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VMB 2002: Muito teatro e pouca música

   A modelo e apresentadora Fernanda Lima sai correndo de um ônibus para não se atrasar na apresentação do programa; Ela encena um erro na fala e chama o VT do ensaio; O apresentador Amauri Jr quer uma entrevista com Sheila Carvalho durante a entrega dos prêmios; Integrantes dos Raimundos e do Jota Quest simulam uma briga ao vivo; … Sim, este é o Vídeo Music Brasil, a maior premiação da MTV nacional.


   O VMB 2002 mais pareceu uma oficina de teatro do que um prêmio musical. Esses eventos sempre são marcados por discursos pré-combinados e atuações roteirizadas, mas a edição deste ano alcançou um ponto que deixou qualquer um que estava ali para acompanhar uma premiação musical irritado.


   A mestre de cerimônias Fernanda Lima fez direitinho o que lhe estava programado, e talvez aí é que esteja o problema. Cada entrada de artista, cada apresentação de show, cada discurso, tudo estava direitinho acertado e a festa ficou com mais cara de um capítulo de novela do que outra coisa. Coube as duplas Hermes e Renato e João Gordo e Ferrugem tentarem dar um ar de comédia à cerimônia, mas apesar de alguns bons momentos, no todo o resultado não foi positivo.


   Pegando carona assumida na grande cartada da MTV Americana este ano, o seriado The Osbournes, a emissora apresentou pequenas gravações com câmeras dentro de casas de algumas famílias famosas. Dentre muito besteirol sem graça, destacou-se a família Nova.


   Se os boatos de uma edição nacional do The Osbournes se confirmassem, a família do Marcelo e da Penélope Nova teria que ser a protagonista. As semelhanças com os Osbournes são muitas. O pai, Marcelo Nova, ex-vocalista do Camisa de Vênus, não tem papas na língua, a mulher também ajuda na parte administrativa da sua carreira, a filha Penélope é tudo que Kelly quer ser, e ainda tem o Drake, que abria shows da banda do pai quando tinha uns 5 anos. O garoto subia no palco com uma mini guitarra e fazia muito barulho. Deixa o Jack saber disso que ele vai morrer de inveja.


Os Prêmios
   Apesar desse teatrão apresentado pela Music Television brasileira, a distribuição dos prêmios foi melhor do que eu previa. Com poucas opções de respeito, este saldo acabou sendo positivo. Os dois principais prêmios da noite foram para o melhor clipe nacional que concorreu a alguma coisa: “Epitáfio”, dos Titãs.


   Eu realmente não gosto do trabalho desta banda paulista desde que eles se meteram a fazer o Acústico MTV (opa!), mas “Epitáfio” é a melhor música que os Titãs gravaram em uns 8 anos, e uma das melhores letras da carreira do grupo. O clipe não fica atrás. Gravadas em Super 8, as imagens transportaram muito bem para a linguagem cinematográfica a letra e melodia da música, coisa difícil de acontecer com produções nacionais que tentam algo inovador. Saiu como o grande vencedor da noite, abocanhando o Melhor Clipe de Rock, Melhor Clipe do Ano e Escolha da Audiência.


   O VMB deste ano apresentou uma nova categoria, a de Melhor Clipe Internacional. Esta não foi muito feliz em sua estréia. Numa categoria em que concorriam clipes como o simples e eficiente “Last Nite” dos Strokes, e a boa superprodução “My Sacrifice” do Creed, o vencedor foi o Linkin Park. Será que a nossa MTV não percebeu que o rap-metal é descartável e seu prazo de validade já venceu?


   Outro ponto negativo da premiação foi a rendição da emissora ao sucesso do cantor Zeca Pagodinho. Ele e sua música não foram feitos para terem clipe, não têm cara de MTV, nem de destaque da MPB. O melô do penta venceu como melhor videoclipe de música popular brasileira, é mole?  Um dos grandes atrativos dessas festas, os shows, não mostraram nada de excepcional – muito pelo contrário. Teve a revelação (para a grande mídia) Xis, o dueto sem graça com Caetano Veloso e Jorge Mautner, o previsível Pato Fu, um Lulu Santos monótono e um Charlie Brown como sempre muito chato.


   Como já era previsto, o VMB prestou homenagem à cantora Cássia Eller, morta em dezembro. Sem muita criatividade, a MTV exibiu imagens de Cássia no telão e em seguida Nando Reis subiu ao palco para cantar “O Segundo Sol”, que fica muito melhor na voz da falecida cantora. Restava ainda a esperança de um pouco de rock n roll com o sem sal CPM 22 ao lado de Andreas Kisser, do Sepultura. Eles se limitaram a tocar a música “Tarde de Outubro” e uma versão hardcore para “Meu Erro”, antigo hit dosParalamas. Fraco.


   Sem muito brilho, a principal emissora musical nacional deu sua festa mostrando estar fora da atual crise que atemoriza nossa indústria fonográfica nacional. Apesar de momentos sofríveis, passagens batidas e algum êxito, no final a MTV Brasil conseguiu a maior audiência de sua história. Isto mesmo. A emissora alcançou um inédito 4° lugar com 4,1 pontos no IBOPE, marca muito respeitável para um canal UHF.


Encontros inusitados
   O VMB sempre promove encontros inusitados do meio artístico, e esse ano não foi diferente. Porém, talvez em nenhuma outra edição nós tivemos um encontro como na apresentação do melhor demo-clipe. Estavam lá para apresentar os mauricinhos Pedro e Tiago e a cantora Wanessa Camargo.


   O vencedor foi o Ratos de Porão, e o Jão, guitarrista, subiu ao palco para receber o prêmio. Dá para imaginar esse encontro? De um lado o espelho de um sistema pré-fabricado, e do outro um forte militante da resistência. Claro que tinha que acontecer algo sensacional, e o prêmio comentário idiota da noite ficou com um dos “garotos” da dupla (eu me dou o direito de não saber quem é quem ali, que diferença isso faz pra mim ou para qualquer leitor desta coluna?). O sujeitinho, na tentativa de ser agradável, chegou ao microfone e soltou em bom som: “Aêêê, parabéns. Tomara que… cada vez… mais hein…”. Nossa, ficou muito ridículo! Depois vimos o João Gordo nem aí para o prêmio.


Ontem eu fui dormir feliz
   Sem dúvida a maior vitória deste Vídeo Music Brasil foi uma derrota. A derrota do clipe “Hoje eu Acordei Feliz”, do Charlie Brown Júnior. Não é segredo que eu desprezo a banda, e esse clipe é o cúmulo do mau gosto. Ele foi produzido pelo Andréa Abujanra, do Karnak, e mostra os “mano” do Charlie Brown dando uma de malandrões. Eles devem ter adorado fazer o clipe. A cada derrota deles era uma comemoração. Não ganharam nada.

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