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Vitrine Viva: O mal é o que sai da boca do homem

E lá vamos nós! Semana passada eu disse que o papo ia ser sério, né? Então, tá.


Vamos falar de drogas. Mas não aquele papo de que droga faz mal. Isso, todo mundo já está cansado de saber. Vou falar dos “benefícios” da dita cuja… Deixa eu enfiar o dedo mais fundo na ferida…Mas antes de mais nada, gostaria de deixar bem claro que o que vou dizer aqui é unicamente minha opinião pessoal, sendo que o Central da Música está servindo como veículo de expressão e não compartilha necessariamente de minhas opiniões, OK?
 
Imagine-se sendo dono de uma “Máquina do tempo do Rock and Roll”. Isso mesmo, uma máquina maluca que pudesse viajar para o passado da história do Rock, permitindo que você alterasse seu rumo. Quanta coisa você poderia fazer, não é? Já pensou quanta coisa você poderia presenciar e registrar? Quantos fatos históricos? Quantas mortes idiotas seriam evitadas com uma simples interferência sua? Duane Allman, Jimi Hendrix, Buddy Holly, Steve Marriott, Lennon e tantos outros ícones…puxa, seria mesmo maravilhoso! E o que é melhor: você estaria fazendo uma das mais belas ações que existem, você estaria salvando vidas!


Certo, esse é o lado bonito e puro da historinha. Mas vamos agora expor o lado egoísta e vilanesco que todos nós possuímos…Vamos ver se você é tão bom samaritano assim…
 
Numa de suas andanças, viajando pelo tempo, você vai pra década de 60, no exato momento em que Bob Dylan oferece o primeiro baseado para os Beatles. Se você é daquele tipo de pessoa que tem consciência social, sabe o mal que as drogas causam para seu usuário e as conseqüências negativas que são despejadas sobre a sociedade como um todo, sua primeira reação seria dar uma porrada no Dylan e tentar convencer os Beatles de que aquele troço será a porta de entrada para maiores e mais pesadas dores de cabeça. OK, você milagrosamente os convence, e até ganha a promessa de ter uma música em sua homenagem, composta por Lennon & McCartney. UAU, demais, não? Até o Dylan você consegue convencer! Ele, com aquela voz de pato gripado chega até a dizer: Drogas? Tô fora, blah!


Você toma tanto gosto pelo seu ato que resolve aprofundar sua ação: Começa a fazer várias viagens pelo tempo, nos momentos cruciais em que algum rockstar iria sucumbir ao mundo pérfido das drogas. E então, satisfeito com o que fez, você volta para sua própria época feliz por ter feito essa boa ação.
 
Chegando em casa, depois de tanto conversar com aquele mundo roqueiro, só pode dar vontade de ouvir uns sons daquela gente toda. Você vai até sua discoteca, que é enorme; afinal, você é uma pessoa eclética e gosta desde o mais singelo Bill Haley até o mais furioso Monster Magnet e, Choque! Espanto!! Tá faltando disco na sua coleção!

Muitos discos! Centenas!! Alguém deve ter roubado, só pode ser!! Mesmo desesperado, você corre para o que restou, para conferir exatamente o que sumiu. Então, mais surpresas. Tem disco ali que você nem conhece! Alguns outros tem capas diferentes, músicas idem e outros faltando músicas.


Grupos com formações diferentes e até discos recentes de gente que já tinha morrido há tempos.
 
Putz!!, você exclama. E então toda a explicação para aquilo surge límpida como a luz. Como é que você não pensou nas conseqüências de seu ato altruísta? Fazendo toda aquela boa ação, você mudou para sempre a história do Rock. E prestando mais atenção aos seus discos você confere que:


:: Beatles: Seus discos até o Help estão normais, mas algo aconteceu a partir do Rubber Soul. Faltam músicas, ouvindo-os você nota arranjos diferentes…Norwegian Wood por exemplo, está totalmente mudada… O Revolver não existe! Ou melhor, existe, mas a capa é uma coisinha comportada, o título é outro – Teenage Funnies, ou algo parecido -, e as músicas não são mais as mesmas em grande parte. A sonoridade revolucionária do disco desapareceu pra dar lugar a canções nos moldes de um A hard days night. Ué! Cadê a Tomorrow Never Knows?? Daí pra frente você larga assustado sua coleção de Beatles, porque acha que terá um ataque do coração se tiver que ver se ainda existe ou não um Sgt. Pepper. E se existir, com certeza não será o mesmo.

:: De Rolling Stones, tá faltando o Their Satanic Majesties Request, e as músicas dos outros discos não apresentam aquela marginália e aquele ar de perigo tão grande que eles tinham. O Keith Richards tá parecendo um Donovan autista…

:: E o que dizer do Cream? Não existe mais o Disreali Gears! Sunshine of your love já era!
:: Greatful Dead? Que bom que o Pigpen ainda está vivo, mas a banda não passa de uma bandinha de country-rock sem maiores conseqüências.

:: Jimi Hendrix continua genial, mas alguma coisa muito importante em sua música também se perdeu nisso tudo. Algo assim, “mágico”…onde está Purple Haze, por exemplo, entre tantas outras criadas à base de drogas? 

:: Jefferson Airplane? Dê adeus ao seu Surrealistic Pillow, clássico genial da psicodelia, embebido em ácido lisérgico. 

:: As bandas de garagem dos 60 foram pro espaço. The Seeds, Strawberry Alarm Clock, Electric Prunes, Blues Magoos e tantas outras…

:: O Pink Foyd está ainda com o Syd Barret. O primeiro disco da banda tem outro nome e outra capa. A temática do disco nem se fala. David Gilmour depois de tentar a carreira em várias bandas, acabou virando roadie do grupo.

:: E tem tantos outros: The Doors, Velvet Underground, Janis Joplin…


:: E por aí foi. A contracultura hippie, o underground, não existiu. Woodstock não passou de um show  modesto que reuniu no início umas 3000 pessoas que, logo que a chuva começou, se reduziu a 900 espectadores.

:: Eric Clapton não conseguiu chegar ao fundo do poço apenas com desilusões amorosas pela sua querida Patty Harrison. A heroína, que tanto o “ajudou” na mistura com o coração partido, estava de fora da história e Layla, a canção mais rascante e urgente que já ilustrou um sofrimento causado por amor, nunca existiu.

:: No The Who, Keith Moon morreu em 78, mas de causa diferente: foi assassinado por um traficante de drogas, após ameaçar denunciá-lo para a polícia se este não parasse com suas ofertas de anfetaminas e barbitúricos em geral.
 
:: As gerações vindouras também ficaram um tanto estranhas. O movimento Punk que tanto precisou de um mártir para dar a pincelada final em seu caráter – ou em sua falta de – , teve que se virar de outro jeito. Sid Vicious ainda estava lá, com sua namorada Nancy Spungen. Cansaram de ser brigões, casaram-se e renegaram totalmente aquele movimento punk. Que aliás, nem era lá grande coisa, desfalcado de suas drogas injetáveis e inaláveis. Era o tempero do Rock que foi pras cucuias.
 
:: Conseqüentemente, várias bandas futuras deixaram de existir ou surgiram de outra forma, sem a proposta original, já que suas bandas-influências não existiam mais. O mundo da música, como o conhecemos, estava morto.
 
-É horrível!, você diz em desespero. Você matou tudo de mais maravilhoso que o Rock produziu. Justo você, um fã ardoroso do Rock and Roll, um cara que cresceu curtindo, se envolvendo e se identificando com grupos e mensagens fabulosas.


Mas, espere um pouco! Ainda existe esperança! Claro! Você pode usar novamente a Máquina do Tempo e desfazer todo aquele trabalho fantástico de conscientização contra drogas que tanto benefício trouxe às pessoas e tanto prejuízo levou ao mundo da música.
 
E é aí que finalmente eu pergunto a você, querido leitor:


O que você faz? Volta no tempo e começa a incentivar o mundo pop a cair na farra pra garantir o seu Rock and Roll de cada dia, ou quer mais que se dane toda aquela cultura decadente de drogas que tanto mal fez às pessoas e deixa tudo como você transformou?
 
Veja bem, não estou fazendo apologia a coisa nenhuma, mas existe muita hipocrisia nesse eterno movimento anti-drogas. Já cansei de  ver pessoas combativas e totalmente atuantes na luta contra o consumo de substâncias “negativas” à saúde, que depois de condenar um usuário de cannabis, por exemplo, vai pra casa tranqüilo curtir sua coleção de Pink Floyd, que é “muito louco” e genial, ou acha a música “Heroin”, do Velvet Underground, uma das coisas mais fantásticas compostas nesse mundo. E isso tudo esquecendo que  essas músicas, em sua maior parte, são fruto de experiências com drogas.


Não vou ficar decorrendo sobre os prós e contras da questão. Minha intenção era apenas lembrar aos esquecidos que existem prós. Nem tudo é preto, nem tudo é branco.


Com toda certeza, isso não significa que pra ser um músico criativo todos tenham que sair por aí se entupindo e se furando. Mas também não se deve e não se pode negar que o uso de substâncias psicoativas tiveram um papel fundamental para o desenvolvimento do Rock and Roll e da música em geral no século XX. Também não é minha intenção tirar o mérito de  gênios da música tentando fazer transparecer que só eram geniais por causa do uso de drogas, não é isso, mas sim deixar claro que elas ao menos ajudaram muito em uma capacidade de expressão que alguns nem teriam sabido alcançar sem essas substâncias ilícitas. Existe uma frase incrível da Yoko Ono – tão incrível que é inimaginável isso ter saído dela – que diz: Droga é o segundo copo d água, quando o primeiro já matou a sede. Existe outra, do Lou Reed, que é assim: Liberem tudo! Assim, se acaba com o tráfico e desmistifica-se o encanto que a proibição causa.
Mas acho que nenhuma traduz tão bem a importância que as drogas tiveram na música, que a frase de um cara chamado Michael Bloomfield sobre a importância que o uso de drogas tem para alguns músicos:


- Eu tenho um amigo que diz “Eu preciso de um pouco de cocaína pra me dar energia. Um pouco de álcool pra me dar coragem. E um pouco de erva pra me dar inspiração”.
 
A gente tem que pesar as coisas e não se esquecer que, de certa forma, nossa sociedade reflete ainda as leis da natureza. Darwinianamente falando, e adaptando um tantinho pro nosso tópico em questão, alguém sempre tem que se dar mal para que outros se dêem bem, evoluam. Se consumir drogas é ruim, para algumas pessoas foi muito bom. Para nós, por exemplo, que estamos do outro lado, foi fantástico. Coisa melhor não poderia ter acontecido no mundo da música. Graças a isso, hoje eu tenho Floyd, Yes, Beatles, Seeds, Woodstock e tudo o que veio embebido neles. Pode parecer frio e insensível o que estou dizendo, mas é a verdade. Se é preciso ser egoísta a esse ponto, então eu sou o cara mais egoísta do mundo, pois jamais abriria mão do meu Rock and Roll, daquelas maravilhas que foram produzidas e ainda estão dando sementes pra que mais se produza influenciado por toda uma geração envolta em brumas e substâncias nefastas.


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Hoje fiquei sabendo que está sendo produzido um filme da dupla Sandy & Júnior. Que bom, não é? Fiquei mais feliz ainda quando soube que o longa será um misto de – atenção – Blade Runner, Matrix e Mad Max! UUAAAUU! Com certeza vai ser fantástico….(não riam, ou eu também não vou aguentar).


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Tô indo… Acho melhor ficar quieto depois desse papo sobre drogas ou vão querer me enquadrar…Hã? não, não estou falando “daquela” droga! Estou falando da Sandy e do Júnior…

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