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The Hall of Mirrors: Mais álbuns do ano passado

Como anunciado aqui mesmo na última edição da coluna, alguns lançamentos importantes ficariam de fora da minha lista dos “10 mais” por puro desconhecimento de causa, falta de oportunidade para ouvir o que andava sendo lançado, por aí vai. Tentando remediar um pouco esta situação, hoje vou listar alguns discos que deveriam estar naqueles Top 10 (formando um Top 14, no final das contas) e cujas músicas só consegui ouvir de dois meses para cá.


Começando pelos canadenses do Godspeed You Black Emperor!, que em novembro colocaram no mercado o álbum Yanqui U.X.O., de três extensas músicas. Estas composições começaram a ser trabalhadas há cerca de quatro anos, antes mesmo do EP Slow Riot For New Zero Kanada. Seguindo a tendência do bem recebido disco Lift Your Skinny Fists Like Antennas To Heaven, de 2000, Yanqui U.X.O. traz significativos arranjos orquestrais, embora o foco ainda esteja na guitarra. Não há, é verdade, muita diferença entre estes dois trabalhos, porém isso não tira o mérito do lançamento, que parece ser até mais homogêneo e eficaz que o antecessor.



O fato é que se trata de algo como um grandioso, épico neo-progressivo. Tem gente que não tem paciência, assim como há aqueles que relaxam e ouvem numa boa. Partindo do pressuposto de que pertenço ao segundo grupo (já que desde moleque fui habituado a ouvir o prog clássico), diria que não esperava ver, na minha geração, um grupo que resgatasse com competência a psicodelia introspectiva de um King Crimson (dois primeiros álbuns), Pink Floyd (pré-Dark Side Of The Moon), Novalis, essa gente.



As três músicas de Yanqui U.X.O. – 09-15-00, Rockets Fall on Rocket Falls e Motherfucker=redeemer – são sinfonias-rock, nutrindo-se de crescendos e ostinatos, passagens indutoras ora de um sentimento melancólico, ora heróico (não excluindo momentos em que as duas sensações coajam). É impossível ouvir o disco planejando o orçamento da casa, brincando com o cachorro, cortando as unhas. Assim como “()”, do Sigur Rós, é para sentar e prestar atenção. E voltar para o mundo, 75 minutos depois.


Quem estava sentindo falta de um bom disco de IDM, pode abrir olhos e ouvidos para o Múm, que em maio lançou, pela Fat Cat, o disco Finally We Are No One. O formato se assemelha a Isan e Boards Of Canada, investindo em melodias e texturas tranqüilas. Vocais feitos por crianças são características marcantes em faixas como Green Grass of Tunnel e We Have a Map of the Piano.



Dont Be Afraid, You Just Have Got Your Eyes Closed surpreende pela simplicidade e eficácia, contando até com um xilofone de brinquedo e assegurando o tom infantil-puro que predomina no álbum. O clima de paz fica mais evidente em K/Half Noise, que já conta com um pouco mais de variedade rítmica, apesar de ser um lento passeio por outra estrutura harmônica livre de complexidades.


No final das contas, se você quiser ouvir um CD de música eletrônica que soe mais “acústico” que muitas grandes produções por aí existentes (e com bem mais autenticidade), vá atrás destes islandeses – é claro – e de seu Finally We Are No One.


Para quem acha que o melhor CD de britpop do ano foi o do Coldplay ou dos Doves, é porque não deu a devida atenção à banda The Music. Seu álbum homônimo de estréia traz de volta a inventividade psicodélica de um Verve ou Kula Shaker, levada marcante e discretas inserções eletrônicas nos arranjos. A primeira faixa, The Dance, já atesta tudo isso.



Take The Long Road And Walk It é um dos pontos altos, guitarras ao estilo The-Edge-Achtung-Baby, bateria pulsante e paradas estratégicas para prender a atenção. The People é outra faixa forte, jeitão de rock-clubber (em loop) e vocal melodioso, fácil de memorizar. O disco, no fim, surpreende. Não propriamente por inovações ou demais firulas, mas por mostrar a competência pop de uma banda nova que acabou não atraindo a mídia daqui.


Tech-house é a bola da vez para muita gente, o gênero inflou nos últimos tempos e já há quem diga que está beirando a estagnação. De qualquer forma, os londrinos do Swayzak trouxeram, em setembro, o ótimo disco Dirty Dancing, que começa com o house minimalista Make Up Your Mind, apresentando o suave e marcante vocal de Clair Dietrich. A cadência continua a mesma na faixa seguinte, Buffalo Seven, que tem algo de Lou Reed nos vocais, mas com sonoridade extremamente limpa e atual.



In The Car Crash é outro bom momento, com um efeito metálico na voz (percebam que há sim predominância de vocais no eletrônico disco) e estética que lembra o vigente electroclash – neste caso com muito mais classe, por sinal. Na mesma linha vem I Dance Alone, um pouco mais suja, rápida e desesperada. Nada muito punk, mas se encaixaria bem na Gigolo Records, por exemplo.



O restante do álbum basicamente navega pelo tech-house (com muito estilo, diga-se), atestando a Dirty Dancing a condição de um dos melhores discos de eletrônica de 2002.


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Para os que gostam de electro e adjacências, existe um set meu no Rraurl.com gravado agora em janeiro. Se você quiser ouvir em Real Audio, clique aqui. Se preferir MP3, clique aqui.


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Ouça a rádio Hall Of Mirrors: http://hallofmirrors.cjb.net

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