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The Hall of Mirrors: O desafio de entender Autechre

   Rob Brown e Sean Booth formaram o Autechre há mais de 10 anos em Sheffield, Inglaterra, certamente sem saber que, junto a Aphex Twin (Richard James, que esteve discotecando aqui no Brasil na última edição do Free Jazz), representaria a locomotiva da Intelligent Dance Music principalmente na segunda metade da década de 90, já que no início dela gente como The Orb e Future Sound Of London estava mais em evidência.


   A dupla sempre teve como base o electro americano adicionado a texturas etéreas típicas da ambient music, até então. Brown e Booth começaram a produzir músicas juntos antes de terminar o colegial, usando teclados analógicos e tape decks. Não tiveram êxito pelos primeiros selos que passaram, até mandarem uma fita à Warp Records, que, como sabemos, estava apresentando à Inglaterra um modo diferente de fazer música eletrônica, documentado inclusive em sua clássica coletânea Artificial Intelligence, mencionada aqui há algum tempo e da qual o próprio Autechre faz parte.


   A partir daí, a produção de singles e álbuns foi intensa, sendo estes últimos lançados na seguinte ordem: Incunabula (93), Amber (94), Tri Repetae++ (95), Chiastic Slide (97), LP5 (98) e Confield (01). Nesse meio tempo também fundaram o selo Skam, que abrigou grupos como Meat Beat Manifesto e Boards of Canada, além dos próprios trabalhos da dupla, que gravou também sob o nome de Gescom.


   Seu disco mais representativo foi o Tri Repetae++, álbum duplo que combina perfeitamente melodias suaves com batidas marcantes, tudo de um modo muito peculiar. No entanto, o que este texto se propõe a fazer é chamar a atenção para as produções do Autechre realizadas de um ano para cá.


   Em 2001 chegava o sexto disco, Confield, colocado nesta coluna como um dos dez melhores lançamentos do ano. Creio que hoje eu o situaria em uma posição ainda melhor, pois é um álbum que ainda me choca ao ouvir – a experimentação da dupla está bem mais acentuada que antes, construindo passagens ótimas de percussão irregular e timbres inquietantes. É um CD que me dá nervoso, de verdade.


   Como se não bastasse, em agosto de 2002 foi lançado o EP Gantz Graf, com três faixas que seguem a linha de Confield: o electro quadradinho dá lugar às freqüências noisy, às batidas imprevisíveis e, no final das contas, percebemos o quanto aquilo se diferencia do nosso atual conceito de música. E é isso o que me dá condições para dizer que o Autechre é um Miles Davis dos dias de hoje, desconstruindo os moldes de seu gênero e propondo outros campos de atuação para as composições.


   Apesar de termos novas propostas sonoras em demais projetos, como Oval, Pan Sonic ou Kid 606, Autechre é quem atualmente reúne de forma mais harmônica o conjunto anti-ritmo + antimelodia. Há alguns meses escrevi sobre as tendências sensoriais da música, e Rob Brown e Sean Booth se aproximam tanto deste conceito que torna-se um autêntico desafio perceber a beleza contida em seus ruídos contínuos. Por essas razões acredito que a dupla esteja muito à frente de nós, pois reatribui à música o caráter de enigma, desenvolvendo ainda mais o elo arte & tecnologia. Tire a prova você mesmo.

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