu me considero uma porta-voz de sentimentos, me expresso através da arte, acho que o mundo precisa disso. Quando fiz o CD era a época do 11 de setembro, estava tudo muito confuso, todo mundo falando de guerra, de problema… eu quis sair disso…
Já me perguntaram se eu, como porta–voz, não devia falar dos problemas. E cara, tem tanta gente pra falar dos problemas. Eu sou consciente, posso falar dos problemas, se você me chamar pra uma entrevista eu falo dos problemas, do que eu acho de solução, mas acho que quem vai ouvir meu disco não está a fim de pensar nos problemas, então não posso ficar “martelando problema” na cabeça dessa pessoa…
CDM: Até porque às vezes a pessoa está fim de relaxar…
Luciana: Ela quer relaxar, curtir, ela vai ao show querendo esquecer de todos os problemas que ela passa.
CDM: Não teme que essa linhagem de músicas românticas e intimistas te deixe estereotipada, que as pessoas pensem que Luciana Mello nunca abordará temática social?
Luciana: É bacana que pensem, porque quando eu fizer vai ser uma surpresa (risos).
CDM: Seu disco tem a participação de músicos do naipe do Marcelo Maita, no piano, do seu irmão Jairzinho Oliveira no violão e nos arranjos e composições até do Max de Castro. Dá pra fazer um bom disco com grande vocalista e uma banda mediana?
Luciana: Não… na verdade o vocalista acaba sofrendo um pouco mais. às vezes o vocalista é “do caçamba” mas a banda é “mais ou menos”, o show é ruim, aí as pessoas tem um pouco de dificuldade de entender o que realmente não estava legal, e saem pensando que o problema é com o cantor. Na verdade, como é o nome do vocalista que está ali, ele acaba “pagando um pouco mais”. Lucina Mello, por exemplo, não sou só eu… mas toda a minha equipe de produção, músicos, dançarinos, minha empresária, produtor do disco. É como uma empresa, você não trabalha sozinho, mas é teu nome que está lá. Então tem que estar tudo certinho, de acordo com o que eu acredito, porque é meu nome que está lá pra bater.
CDM:Como é a interatividade com a banda em cima do palco?
Luciana: Show de bola… são meus irmãos… eu amo os meus músicos. Graças a Deus eu estou com a mesma banda há dois anos e a gente se dá super bem, eles fazem sempre tudo pra que o show saia sempre maravilhoso… acaba virando família mesmo… acabo vendo mais eles que meu próprio irmão.
CDM: Música é arte e não serve apenas para nos distrair e entreter, mas para elevar nosso nível de compreensão e consciência da vida que levamos, do mundo em que vivemos e de quem somos. Os músicos de hoje, estão comprometidos com esse ideal artístico e social?
Luciana: Nem todos, muito poucos…
CDM: E “Luciana Mello”, faz arte por que?
Lucina: Porque é isso o que eu sei e gosto de fazer. Acho que arte pra mim é toda a forma de expressão, música, dança, espetáculo. É a forma que eu vi de me expressar, de passar as coisas que gosto para as pessoas. Sou extremamente feliz com a minha vida e procuro passar sempre alegria, felicidade e paz para as pessoas…essa foi a maneira que eu encontrei e está dando certo.
CDM: A mudança de gravadora trouxe alguma modificação para o seu trabalho?
Luciana: Nenhuma…artisticamente falando nenhuma. A mudança de gravadora foi uma coisa natural do processo. Acho que o que mudou no meu trabalho foi a maturidade. Do “Assim que se faz” pro “Olha Pra Mim” foram dois anos. Em relação à gravadora hoje eu posso, graças a Deus, ter um acesso a mais pontos de venda.
CDM:Qual a sua intenção quando está no palco? O que você tenta passar para o público?
Luciana: Alegria. Fazer com que pelo menos durante uma hora e meia as pessoas esqueçam os problemas… que estejam lá pra se divertir, cantar, dançar, namorar.. Fico feliz quando vejo um casal se beijando, porque eu penso que tem gente fazendo guerra, xingando, se aborrecendo… e existem coisas tão boas.
CDM: Este é um momento profissional positivo… sua imagem foi há muito desvencilhada da de seu pai, sua aceitação mercadológica é boa e seus trabalhos costumam ser elogiados pela crítica… e no plano pessoal, como está o seu momento?
Luciana: Feliz da vida. Isso é tudo o que eu sempre quis. Acho que quando você se dedica a vida inteira a fazer um trabalho e ele dá certo, qualquer pessoa fica super feliz, né? Eu to tranquilíssima.
CDM: Quais são suas pretensões “além música”?
Luciana: (risos) Nossa, que pergunta profunda… e abrangente. Acho que não posso esperar muita coisa do mundo, porque eu não tenho muito que fazer pelo mundo. Tenho então que fazer pela minha comunidade. Eu tenho muito essa coisa de Natal das crianças carentes, deficientes, a minha famílias tem isso de ajudar e tal. Eu tenho uma utopia, que acho que todo mundo tem… de ver o mundo sem guerra. Eu fico triste e choro até vendo TV, essa situação. A nossa vida não vale nada mais…
CDM: Não é muita gente que tem essa utopia não…deveria ser, mas não é não…
Luciana: Acho que muita gente até tem, mas não temos muito que fazer… o que a gente pode fazer é fazer nosso lar melhor, ajudar nossa comunidade. Eu, como artista, acho que tenho uma responsabilidade social muito grande, porque alcanço mais pessoas
CDM:Atualmente existe uma gama enorme de recursos tecnológicos que possibilitam ao artista transformar e adaptar a sonoridade de forma que elas se tornem exatamente como primordialmente imaginadas ou sofram adaptações a ponto de transformar Bossa Nova em música dançante. Seu Cd tem momentos bem dançantes. Você acha que seria possível fazer um Cd tão moderno e dançante sem esses recursos?
Luciana: Os recursos estão aí, e se não estivessem, seria outro disco, outro tipo de música…
CDM: E a mistura de tecnologia com obsoleto, tais como instrumentos “ultra-modernos” juntamente com ventai… te agrada?
Luciana: Eu misturo muito, não me preocupo muito com conceitos, se o som agradou eu ponho no disco.. Eu tenho uma linha com meu produtor, a gente senta, traça uma linha e dentro disso vamos “brincando”…
CDM: Pra fechar a entrevista, o que gostaria de deixar para o seu público?
Luciana: Sejam felizes na vida e tratem com respeito todas as pessoas que estiverem ao seu lado, não importa cor, sexo, raça, idade, nada. Acho que as pessoas precisam se respeitar um pouco mais e se dar ao respeito principalmente. A minha palavra chave é essa. Respeito e honestidade.