Vitrine Viva: Capital Inicial, os reis do “Rock Capricho”
Juro que toda vez que vejo e/ou ouço o Capital Inicial a primeira coisa que me passa pela cabeça é: – Putz,cara…sei lá, entende? -. Banda relegada ao segundo escalão do Rock Brasil nos anos 80, apesar de ter debutado com uma pedrada sólida que foi seu vinil de estréia – quem está na faixa dos trinta deve se lembrar como era chamado o petardo: “O estilingue do ano” – o Capital enfrentou seu inferno astral e hoje é uma das forças motrizes(!) do rock nacional (leia-se indústria fonográfica). Certo, não é que eu ache que eles não mereçam o sucesso, mas no caso deles é mais por simpatia do que por qualidade.
A turma do Dinho, nos 80, quando era posta frente a frente com Legião, Paralamas, Titãs, Ira! e outros pesos-pesados da época, era como The Hollies ou The Mamas & The Papas se comparado a Beatles, Stones, Who. Ou seja, era uma banda legal, mas não dava pra competir com a primeira divisão. O que quero dizer é que se o Capital Inicial faz tanto sucesso hoje em dia é porque:
1. Está sem dúvida nenhuma quilômetros acima da média dessas bandinhas que nos torram a paciência e proliferam clones a dar com pau. Ex. Rodox, O Surto, CPM22, Tihuana, etc.
2. É uma banda que possui convicções. Demonstram segurança no que dizem (apesar das letras tolas de suas canções) e acreditam no que fazem, quer agrade ou não; e isso, é inegável, gera ao menos simpatia por eles.
3. Não adianta negar. Qualquer coisa que faça parte dos anos 80 pra garotada, já tem 80% (epa!) de possibilidades de emplacar. E o Capital ainda tem as vantagens acima mencionadas.
Aí é que está o problema. O sucesso da banda só é sucesso porque a geração que está aí não encontrou – e nem sequer também procurou, diga-se a verdade – alguém de qualidade com quem se identificar, por mais que deixe a desejar. O que não era o top de linha da geração anterior hoje é uma megabanda. Mudou a banda ou mudou o mundo? Com certeza é mais por culpa das opções que temos por aí do que pelos atributos do Capital. Se nos 80 tínhamos uma geração recém saída da ditadura militar, se descobrindo, capaz de exprimir revolta acumulada por tanto tempo de censura, com Legião como o avatar-mor dessa revolta e um Ultraje a Rigor e Camisa de Vênus – entre tantas outras – como capitães do humor escrachado e corrosivo, não perdoando ninguém, a geração de hoje fica a sofrer com as bandecas que só pensam que quanto menos se sabe tocar e cantar, mais legal. O que dizer de suas letras então? Parecem ter sido tiradas do diário de uma criança de 13 anos de idade (é o caso do CPM22) …
É triste, porque no lado oculto da “lua” há tempos não tínhamos uma profusão tão grande de excelentes bandas surgindo e que ninguém dá a mínima atenção: Pullovers, Monokini, Momento 68, Leela, Cachorro Grande, Tequila Baby, Bois de Gerião, Mim, Lambrusco Kids e tantas outras dezenas. Bem, mais uma vez a culpa vai pra indústria da comunicação que vai de mal à cada vez pior. Mas nem tanto o céu e nem tanto o inferno; nossa linda juventude também não anda fazendo seu dever de casa. Para ela, quanto mais se pensar, mais vai doer a cabeça. Então…pensar pra quê?… ôôôô… pra que pensar?
Entre tanto lixo despejado sobre nossos ouvidos, o “máximo” que podemos fazer é elevar o Capital ao posto de superbanda. Oras, por que ir a festivais de bandas novas e cheias de vigor e idéias, onde não tem música que toca na rádio rock nem banda que vai no Caldeirão do Huck, se é mais fácil apreciar o jabá-nosso-de-cada-dia ou o rock-puberdade feito por quarentões?
É mais cômodo curtir o Rock-Capricho (vertente do rock onde o máximo da rebeldia de seu público é usar roupas 2 vezes maior que seu número e passear no shopping center com um skate debaixo do braço, fazendo cara de revoltado, achando que assim vai apavorar com as gatinhas; se bem que consegue, com o nível “intelectual” de hoje em dia…), de grupos do naipe do KLB, Twister, LS Jack e que tem no Capital seu maior expoente sonoro, com músicas como Natasha e Quatro Vezes Você. E então, nessa comparação toda não tem como não exaltar o CI, pois apesar de tudo, os caras acreditam no que fazem, não estão servindo de joguete nem são a manjada armação feita pra sentar no sofá da Hebe. É uma certa inocência deles mesmo e daí vem a tal simpatia, mencionada lá no alto, que eles exercem.
Está claro que esse “dinossauro” tem mais espaço do que o natural pelo fato da mídia não abrir espaço para muitos grupos cheios de potencial e o público se fechar para elas do que pelas virtudes do CI. Realmente se compararmos o nível de antes e depois encontraremos hoje uma banda mais segura, mas não melhor e nem igual aos seus dois primeiros discos.
O Capital merece sim o seu sucesso, mas é triste saber que por não haver oportunidades para as muitas bandas desconhecidas e muito melhores que batalham por aí, o CI está numa posição mais alta do que mereça.