Barone: “O dia que a gente parar de tocar, a gente morre”

Barone com Débora Bloch e Fernanda Torres, na gravação do novo clipe dos Paralamas
Vidrado nos Beatles, Barone tem nos bateristas Stewart Copeland (do Police) e Ringo Star (Beatles) suas maiores influências. E agora, 18 anos
Música News: João, recentemente você gravou um especial para a TV que reuniu meio mundo do rock brasileiro para cantar músicas dos Beatles. Anos atrás lançou uma vídeo-aula, chamada de “João Barone Dá o Toque”, onde ensinava um pouco de bateria. Este ano montou uma banda com o Liminha e Nenê, o The Silvas. Qual o motivo desses trabalhos paralelos aos Paralamas?
BARONE: Bem, de uma forma geral, acho que todo projeto individual acaba revertendo a favor da banda. O programa dos Beatles rendeu um cd que ficou legal, um registro de um monte de gente de várias gerações que prestou uma homenagem inédita. A video aula veio em resposta à galera que sempre me assediou com perguntas tipo “como é que eu faço pra tocar”, “como você começou na bateria”, etc. O The Silvas começou como brincadeira e agora a gente vai tocar no Rock in Rio III. Está super divertido diversificar com outros músicos. Aí eu volto para Os Paralamas com assunto, mais gás. Assim é quando o Herbert faz os solos dele.
Música News: Haverá gravação de um CD? Do The Silvas?
BARONE: É uma questão de tempo. Eu e Liminha estamos compondo material inédito. É só instrumental, bem surf rock mesmo, bem pancada…
Música News: Você é casado com a cantora Kátia B., que acabou de lançar um CD em que você faz arranjos, toca bateria, baixo, pandeirão, debark e ainda compôs a letra da música “Copo Vazio”, em parceria com o Dé. Como é trabalhar com a esposa?
BARONE: Divertido! Se não for divertido, não rola. É legal pôr a sua mente em outro frame, experimentar. A Katia me ensina muito sobre música, me ensinou onde é o Dó no piano… Cantamos juntos músicas dos Beatles no violão, um monte delas! Não temos bloqueios. A gente se diverte…
Música News: Há uma evolução do Barone de 80 para o Barone dos 90?
BARONE: O tempo é rei. Acho que tenho aprendido muito, mas quero gerar oportunidades para fazer muito mais que eu acho que posso fazer, abrir canais, criar mais. Ainda assim não quero deixar de ter esse desprendimento na hora de tocar… Deixar rolar bem natural mesmo, sem passar muito pelo racional.
Música News: Você é fanático por carros militares antigos e é um estudioso das guerras. Como surgiu esse gosto inusitado por tais assuntos?
BARONE: Meu pai, que faleceu esse ano, foi Pracinha da FEB e lutou na Itália. Ele era um tipo “não militar” e calhou de ter ido pra guerra de verdade. Ele nunca pregou nada a respeito pra gente – eu e meus irmãos – que não fosse “a guerra é horrível”. Mas a gente gerou um interesse tão grande sobre o assunto lá em casa, pelo fato de ele não falar nada, que deu no que deu. Eu e meus irmãos somos vidrados em Segunda Guerra, na história, aviões, batalhas, carros, filmes, música, etc. Foi uma guerra horível, mas o mundo todo lutou contra um grande vilão que foi -é- o nazísmo. Foi muito romântico, apesar de todos os horrores.
Música News: Na década de oitenta, a composição de uma música e seus arranjos era basicamente guitarra, baixo, bateria e teclado. Algo muito puro. Nos anos 90 muita coisa nova surgiu. Como você absorveu essas novidades? Você usa o computador para compor ou ainda trabalha só no cru?
BARONE: Eu acho que meu negócio é tocar bateria. Como eu estava falando, estou querendo abrir mais canais para poder exercitar mais as composições e chegar com mais idéias pra banda. Estou com um estudiozinho em casa e vou começar a por a mão na massa agora…
Música News: Elba Ramalho já disse que na casa dela é proibido tocar qualquer música dela no som, e as vezes ela não suporta mais tocar as mesmas músicas em todos os shows. Suas filhas já tomaram conhecimento do pai artista que têm? Elas ouvem o seu trabalho?
BARONE: Elas são as minhas maiores fãs, mas têm uma atitude muito reservada, não ficam se mostrando. Aqui em casa rola de tudo, até Paralamas. Mas procuro fazer elas ouvirem de tudo, clássicos, samba, bossa, muito Beatles, etc. O dom musical aflora quando não vira uma obrigação, tem que ser lúdico, de brincadeira, até virar um exercício mais regrado.
Música News: Barone, algo crescente no mercado musical é a onda de MP3. Boa parte dos álbuns dos Paralamas já circulam na rede. Um exemplo mais claro é que a nova música dos Paralamas, “Aonde quer que eu vá”, já está na rede antes mesmo de sair em CD. Qual a sua posição em relação ao mp3? Você disponibilizaria oficialmente músicas dos Paralamas na Internet?
BARONE: Acho que não vai dar pra segurar. As grandes companhias estão entrando em acordo com os sites de download, tipo o Napster. Quem não for esperto vai se dar mal. Não tem como evitar o inevitável. Também acho que algo muito realísta vai acontecer com os mecanísmos de arrecadação de direito autoral, pois se a coisa vai se democratizar mesmo, os valores serão outros. Ainda não temos nada na Internet de nossa própria iniciativa, além de trechos no site oficial…
Música News: Está chegando às lojas o mais novo CD dos Paralamas, “Arquivo 2″, uma coletânea com música dos Paralamas da década de 90. Cogita-se ainda a possibilidade da banda lançar um DVD do Acústico MTV, uma biografia autorizada e no ano que vem gravar um novo CD só com músicas inéditas. Como será esse próximo ano para os Paralamas?
BARONE: Estamos dando uma saída de cena em dezembro, parando uns seis meses com os shows, para compor, levar som juntos, fazer uma rotina criativa que faz muito não realizamos. Aí, quem sabe, chegamos ao meio do ano que vem com material pra um cd inédito… Esses outros projetos estão em andamento. O livro é o Jamarí França que está escrevendo, o dvd está saindo, o AII está saindo
Música News: Por que vocês não aceitaram tocar no Rock in Rio 3, sendo que foi justamente no Rock in Rio 1 que a banda ganhou a fama?
BARONE: Por isso mesmo… o Rock in Rio I foi tão incrível que não tivemos muita vontade de sequer tentar repetir a experiência outra vez… são outros momentos, outra hora. Além do mais, nas duas vezes que rolou o festival, estávamos num fim de ciclo que pareceria leviano a gente subir lá e chover no molhado. Deixemos as bandas novas subirem lá e florecerem novos nomes… A galera também quer ver as bandas internacionais que não vem aqui toda hora, num “festivalzão” mesmo. Eu estou ficando meio ranzinza pra isso, mas a galera gosta de ir num encontro monumental desses e encher o rabo de lama, né?
Música News: Certos críticos dizem que os Paralamas são 70% melhores na estrada do que em estúdio. O que é melhor (ou mais fácil) para você, ficar preso num estúdio ou sair para estrada? Os Paralamas hoje selecionam melhor os locais de show, ou tocam em qualquer lugar que eles são chamados? Já está saturado da rotina de shows?
BARONE: Subir num palco ainda é a experiência mais bacana que tenho registro. Pra mim e pro Bi e Herbert também. Não estamos nos afastando da real. Gostamos de tocar e viabilizamos essa possibilidade da melhor forma possível. Acho que o dia que a gente parar de tocar, a gente morre. Temos uma noção muito clara de quando parar e quando continuar, pra não estragar uma coisa que a gente preza muito, nossa equipe, nossa reputação – se é que isso existe! Acho que é uma das coisas que se manteve mais igual desde o início, vontade de tocar… Quanto a essa estória de estúdio ou palco, são dois habitats distintos, cada qual com suas peculiaridades… você não joga uma pelada na sala de casa, nem lê um livro no meio de um FlaxFlu…
Música News: O Severino, é dito como um dos álbuns mais ousados do rock nacional, e consequentemente um dos que o Paralamas menos vendeu. Ao lançar este álbum, qual foi a verdadeira intensão da banda? Como foi tocar com Brian May, o guitarrista do Queen? Qual a mudança que ocorreu no som dos Paralamas desde 80?
BARONE: Estávamos uma vez mais apostando no que a gente era capaz de fazer naquele momento… O resto é imponderável. Ninguém sabe o que vai rolar depois que um disco fica pronto. O Severino teve um grande êxito no mercado latino. Vai entender. O Brian May foi muito legal com a gente e foi uma honra tê-lo tocando com a gente. Mudança no som? Sei lá… acho que a gente tá tocando mais alto porque estamos ficando velhos e surdos!
Música News: Barone, gostaria que você citasse o nome de 3 álbuns essenciais para a sua vida e o nome do músico que foi sua grande influência.
BARONE: Revolver, dos Beatles, Aqualung, do Jethro Tull, Fruto Proibido, da Rita Lee. Os albuns que você mais ouviu são um sintoma da importância deles, né? Injustiça pra os outros 50… mas são esses os mais simbólicos. Acho que o Stewart Copeland, baterista do Police, ainda é um dos meus maiores referenciais até hoje, assim como o Ringo. Não dá pra não falar neles.
Saiba mais sobre João Barone e Os Paralamas do Sucesso
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