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Bidê ou Balde: “O rock sempre foi sobre amor”

       “Te fiz um rock, Melissa / Pode crer que é sobre amor”. As frases iniciais da canção “Melissa”, que por sua vez abre o álbum de estréia da Bidê ou Balde, revelam à que veio esta bem-humorada banda gaúcha: fazer rock, sobre amor. Com um dos figurinos mais transados do rock gaúcho – ternos e vestidinhos na onda dos anos 60, canções no estilo jovem guarda com referências ao rock brazuca dos 80, duas ótimas backing vocals / um vocalista debochado, e shows “antológicos”, a Bidê ou Balde é uma das melhores bandas da cena roqueira que domina o Rio Grande do Sul, e destas, a que vem sendo considerada como a de maior potencial para conquistar o Brasil.


       A banda, que está com seu disco de estréia “Se sexo é o que importa, só o rock é sobre amor” sendo distribuído em todo o Brasil pela Abril Music, e aos poucos vem ganhando terreno na mídia brasileira, deu em março um passo significativo rumo ao sucesso nacional: assinou contrato com a poderosa produtora de Manoel Poladian. Bati um papo por email com Carlinhos, o vocalista e principal compositor da BoB, que com a mesma personalidade, bom-humor e “dificuldade em separar verdade e mentira” que vem demonstrado em outras entrevistas, nos falou sobre o álbum de estréia, a cena roqueira do Rio Grande do Sul, mp3, e sobre o atual momento da Bidê ou Balde.


       Ajeite-se na cadeira, fixe os olhos no seu monitor, e leia com bastante atenção as palavras deste rapaz, que junto com os outros seis integrantes de sua banda, tem tudo para cativar os brasileiros que curtem um pop/rock divertido e sem estresse. Palavra de escoteiro :o)


(Ps.: Ao final da entrevista, corra para os sites indicados e baixe as músicas deles!)


Música News: Odeio perguntar isso e você já devem estar de saco cheio de responder. Mas é preciso: por que “Bidê ou Balde”?
Carlinhos: Na verdade nós temos uma fixação quase sexual por certos elementos da ortografia nesta língua brasileira e a relação destes com o rock. O nome é uma bolação nossa em cima disso: queríamos que o nome tivesse as iniciais B e B (por causa de uma música que o Serge Gainsbourg fez para a Bigitte Bardot, e por que todas as bandas que mais gostamos começam com “B” – Beck, Blur, B52s, Blitz, Butter 08, enfim, até os Beatles!). Queríamos também que o nome tivesse um “ou” (porque é legal!). Então falamos com dois cineastas daqui o Carlos Gerbase (que também faz as vezes de punk pós-apocalíptico quando sobe ao palco com Os Replicantes), e o Otto Guerra (que bebe demais!). Pedimos a cada um deles um substantivo com “B”. Então, somos a Bidê ou Balde.


Música News: E essa história de que vocês fazem um “rock sukita”? Não é tática para virar banda-propaganda de refrigerante de laranja como o Jota Quest não, né?
Carlinhos: Boa idéia! Mas essa história de Rock Sukita é sacanagem de um hacker fanático por bandas de New Romantic (Human League, Duran Duran, Soft Cell, sei lá). O cara entrou na nossa página do MP3.com, mexeu em tudo e escreveu essa história de Rock Sukita. Quando conhecemos pessoalmente o cara eu dei um disco do Rage Against the Machine, e o Rossatto (guitarrista da banda) deu uma camiseta com a estampa da capa do Chaos AD do Sepultura. Ele até que era um cara legal.


Música News: “Se sexo é o que importa, só o rock é sobre amor!” é só um título que caiu bem para o disco da BoB ou vocês realmente acham que só o rock é sobre amor?
Carlinhos: O rock sempre foi sobre amor. Às vezes o pessoal esquece mas é, nós garantimos! Toda a música é sobre amor, desde o clássico até uma ou outra dance music de aeróbica. E isso é que realmente vale no nome do nosso disco: como eu disse às vezes as pessoas esquecem de que a música é sobre amor e escrevem músicas sobre outra coisa. Muitas foram as grandes canções de cunho político que foram escritas, e em seu tempo, para aquele que a fez, o tema era uma emergência a ser abordada. Acontece que hoje em dia tudo que chega até os ouvidos dos jovens é sexo, sexo e sexo! Então nós fizemos um disco que fala de amor, a nossa maneira, e tenta lembrar as pessoas disso. Mas o título fala por si só, com certeza!


Música News: E é verdade que vocês distribuíram várias cédulas de votação aí em Porto Alegre para o público escolher o título do álbum? Quais foram os principais locais em que as cédulas foram distribuídas e quais eram os outros nomes?
Carlinhos: Espalhamos várias urnas por Porto Alegre, em faculdades, lojas de discos, festas, nos nossos shows, estúdios de tatuagem, ah, nem lembro. Eram umas 6 urnas nômades que ficaram uns dois meses circulando pela cidade. Aceitávamos também votos pela internet, por email e pelo site da rádio Ipanema. As opções eram : a) Se sexo é que importa, só o rock é sobre amor! b) Bidê, ou Balde. c) Não Reparem d) Balde, Bidê ou ; tinha também a opção e), onde cada um inventava um nome (e daí saíram nomes ótimos como “Para onde voam os ventiladores de teto no inverno?” e “Douglas”), mas a opção a) ganhou disparado, de goleada.


Música News: As canções do álbum de vocês falam muito sobre amores, mulheres, festas e tem até uma declaração de amor a uma prostituta. Quais destas canções são totalmente inspiradas em pessoas / acontecimentos reais e quais são “viagem de compositor”? A Lucinda, por exemplo, realmente já passou pela vida de algum de vocês? :o) ?
Carlinhos: Sobre “Lucinda”… hm, acho que não entendeste a letra exatamente como ela é. Ela não fala de uma mulher que se vende, mas sim de um cara. Ela é em primeira pessoa, e cantada para um cliente, que ele insiste em chamar de Lucinda, não importando o sexo ou o nome verdadeiro. Na verdade eu escrevi essa letra em homenagem a uma amiga com quem eu vivia flertando, mas nunca chegava concretizar nada. Eu costumava a dizer que para ter o meu amor era preciso que ela me pagasse. Todas são feitas meio que assim, com um pouco de ficção e fato, como uma crônica.


Música News: No mês passado a Bidê ou Balde fez um giro por São Paulo e agradou em cheio à paulistada, muitos deles já conheciam o som do grupo. Foi a primeira vez que vocês se apresentaram fora da região sul?
Carlinhos: Tínhamos tocado em Goiânia também, no Goiânia Noise Festival, tanto num quanto no outro lugar foi muito bom tocar. Em São Paulo foi estranho, o som estava horrível e mesmo assim a galera estava vibrando. Foi um show inesquecível, com certeza! Mas em Goiânia também, no meio das músicas tinha uns carinhas que subiam no palco para pedir autógrafo, era uma galera muito roqueira. Depois tocamos em Recife, no RecBeat, no meio do carnaval, e foi lindo! A rua da Moeda estava lotada e as pessoas ficavam nos olhando “hm, quem são esses roqueiros no meio do carnaval com ternos, gravatas e guitarras distorcidas?”, foi muito legal também!


Música News: Algumas pessoas que viram o show de vocês em São Paulo, inclusive, o consideraram “antológico”. Conta aí prá gente o que que rola de tão bacana assim nas apresentações da Bidê ou Balde.
Carlinhos: Emocionante mesmo é a comoção pública! É um show roqueiro e emocionado. Nós gostamos muito do que fazemos, as pessoas recebem desta forma e respondem positivamente pois estão com saudades de tamanha emoção. Sei lá, essa é a sensação que eu tenho, é o que o público nos passa. Melhor é perguntar o que há de especial no show para alguém na platéia que esteja vibrando e pulando tanto quanto a gente, talvez ele saiba explicar, talvez ele apenas diga “Rock!”. Mas tocamos sim, basicamente nossas músicas, recheadas com algumas versões bacanas de coisas que gostamos, tipo Beck, Nirvana, Pavement, B 52s, ah, é surpresa!


Música News: Também durante a passagem de vocês por São Paulo, rolou uma participação no programa “Superpositivo”, em que trataram de enrolar o apresentador e seu público dizendo que o nome da banda foi sugerido pelo Beck, “amigo pessoal de vocês”, e que “Melissa” foi composta em homenagem à namorada do Dave Grohl. Foi a primeira vez que fizeram este tipo de coisa cool?
Carlinhos: É, nós temos essa coisa com verdade e mentira… é tão difícil separar! Mas nós não dissemos que Melissa teria sido feita para a namorada do Dave Grohl, dissemos que quando ele recebeu o disco (isso é verdade!!) o cara que entregou disse que tinha uma música chamada Melissa e ligou isso ao fato dele estar comendo a tal baixista dos Smashing Pumpkins. E, cá entre nós, de tanto que o Beck canta aqui no meu quarto, ele é praticamente um amigo pessoal!


Música News: A cena roqueira do Rio Grande do Sul está em verdadeira ebulição no momento, com pelo menos uma dezena de excelentes novas bandas como a Bidê ou Balde, que fazem sucesso no Sul mas que ainda não “estouraram” em nível nacional. Na sua opinião, o que falta para isso acontecer?
Carlinhos: Acho que o que mais dificulta o crescimento das bandas gaúchas Brasil adiante é justamente o ótimo mercado que temos aqui. Existe uma ótima estrutura de casas de shows em todo o Rio Grande do Sul, na capital e no interior, o público do interior do Rio Grande do Sul é desesperado por rock, eles abarrotam essas casas para verem suas bandas preferidas, e eles são apaixonados por esse lance de termos ótimas bandas aqui mesmo. Putz, precisa ver o show de bandas como a Comunidade Nin-Jitsu, a Tequila Baby, Acústicos e Valvulados e Ultramen nesses lugares, é uma loucura! Os nossos shows também são ótimos, uma troca de devoção ao rock, constante, entre nós e o público. Lindo! Acontece que é foda de largar essa barbada, essa boa-vida cômoda pacas, e encarar o resto do Brasil de frente, voltar a estaca zero e cativar um público novo… muitas bandas perdem o timing de fazer essa arrancada, ou quando a fazem bem certinha, encontram situações precárias de vida: vão parar em apartamentos apertados e longe de tudo em uma cidade desconhecida, então, voltam pra casa e à boa-vida, que garante diversão, trabalho e dinheiro. Falta determinação (um pouquinho!), organização (um tanto assim!) e cooperação de uma gravadora, ou coisa que o valha (muita!)! Bom, nós estamos dispostos a nos aventurar, queremos conhecer o Brasil inteiro!


Música News: Em março, surgiu a notícia de que a Bidê ou Balde assinou contrato com a produtora do Manoel Poladian, que recentemente ressuscitou as carreiras de Rita Lee / Titãs e que na década de 80 fez do desconhecido RPM um dos maiores fenômenos do BRock. Conte mais sobre este lance! Você acha que agora, com essa puta assessoria, a Bidê ou Balde conquista o Brasil? Estão preparados para a fama?
Carlinhos: São várias perguntas em uma. Como eu disse na pergunta anterior, uma banda precisa da ajuda de uma gravadora, de uma boa produtora, de um bom empresário. As coisas estão melhorando cada vez mais pra nós. Se você pensar que há dois anos éramos um bando de loucos que se juntaram para fazer uma trilha sonora de um filme que nunca foi feito, e hoje somos músicos, pessoas expostas na mídia, que a cada momento agrega uma novidade que nos faz crescer, não temos para o que se preparar. Tendo sido bem melhor assim, no susto!


(Nota da Redação: apesar da “enrolada” que o Carlinhos deu na resposta, a banda, segundo seu produtor, assinou sim com a produtora de Manoel Poladian.)


Música News: A Bidê ou Balde há um bom tempo distribui gratuitamente suas músicas em mp3 através MP3.com. Mas agora vocês são contratados da Antídoto/Abril Music, e gravadora é uma instituição não muito simpática a este tipo de coisa. Pretendem continuar disponibilizando músicas na internet, em mp3?
Carlinhos: Hehehe! (gargalhadas íntimas!) Nossas músicas continuam lá, versões estranhas, de Demo, músicas inéditas! Até agora ninguém nos disse “Parem com isso, vocês já foram longe demais!”. O contrato da Antídoto nem comentava a existência do formato mp3, e o Raul Albornoz, diretor artístico de lá, é fissurado no Napster. O mp3 só divulga (e muito!) a banda! Não há o que temer!


Música News: E o site oficial de vocês, quando entra no ar prá valer? A home page está há umas boas semanas prometendo-o para breve… o que vai ter no site? Vai rolar algum tipo de “sessão nostalgia anos 80″ (na página há um joguinho daquela década)?
Carlinhos: A página entrou no ar na semana passada, é que eu acabei te demorando a entrega desta entrevista, né?! Ela é totalmente interativa, o internauta cria a sua própria versão da página, mudando cor, mexendo no som, ah, tem muita coisa pra futricar. O antigo joguinho (Genius) ainda está lá por dentro, tem que procurar. E agora tem um novo jogo, a la Crime Buster, dos primeiros Nintendo, é mais difícil, violento e divertido. Vale também conferir a página do Fã Clube Oficial da Bidê (www.quemebob.hpg.com.br), o Quem é Bob?, é muito legal e completa.


Música News: Então, prá finalizar, mande uma mensagem pros navegantes da Central da Música!
Carlinhos: Não posso passar uma entrevista inteira sem dizer isso: Ame o Rock! E estejam atentos em quando a Bidê ou Balde passar pela sua cidade, vá, divirta-se e conte para os amigos, eles não vão acreditar!


Saiba mais sobre a Bidê ou Balde
www.mp3.com/bideoubalde – Página da BoB no site mp3.com, disponibiliza para download gratuito no formato mp3 quatro canções do grupo, dentre elas o hit “Melissa”.


www.bideoubalde.com.br – Site oficial da banda, é um dos melhores sites de artistas da internet brasileira, apesar de ser um pouco “pesado”. Feito com tecnologia flash, é extremamente interativo, tem tudo – e um pouco mais – que você precisa saber sobre a BoB.

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