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Entrevista: Bianca Jhordão bate um papo sobre o Leela

É, eles chegaram lá – ou pelo menos estão chegando. O Leela, banda formada em 2000 por músicos calejados na ralação underground carioca – Bianca Jhordão (vocal e guitarra), Rodrigo Brandão (guitarra), Luciano Grossman (bateria) e Melvin (baixo) – acaba de se tornar a primeira banda independente do século XXI a assinar com uma gravadora. A banda assinou um contrato de cinco anos com o selo Arsenal, do produtor Rick Bonadio (Mamonas, Charlie Brown Jr., Rouge) e estará entrando no estúdio paulista Midas em março para gravar o disco.


Em quase três anos de existência, o Leela já passou por vários shows e festivais, subiu ao palco com artistas como Dado Villa-Lobos e Fausto Fawcett, apareceu em vários lugares importantes da mídia (uma das primeiras matérias sobre a banda apareceu na finada ShowBizz, depois foi a vez da revista Domingo, do Jornal do Brasil), etc. Num dos festivais, o Porão do Rock, chegaram a dividir horários com bandas famosas como Rodox, Sepultura e Rumbora. A atual situação de banda contratada ainda é novidade para o quarteto, que está se acostumando aos poucos, mas Bianca promete não deixar de lado o cenário underground, no qual sempre foi atuante (uma de suas empreitadas é o programa Lado Bia, ao lado da cantora Bia Grabois, cujo site é www.ladobia.kit.net).


Conversamos um pouco com a Bianca Jhordão (por e-mail) e ela falou um pouco sobre o Leela, sobre como a banda está agora, sobre como deve ser o disco (o repertório ainda está sendo fechado) e sobre música em geral. Confiram:


CENTRAL DA MÚSICA: Pra começar, uma curiosidade que eu tenho há um tempão e que nunca vi respondida: de onde vem o nome Leela?
BIANCA JHORDÃO: Leela é um nome que significa “brincadeira dos deuses” para os hindus. Essa brincadeira simboliza todo o “jogo cósmico” a que vida proporciona a todos nós. Tem a ver com uma maneira otimista de se ver a vida, onde tudo é uma grande brincadeira, que mesmo em grandes tragédias você encontra um lado bom, uma grande lição.


O Leela é a primeira banda atuante no underground brasileiro a assinar com uma gravadora no século XXI. Já deu pra se acostumar com a situação? Como fica isso na cabeça de vocês?
Ainda não nos acostumamos. Acho que só vou começar a entender quando iniciarmos as gravações do disco, ter uma música na rádio e começar a fazer shows num esquema que até então a gente não fazia. Ainda não sabemos bem como será ter uma estrutura, uma equipe trabalhando pra banda, ainda ficamos fazendo e controlando tudo (se bem que isso acho difícil deixarmos totalmente de lado). A diferença é que agora temos uma perspectiva mais concreta, estamos trabalhando com um objetivo bem definido. Temos a preocupação de não nos afastar do undergound, das bandas novas e poder dar força pra cena sempre que possível e de alguma forma.


Ouvi “Ver o que faço” na Fluminense FM numa versão quase punk/heavy. É a do disco? O som de vocês no single era uma coisa mais indie rock, dá pra esperar um som bem mais pesado no primeiro CD?
Esse EP com a versão de “Ver o que Faço” que toca na Fluminense, foi gravado em fevereiro de 2002 pelo Rafael Ramos. Com certeza essa é uma música que iremos regravar (com algumas modificações na estrutura) e tem boas chances de ser o single. Mas a que você ouviu na Fluminense ainda não é a do disco. Nosso primeiro single deve ir pras rádios só em abril, se tudo der certo!


Vocês chegaram a tocar e compor com o Fausto Fawcett. No disco vai pintar alguma coisa feita com parceiros ou vão ser mais músicas do grupo, mesmo?
A maioria das músicas do Leela são feitas por mim e pelo Rodrigo, mas tem as que fizemos em parceria com o Fausto como “Romance Fugitivo”, “Qualquer Um”, “Último Jantar” e “Grande Novidade” que devem entrar no disco também. Ainda estamos fechando o repertório, queremos gravar 11 músicas e temos mais que isso. Vai ser uma escolha difícil, mas nada será descartado. Se não entrar nesse primeiro disco, entra no segundo ou então vai pro mp3.com, sei lá, heheheh…!


Volta e meia aparece na mídia aquela coisa de ficarem comparando você com a Paula Toller. Não dá uma certa irritação?
Não porque eu sei que as pessoas precisam comparar o novo a algo que já conhecem. E nada mais normal em me compararem com a Paula pela cor do cabelo, pelo timbre da voz e por ser uma mulher à frente de uma banda. Eu e Paula temos posturas diferentes e nunca me inspirei nela, apesar de respeitar e reconhecer a importância dela na música. Afinal, ela está aí há 20 anos e sempre no topo! Mas eu toco guitarra e o som do Leela é baseado em guitarras altas e distorcidas, coisa que nunca percebi no Kid Abelha, não que isso seja bom ou ruim. Quer dizer, pra gente é muito bom sim!


Com o Leela num esquema mais profissional, vai dar pra continuar com o Lado Bia e com os outros projetos que vocês estava fazendo, tipo a venda de camisetas?
Como o LadoBia é um programa ao vivo – e agora em 1180AM – nem sempre vou poder fazer, dependendo da agenda de shows e outros compromissos. Mas a Bia Grabois vai levar o programa e estamos até pensando numa substituta pra mim. Mas enquanto eu puder vou fazer o LadoBia sim, que eu adoro! Já a venda de camisetas é um projeto da dela sozinha, minha parte é só promover as camisetas, usando-as e isso vou continuar fazendo sim!


Como foi que vocês se aproximaram do selo do Rick Bonadio?
Nós não acreditávamos muito na história de que uma banda manda material pra um produtor, que adora e contrata. Mas foi assim com a gente! Mandamos nosso material pro Rick, que ouviu, gostou e nos procurou. Esse processo todo demorou uns 7 meses, mas quando nos encontramos pela primeira vez, já levamos a minuta do contrato e assinamos 3 semanas depois.


Não rolou de voces pensarem em gravar pelo selo da Kika Seixas, que é – ou era – mais próxima de vocês?
Sim, conversamos algumas vezes sobre isso e ela mesma tinha vontade de lançar o Leela. Mas o selo ainda está começando e divulgando o primeiro disco do Arnaldo Brandão. Eles ainda estão construindo uma estrutura para poder contratar novos artistas para o selo.


Em termos de equipamento, o que deve rolar no disco novo? Tipo: vão pintar coisas de theremin, moog, que nem tinham nos shows e no single?
Theremim com certeza vai ter. Já o moog não sei, apesar de sermos muito fãs do som dele. Se der, vamos tentar encaixar em alguma faixa sim. Devem rolar novos arranjos vocais e alguns efeitos novos sim.


Tinha uma coluna que você assinava no SURJ onde contava fatos curiosos do seu período no Polux. Nesse tempo de Leela deu pra pintar alguma história legal que nem aquelas?
Várias. O Leela já tocou e viajou muito. Nesses dois anos conhecemos muitas pessoas, dormimos em muitos lugares bizarros, tocamos em bares nada a ver e nos divertimos muito. Pra contar uma só é difícil, é que são histórias sempre ligadas a outros acontecimentos, por isso que eu precisava de uma coluna pra escrever as histórias do Polux. Quem sabe não faço uma coluna no site do Leela contando nossas novas histórias?


Dentro do rock nacional, existem uma série de bandas, como Detonautas, o próprio Charlie Brown Jr, que desde o início já visualizavam a entrada numa gravadora como sendo um fim, um objetivo. O que vocês visualizavam, quando começaram a banda?
Primeiro de tudo tocar pra se divertir e depois pra tentar viver disso. Se você não curte o que está fazendo fica difícil, ainda mais em termos de músicas, que é um lance muito de sorte, o caminho pro sucesso de público é totalmente abstrato. Acho que mesmo o Detonautas e o Charlie Brown, se você diz que eles já se formaram para conseguir uma gravadora, eles também tiveram que ralar muito para conseguir uma. Acho que o objetivo de todo artista é mostrar sua arte, no nosso caso, nossa música para o maior número de pessoas. E aqui no Brasil, enquando o esquema independente ainda não está estabelecido, a indústria fonográfica ainda cumpre esse papel, (às vezes mas cumpre).


O que você anda escutando ultimamente?
One by One, Foo Fighters, Amorama, Érica García e sempre Pixies.


Pra finalizar, um bate-bola:
Um disco
: O clássico Transformer, do Lou Reed.
Uma banda (estrangeira): Pixies
Uma banda (brasileira): Nação Zumbi
Uma cantora: Beth Gibbons, Portishead.
Um livro: Mate-me por Favor (livro que fala sobre a história do punk rock)
Um filme: O Anjo Exterminador – Luis Buñuel.
Uma banda amiga: Jimi James, aqui do Rio.
Uma revista de rock: Zero. Uma revista que fala de música e comportamento.
Um momento legal da história da música: O surgimento do Nirvana, rompendo todo o rock farofa que tinha na época!
Uma vontade: Continuar fazendo música e shows por muitos anos!
Uma mensagem para os fãs: Não acreditem somente no que está na grande mídia, corram atrás de novidades, novas bandas , novos meios de comunicação, etc. Prestigiem shows de novas bandas, comprem demos e ajudem o Brasil a ter uma cena de rock mais forte.


SITE OFICIAL: www.leela.com.br.

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