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The Hall: declarações de um turista

       Durante boa parte de julho e começo de agosto, estive caminhando por lugares um tanto longínquos, como Londres, Madrid e Barcelona. Principal falha dessa viagem: não consegui ingressos pro fabuloso Festival de Benicássim, no litoral espanhol. No entanto, compartilho com vocês minhas impressões musicais sobre o que (vi)vi por lá.


       Em Londres, entre uma apresentação de percussionistas africanos na rua e uma ida a um bar deep-house, o que me mais me chamou a atenção foi a quantidade de material que as lojas de CD ostentam em suas prateleiras. Visitei principalmente a Tower Records e a HMV, e depois disso evitei entrar na Virgin (!), pois meu bolso já não estava gostando da brincadeira.


       Resumindo: na Tower comprei o single Stop Crying Your Heart Out, do Oasis (que no fundo não é bom nem ruim, por isso me abstenho de demais comentários), e o Deadstar do Muse, que aliás acabou de lançar um álbum duplo chamado Hullabaloo, sendo o primeiro disco formado por B-sides e o segundo, uma apresentação ao vivo em Paris.


       Inesperadamente as músicas de Deadstar me pareceram bem pesadas, quase um nu-metal (felizmente ficou só no quase). De qualquer forma a banda é pra aqueles que sentem saudades da época Pablo Honey do Radiohead, ainda mais agora quando tem-se a impressão de que o Muse está mais raivoso.


       Meu mico na Tower ficou por conta da seção “Sale” da loja, em que discos eram vendidos por 2,99 libras (cada libra vale hoje uns 5 reais, e um CD normal na Inglaterra custa em média 13/14 libras) – comprei um disco do grupo Mathematics pensando que estivesse adquirindo um do Metamatics. De qualquer forma, esse álbum do Mathematics (chamado The Servent, de 2000) me pareceu muito bom, um rock experimental com levada eletrônica e vocais tristes. (Nota: nessa mesma seção da loja encontrei um CD do Guilherme
Arantes, também por 2,99).


       Já na HMV você poderia encontrar alguns “clássicos” da música eletrônica atual por 3 ou 4 libras. Exemplos: Moon Safari, do Air, e Halfway Between the Gutter and the Stars, do Fatboy Slim. Havia também, com certo destaque, um single do Marky com o Xerxes de Oliveira em vinil e CD, que não sei por que acabei não trazendo – talvez tenha ficado com a inútil esperança de encontrar o mesmo por aqui, bem mais barato. Mas o legal da HMV é a parte de “acessórios”, como camisetas, posters, equipamentos pra DJs, etc. – coisa que faz muita falta em nosso país.


       Mas pulemos agora pra Espanha, país de clima e pessoas mais agradáveis. Fato 1: programas como Popstars e Fama (que lá se chama Operación Triunfo) fazem um sucesso estrondoso, inexplicável até. Adolescentes e não-tão-jovens-assim vibram a cada vez que uma música desses calouros toca em um bar ou discoteca. Fato 2: a música pop de lá é uma desgraça, parece que tudo foi
composto pelo (para o) Ricky Martin – o dance latino reina soberano nas rádios e locais públicos.


       Por outro lado, existem muitos lugares bacanas pra escutar música boa, de jazz à eletrônica, especialmente em Barcelona. Não é difícil trombar com um DJ respeitado tocando por lá – de Richie Hawtin a Paul Oakenfold -, sem contar a já manjada (e cara) turnê por Ibiza, que no verão lota de turistas e também dos próprios espanhóis.


       Quanto a CDs interessantes que vi por lá, posso citar um EP raro de remixes da Bjork e as várias coletâneas de bossa nova e demais brasilidades com pitadas eletrônicas. Também encontrei um single do Sandy & Junior, mas me parece que ninguém estava disposto a comprá-lo – o Brasil ainda segue bem representado por uma nova safra de artistas da MPB.


       Chegando aqui vejo o dólar dar piruetas, o cancelamento do ótimo Free Jazz Festival, o desequilíbrio do Rock In Rio e todos aqueles problemas que vivenciamos, ocasionados por um governo que desrespeita seus eleitores. Assim fica difícil.


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       Visite a rádio Hall Of Mirrors: http://hallofmirrors.cjb.net



Michel, 23, “Even the greatest stars discover themselves in the looking glass.”

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