“Chegamos a participar de um festival com 2 pagantes”
Banda surgida no início dos anos 80, a década marcada pelo BRock, o Biquini Cavadão (nome sugerido por Herbert Vianna, dos Paralamas), formado por Bruno, Sheik, Álvaro e Miguel, começou tocando covers em festinhas de colégio, em 1983. O sucesso veio pouco tempo depois, com a música “Tédio”, gravada em uma demo que começou a tocar na extinta rádio Fluminense FM, a “Maldita”.
O compacto saiu em 1985 e no mesmo ano o Biquini lançou seu primeiro LP, “Cidades em Torrente”, que além do sucesso “Tédio” também emplacou “No Mundo da Lua” e “Timidez” dando à banda o título de revelação do ano de 1985. Depois vieram “A Era da Incerteza”, em 1987, e “Zé”, em 1989, que não tiveram a mesma repercussão. Depois de algum tempo fora da mídia, o Biquini volta à cena no ano seguinte, 1990, o relançamento de antigos sucessos remixados dá novo ânimo à carreira da banda. “Zé Ninguém”, “Vento Ventania”, “Impossível” e “Meu Reino” foram alguns dos hits que ajudaram o Biquini a ser novamente eleito, desta vez em 1992, banda revelação do ano.
A banda também marcou a história do BRock no mundo virtual, tendo sido a primeira a ter um email, lançar um CD com faixa interativa e um Website oficial. “Escuta Aqui” é o mais recente trabalho do grupo, que já emplacou a faixa título “Escuta Aqui” e “Você Existe, Eu Sei” nas rádios. Agora, com 15 anos de carreira, mais de mil shows por todo o Brasil, e sofrendo sua primeira baixa (Sheik deixou a banda no mês passado), o vocalista Bruno Gouveia, mineiro de Ituiutaba, fala sobre os fatos que marcaram a história do grupo, plágio, música digital e sobre o show que farão no Rock in Rio III. Confira:
Música News: No início de outubro, com duas apresentações no Centro Cultural São Paulo, o Biquini Cavadão completou 1000 apresentações ao vivo na carreira. O que significa esta marca para vocês? Destes mil shows, tem algum de maior importância?
Bruno – Tem vários shows em 15 anos que se destacam. Desde os que fizemos em lugares praticamente sem ninguém no começo da carreira (chegamos a participar de um festival de rock em Macaé-RJ em 1985 com apenas dois pagantes em um estádio de futebol!) aos mega shows com mais de 50 mil pessoas . Ficaria difícil fazer uma lista agora mas basta dizer que dos mil, nunca nos esqueceremos do primeiro, no Circo Voador em 16/3/85, e do milésimo, claro ;-)
Música News: Também neste ano rolou uma polêmica em que o colunista Álvaro Pereira Júnior, da Folha de São Paulo, acusou o Biquini de plagiar desavergonhadamente a canção “In Between Days”, do The Cure. Não foi nem a primeira nem a última vez que algum artista é acusado de plágio. No caso do Biquini e das bandas brasileiras, você acha que isso rola por coincidência ou que existe alguma “maldade”?
Bruno – Alvaro é um boboca, para começo de conversa. Poderia perder meu tempo contando a quantidade de besteiras profissionais que ele já fez (tenho a ficha completa), mas ele não merece. Sua acusação de plágio foi grave porque a palavra plágio tem um fundamento técnico. Precisa ter tantas notas em tantos compassos para isto. Se fosse plágio, já teria sido processado por Robert Smith, do The Cure, mas é ÓBVIO que não é. É uma reverência ao grupo que foi uma de nossas referências na década de 80. Se o Alvaro tivesse dito que era muito parecido, se insinuasse, eu o acharia besta mas seria a opinião dele. Agora, ele disse que copiamos. É o mesmo que dizer na imprensa que um jogador jogou dopado. Atenta contra nossa moral. Sugere que “roubamos” para ganhar dinheiro. Se quisessemos teríamos metido um bom advogado para ele se arrepender e pensar na vida enquanto voltasse a estudar engenharia química, pois como jornalista estaria ferrado. Ele sabe, morando nos Estados Unidos que tanto adora, que um erro como o que ele cometeu teria custado a carreira dele se trabalhasse lá…
Não há maldade nos casos citados [o colunista Álvaro disse também que "Óculos", dos Paralamas e "Ainda É Cedo", da Legião Urbana são plágios de canções gringas]. Há sim, referências. Se não fosse Haydn , o que seria de Beethoven? Se não fosse Mozart, o que seria de Stravinsky, e o que seria do rock se não fossem Elvis, Beatles e Stones? Será que todo reggae é plágio de Bob Marley? Estamos todo o tempo nos citando. E não há problema nisto. Plagiar é diferente. Plágio é crime e ninguém tem o direito de me chamar de criminoso!
Música News: Você lançou o site “Demos e Debuts”, em que artistas independentes podem mostrar o seu trabalho. Como surgiu esse projeto? Você vê a Internet como o melhor meio para um novo artista divulgar suas músicas? Alguma banda lançada pelo site já foi procurada por alguma gravadora?
Bruno: Era muito constrangedor para mim receber tantos CDs de gente na batalha, ouvi-los e ver que não tinha muito como ajudar, pois a contratação depende do humor dos caras da gravadora. Logo que saiu o MP3, vi então a possibilidade de ajudar na divulgação destas bandas, dando uma amostra para o público de uma das faixas, além de dar dados sobre as bandas. Detalhe importante, todas as bandas que participaram foram consultadas quanto a possibilidade de fazermos uma arquivo mp3 para disponibilizarmos na internet. Somente com o consentimento delas é que as colocamos no site. Dos artistas que disponibilizamos, Myriam Eduardo deverá gravar um disco pela Albatroz, Mr. Sombra chegou a tocar bem nas rádios do Rio e Alma DJem tem tudo para estourar. Que venham mais e mais!
Música News: O Biquini Cavadão foi uma das primeiras bandas nacionais a se ligar e a se pronunciar a respeito da questão da distribuição de música digital na internet. Recentemente você afirmou que o formato ideal de distribuição de música digital, tanto para artistas quanto para internautas, é o pouco conhecido “PlayJ”. Nesta questão de música digital, quais são, na sua opinião as vantagens e desvantagens dos outros formatos, como o mp3 e o Windows Media?
Bruno: O artista sempre teve quatro problemas básicos para mostrar seu trabalho: gravaçãoo de sua obra, divulgação de seu trabalho, distribuição de suas músicas e arrecadação de direitos. Para isto surgiram as gravadoras, que sempre custearam o trabalho em troca de 80% dos direitos. Estamos praticamente no século XXI. Gravar já não é tão difícil assim. Divulgação pode ser feita pela internet. A musica digital facilitará a distribuição, mas falta ainda um tipo de pagamento pelos direitos autorais. O PlayJ foi até agora o único projeto que mostrou uma forma do público não ter que necessariamente pagar pela música que baixa na internet. Através de propagandas (banners) enquanto toca, o usuário teria sua música e o artista o seu pagamento através dos patrocinadores. Muitos torcem pelo MP3 e sorriem ao ver grandes gravadoras tremendo de medo. Não acho realmente que os artistas na internet possam ser bem defendidos por quem sempre nos abocanhou a maior parte dos direitos autorais nos últimos 40 anos. Por outro lado, a queda das gravadoras apenas adia uma luta que temos pelos direitos autorais. Resta agora esperar para ver o desenrolar dos fatos.
Música News: O site do Biquini é bastante interativo, com muito MP3 e vídeos. Os dois últimos CDs apresentam uma faixa multimídia. Haverá algo parecido no próximo CD? O Biquini encontrou o som ideal com “Escuta Aqui”? Quais são os projetos futuros da banda?
Bruno – Estamos sempre em mutação. A saída do baixista Sheik neste fim de ano pressupõe uma mudança para o próximo trabalho, inevitavelmente. Como será o novo som do Biquini, só o tempo dirá, embora tenhamos ficado felizes com o trabalho de Paul Ralphes. Quanto a faixa interativa, digo que estou muito estafado de fazê-las. Talvez coloquemos apenas os videos do Escuta Aqui no próximo disco. Mas como o próximo disco poderá ser um ao vivo com mais de 14 faixas, talvez nem caiba uma faixa interativa.
Música News: Com a música “Janaína”, do penúltimo CD, o Biquini voltou a figurar no cenário do rock nacional. Como foi feito esse trabalho da volta da banda para o mercado e como você vê o futuro do rock da geração 80?
Bruno – Não fizemos trabalho de volta da banda. Apenas lançamos um disco em 98, após brigas e um ostracismo causado por uma péssima temporada na Sony Music, 1993-1996.
Música News: Atualmente você se considera um compositor mais experiente do que no início da carreira? Há alguma coisa no meio musical que você ainda não conseguiu realizar e tem o sonho de fazer??
Bruno – As vezes sinto falta de minha inocência para compor. Me policio um pouco nisto. As vezes, dizer o mais simples é melhor do que ser rebuscar em versos barrocos. Tentamos trazer para o CD “Escuta Aqui” letras com simplicidade e profundidade ao mesmo tempo. Quanto ao que eu não fiz, tem muita coisa. Um dia farei. Tudo a seu tempo: um disco solo, compor com mais amigos e tocar sem parar pelo país.
Música News: No dia 21 de Janeiro, o Biquini irá se apresentar na Tenda Brasil, do Rock In Rio 3. Como você vê a importância desse evento para a música nacional? Como será show de vocês?
Bruno – Nosso show vai ter 35 minutos apenas. Será curto e grosso, uma grande homenagem do Biquini à década de 80. Não faltarão convidados especiais. Aguardem!
Saiba mais sobre o Biquini Cavadão
www.biquini.com.br – Bastante interativo, o site do Biquini Cavadão traz o básico de todo o site oficial, como fotos, história da banda, as novidades, e incrementa com vídeos, trechos de todas as músicas de todos os discos e colunas pessoais de cada um dos integrantes do grupo. Tem até uma de dicas de culinária :o)