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Barone: “Sem essa de consagração. A gente quer é tocar!”

       Na primeira entrevista que João Barone, baterista do Paralamas do Sucesso, nos concedeu, no ano passado, ele afirmou que a sua então recém formada nova banda, o The Silvas, fazia um som “bem surf rock mesmo, bem pancada”.


       Pude conferir o teor de veracidade dessa afirmação de perto no show realizado mês passado pelo grupo no Canecão, Rio de Janeiro. Ao lado de Liminha (sim, o ex-baixista do Mutantes), que comanda a guitarra, e outros músicos de primeira linha, o The Silvas fez um emocionante show de surf rock em homenagem ao amigo Marcelo Fromer, que acabara de falecer.


       A banda que surgiu como um presente de aniversário, é sucesso garantido, já que prioriza no repertório a boa e velha surf music, aliada ao rock and roll. Cada show é uma surpresa, pois eles tem o costume de chamar amigos de outras bandas para assumirem os vocais. Com um “ar” muito alegre, nessa segunda entrevista ao MúsicaNews, João Barone fala muito (!) sobre esse seu novo projeto musical, dando uma aula sobre como montar uma banda voltada para o “no stress”, e claro, responde a algumas perguntas sobre os Paralamas. Ajeite-se aí na cadeira e confira!


Música News: O Silvas surgiu de uma reunião para tocar no aniversário de sua enteada. Por que vocês resolveram levar a banda a sério, depois?
Barone: A Branca, filha da Katia, minha esposa, fez 15 anos ano passado, aí eu pensei em dar um presente diferente: um show surpresa de roquinhos tipo beira de piscina, na festa dela. Chamei o Liminha- que quiz tocar guitarra, ele topou, colocou o assistente do estúdio Nas Nuvens, Daniel Farias, para tocar baixo (detalhe: ele nunca tinha tocado baixo antes, mas já sabia algum a coisa de guitarra…) . Escolhemos o repertório, ensaiamos umas três vezes. O Liminha saca muito do estílo surf rock, eu sabia alguma coisa básica… foi legal que a gente teve que carregar os nossos instrumentos, escondidos, aquela coisa de mão na massa… enquanto a Branca cortava o bolo, nós montamos o equipamento e começamos a tocar, a molecada se amarrou! Sentimos que a brincadeira agradou… Claro que aquilo deu um gás extra, pois ficamos com vontade de estender a “vida” do projeto, de tão legal que foi. Aí, a Bia, namorada do Liminha, ficou de empresária da banda, que nem tinha nome. Eu pensei em The Silvas, meio de chacota com o nome mais comum nas listas telefônicas do Brasil. Tenho que explicar toda hora que não é The SILVERS, é SILVAS mesmo… aí, neguinho acha graça! Quanto a “levar a banda a sério”, isso não é muito ao pé da letra. Um mínimo de anti-profissionalísmo, como diz um amigo meu…


Música News: Fale um pouco mais sobre o processo de criação do The Silvas e o que rolou de lá prá cá?
Barone: Sobre a criação, o Liminha pensou em chamar um cara que sacasse do gênero, e veio o Nenê ( de Sampa ), que foi dos Incríveis, banda seminal do rock brasileiro. A Bia arranjou uma temporada, inaugurando o HARD ROCK CAFÉ do Rio para shows, durante o mês de setembro inteiro do ano passado, toda terça. O Nenê ensaiou, nós chamamos uns amigos para cantar alguma coisa, para dar um gancho a mais, já que nosso repertório é basicamente instrumental. Tocamos com Gabriel, Frejat, Branco, Samuel, Tony Garrido, Nando Reis, Fernanda Abreu, meu chapa Charles Gavin tocou também. Depois, o Liminha chamou um figura que é o Bijú, surfista lendário que morou no Havaí, pega só onda gigante, ele sempre canta Surfin Bird com a gente. O Liminha também chamou a Katia pra tocar guitarra base nuns shows, foi legal, uma presença feminina dá o maior charme… Chamamos ainda um saxofonísta, o
Henrique Band. Pouco depois, o Dé entrou pra tocar, pois o Nenê estava um pouco longe para os ensaios e tal. Então conseguímos tocar no Rock in Rio, na Tenda Brasil, e foi demais. A brincadeira está funcionando. O lema da banda é “no stress”… Mas o Liminha é doido pra tocar e ensaiar, e arranjou de botar o Daniel pra guitarra base, e mete a chibata no moleque pra ele tocar direito… e eu só quero andar de jeep, jogar meu tenizinho…


Tocamos nessa série de shows Encontros, no Rio e m Sampa, chamamos a turma toda pra cantar com a gente de novo, até o Supla subiu no palco e abalou. Ele canta muito bem e é um grande entertainer. Alguma semanas atrás tocamos ao vivo na MTV, no Supernova e foi muito legal. Já temos material original, temas compostos pelo Liminha.


Música News: Nos shows feitos, notou-se uma grande presença de um público bastante jovem, que como você já disse uma vez, só conhecia as músicas do filme Pulp Fiction. Como é mostrar clássicos do surf music para um público que conhece pouco do assunto? Há preocupação com isso no repertório?
Barone: Não temos muita preocupação… “no stress”, lembra? Mas esse tipo de som pega legal a galera. O Liminha, que não tem a menor intimidade com público e microfone, perguntou meio fazendo média, no show do Canecão (estava lotado), se a galera queria mais som ou mais um convidado. Pediram “mais som”!


Música News: No repertório dos shows vocês incluiram músicas de Dick Dale, Havaí 5-0, Pipe Line. No Rio tocaram clássicos de Jimmy Hendrix, Chuck Berry, entre outros. Como é feita a escolha do repertório? Quem são seus ídolos da surf music?
Barone: Qualquer nome conhecido dos anos 50 e 60 pode figurar na tribo surf rock, o leque é muito amplo. Hendrix é surf rock, Bob Marley também, né? O Liminha apresentou mais coisas do Ventures e do Shadows, que eu só conhecia pouco. Mas acho que o tipo de surf rock que a gente apresenta é o mais clássico, com aquele som de guitarra “tex-mex”, batida clássica, mas tem espaço para alguma coisa mais hardcore. Estamos longe do tipo de som de bandas australianas, por exemplo. O som do The Silvas é uma cápsula de tempo, com uma certa dose de atualidade na mistura. A gente fez um set com músicas de agente secreto, Peter Gun, 007, Missão Impossível, que ficou super legal…


Música News: O The Silvas tem na sua formação dois grandes nomes da música brasileira, você e o Liminha. Logo nos primeiros shows no Rio, a aceitação foi imediata. Você acha que a banda já nasceu consagrada pelo público que também já era fã de vocês?
Barone: Hum, elementar, somos a maior armação do rock… vamos ficar milionários!!! Brincadeirinha… mas esperamos poder nos divertir muito mais, nos shows, gravando um disco… O Liminha, que agora está na Sony, acha que a gente devia ir para um selo alternativo, específico de surf music… ele diz que santo de casa não faz milagre… Agora, sem essa de consagração, a gente quer é tocar.


Música News: Ainda sobre os shows no Rio e em São Paulo, viu-se que o Silvas contou sempre com a participação de vários artistas de importância na música. Esse “ritual” de chamar outros cantores se manterá nos shows pelo resto do país? Como a banda faz a escolha desses cantores?
Barone: Olha, como falei a pouco, quando dá, a gente chama uns amigos, quando não der, a gente faz o nosso set instrumental mesmo. Depois de tanta gente ter tocado conosco, de tanto ensaio, quem estiver por perto é só aparecer que dá samba. Dia 7/8 faremos um show cedo aqui no Rio, num espaço do shopping Fashion Mall, em São Conrado, só a gente, de graça…


Música News: Você falou que o CD deve sair até o fim do ano. Como será o CD? Será mais voltado ao surf music ou ao rock? Haverá participações especiais? Será só de inéditas ou haverá regravações? Conte algo sobre ele. :o)
Barone: Bem, esperamos estar com bastante material próprio, mas quem sabe a gente ponha algo do show… Inclusive, muitos dos nossos shows foram gravados, o do RiR, os do Encontros MPB, deve sair algo dessas gavações no disco, talvez. Mais na frente a gente resolve. No stress…


Música News: Uma perguntinha sobre os Paralamas é inevitável. Saiu na imprensa que a EMI estaria interessada em lançar um disco com úsicas inéditas do Paralamas. Isso vai rolar mesmo? Já pensaram em lançar um disco só com raridades da banda, sobras de estúdio…?
Barone: Não temos material desse tipo preparado, mas é nosso plano arrumar o baú alguma hora… por enquanto, nada em vista. Eu tenho especial interesse em por a mão nos dois shows que fizemos no Rock in Rio I, única gravação mais requintada (em 24 canais) da épopca em que eramos só trio. Certamente é o único registro mais legal da gente como trio. Gostaria muito de ver isso virar um cd bem mixado e arrumadinho… aguardem o desenrolar dessa idéia.


Música News: Dando uma outra escapada. Você é um grande fã do The Beatles, e até gravou um disco em homenagem aos FabFour. Rita Lee comentou que você possivelmente participará do novo CD dela em homenagem ao quarteto de Liverpool. Está confirmado?
Barone: Olha, gravei umas 5 faixas e foi demais! A Rita eo Roberto são muito legais, musicais e altíssimo astral. As músicas estão bem abrasileiradas, bossa nova, algumas versões muito bem sacadas e engraçadas. O disco vai dar o que falar…


Música News: Voltando ao Silvas. Vocês fizeram no mês de Junho no Canecão um show emocionante, tanto pela qualidade musical quanto pela presença do titã Branco Mello, que dias antes perdeu o amigo Fromer. Como foi para vocês esse show?
Barone: Muito emocionante. A melhor forma de homenagear o Frommer era assim, fazendo o que ele mais gostava e gostaria de ver a gente fazendo: tocar. Ele era um cara super pra cima, não era de deixar a tristeza se instalar. Vai fazer muita falta. Por isso estará sempre em nossos corações.


Música News: O Silvas é claramente uma banda de surf music. Você vê uma cena musical desse estilo na cidade do Rio ou em outros locais? Onde é mais forte? Recomenda alguma banda?
Barone: Ah, vou pecar em esquecer o nome da galera nova no estilo que está aí, mas me lembro sempre dos Argonautas, de PoA, que são muito bons. Têm várias bandas no Rio e em Curitiba também. Vida longa à surf music!


Música News: Há projetos de fazer shows no exterior com o Silvas, já que em alguns países a surf music é bem mais divulgada?
Barone: Hum, sim, Madson Square Garden, Royal Albert Hall, Scala de Milão, Olympia de Paris, Praça Vermelha, Coliseu… Vamos acrescentar elementos nacionais no nosso som, criando o surf bossa, samba surf e o estouro definitivo será o surf pagode… Primeiro o Brasil, depois o Mundo!


Música News: Finalizando, na entrevista que nos concedeu ano passado, você declarou “Acho que o dia que a gente parar de tocar, a gente morre”. Foi essa “filosofia” que, decorrente do acidente com o Herbert, te levou a trabalhar mais (fazer mais shows) com o The Silvas ou você já tinha planos para esse ano de ir aumentando a atividade do seu grupo paralelo? Quando o Paralamas voltar, você pensa em diminuir a carga com o Silvas?
Barone: Bem, eu tive a sorte de ser chamado por várias pessoas, amigos e amigas, para gravar. O Frejat no disco solo dele que sai agora, o Branco Mello no projeto solo dele, o Kid Abelha (mas a música que eu gravei não entrou no disco ), a Zizi, no seu próximo disco, que está chiquérrimo, a Rita e Roberto, enfim, fiquei muito feliz e honrado em poder m ocupar, ser convidado e me sentir ativo, mesmo sem ser um músico de estúdio… Ironicamente, já haviamos programado uma parada para preparar o disco novo dos Paralamas, aí aconteceu isso tudo. Bem, se Deus quiser (e acho sinceramente que Ele quer!), quando nós voltarmos a ativa, essas atividades não vão ter muito espaço como agora, por isso, vou tocando bastante pra não ficar enferrujado quando o Herbert estiver de volta…


Saiba mais sobre o The Silvas
www.pratica.eti.br/paralamas – Infelizmente o The Silvas ainda não tem site oficial. Mas para não perder a viagem recomendamos uma visita a este excelente site sobre os Paralamas. Nele você encontra muitas informações sobre a banda, e ainda pode escutar muitas, mas muitas músicas raras do trio. São canções em Real Áudio que os integrantes nem devem se lembrar que já tocaram. Você também confere versões de músicas do Paralamas feitas por outros artistas e muito mais.

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