Renato Russo – Um presente de alta qualidade
O ex-líder da Legião Urbana Renato Russo completaria 43 anos no último dia 27 de março, e mesmo passados mais de 6 anos de sua morte, ele continua em voga e atualíssimo. Além das homenagens pelo seu aniversário nas rádios e TVs (Brasil 2000, MTV, Globo, …), dois fatos importantes provam a importância musical de Renato recentemente. O primeiro, claro, é o lançamento do disco Renato Russo Presente, e o segundo, a música “A Canção do Senhor da Guerra”, que está tocando nas rádios numa nova versão.
Resultado de um trabalho de pesquisa realizado pelo jornalista Marcelo Fróes – com o respaldo da família de Renato, o novo disco póstumo do cantor traz basicamente três tipos de material: duetos do ex-líder da Legião, Renato só ao violão e entrevistas do músico.
Nos duetos, o curioso é a procedência dos artistas que fazem parceria com o ex-vocalista da Legião Urbana. O primeiro single do álbum é “Mais Uma Vez”, parceria dele com Flávio Venturini, do grupo 14 Bis. A música foi gravada pelo grupo de Flávio em 1987, versão essa que fecha o disco Renato Russo Presente. É verdade que “Mais Uma Vez” tem mais a cara do 14 Bis que de Renato Russo, mas a letra, como antes salientado nesse mesmo espaço, é muito boa.
A única música totalmente inédita do disco é “Hoje”, parceria de Renato com a cantora Leila Pinheiro. Gravada há 10 anos, a canção ficou guardada no acervo do cantor todo esse tempo. De melodia triste, “Hoje” se destaca no belo refrão “acho que a gente é que é feliz”.
A faixa mais conhecida e executada anteriormente do disco é “A Cruz e a Espada”, parceria de Renato com Paulo Ricardo. A romântica canção foi lançada em 95, no disco Rock Popular Brasileiro, trabalho solo do líder do RPM. “A Cruz e a Espada” freqüentou constantemente as paradas de sucesso na época de seu lançamento.
O encontro mais inusitado e surpreendente do disco está na faixa “A Carta”. Nela Renato Russo divide o microfone com Erasmo Carlos, e o resultado é maravilhoso. As diferenças vocais dão um toque mais que especial para esse sucesso da Jovem Guarda.
Em seguida, encontramos mais um pouco da genialidade de Renato. Apenas com o acompanhamento do violão tocado por Hélio Delmiro, o ex-vocalista da Legião interpreta de forma sublime a música “Gente Humilde”, gravada por Chico Buarque em 1969. Junto com “A Carta” e “A Cruz e a Espada”, a regravação de Chico Buarque já havia sido lançada na coletânea dupla BIS.
Trovador Solitário
No período entre o fim do Aborto Elétrico, primeira banda de Renato, e o surgimento da Legião Urbana, o músico se apresentava em Brasília sozinho ao violão, num projeto intitulado Trovador Solitário. Essa fase rendeu muita coisa que foi aproveitada no futuro da Legião, e no disco recém lançado aparece em duas músicas.
A primeira é “Boomerang Blues”, um blues atípico para Renato Russo que chegou a ser gravado pelo Barão Vermelho e por Zélia Duncan. Extraída de uma versão crua do músico ao violão, a canção neste disco ganhou acompanhamento de dobro e gaita gravados por integrantes do grupo Blues Etílicos.
Renato Russo sempre foi um amante do rock n roll, fato facilmente notável em suas esporádicas covers. Nesse disco ele aparece cantando uma versão acústica de “Thuder Road”, do rockeiro Bruce Springsteen. A versão, gravada nos anos 80, mostra a facilidade que o cantor já tinha com a língua inglesa nessa época.
Outra música que traz Renato só ao violão é “Quando Eu Estiver Cantando”, originalmente de Cazuza. Esta sim merece um capítulo a parte dentro de Renato Russo Presente. Gravada ao vivo no show “Viva Cazuza”, na praça da Apoteose, em 1990, “Quando Eu Estiver Cantado” é de arrepiar. A começar pelo anuncio de Renato, de forma apoteótica, seguido pelos acordes do violão. A letra confessional do ex-líder do Barão Vermelho cai perfeitamente na voz do ex-legionário: “Tem gente que recebe Deus quando canta / Tem gente que canta procurando Deus / Peço a Deus que me perdoe no camarim”.
Na metade da música Renato introduz a romântica “Endless Love”, dizendo que Cazuza amava a canção. Os versos água com açúcar ao extremo do clássico de Lionel Ritchie e Diana Ross ganham força na versão crua e acústica do rockeiro. “Quando Eu Estiver Cantando” é o que de melhor se encontra nesse disco e, apesar de ser pouco convencional (gravada ao vivo, com música incidental), merece sair como single.
Para completar o disco foram colocados trechos de três entrevistas de Renato feitas em seus dois últimos anos de vida. Apesar de não trazer nada de muito especial, encontra-se bastante coisa interessante nesses diálogos. Na primeira faixa, Renato fala sobre a postura do jornalista musical brasileiro (ele se formou em jornalismo em Brasília) e mostra toda sua revolta com aquela coisa de ter que gostar apenas do que a opinião pública diz que é bom.
Na segunda entrevista, o cantor basicamente comenta a produção de seu disco em italiano e explica seu poder dentro da gravadora, justificado pelo fato de ter uma venda grande e garantida com a Legião. Na última das entrevistas é interessante ouvir Renato Russo frisando o fator exclusividade daquelas conversas. Quase no final, quando fala sobre o povo brasileiro, ele solta uma pérola: “Nós (povo brasileiro) somos alegres mas não somos felizes.”
O Senhor da Guerra Não Gosta de Crianças
Num período de Guerra, como o que estamos vivendo, é comum no mundo do rock a atenção se voltar para algumas canções emblemáticas, canções anti-guerra. A maioria delas data das décadas de 60 e 70, período em que a opinião pública norte-americana se voltava contra a Guerra do Vietnã. É comum também em épocas assim grandes artistas manifestarem por meio da arte toda sua indignação. Talvez por sempre estar avesso a esse tipo de conflito, o Brasil não possui muitos gritos pedindo paz.
Recentemente estreou nas rádios uma nova versão para uma pouco conhecida canção anti-guerra da Legião Urbana. Não, não é a boa “Soldados”, mas sim a ótima “A Canção do Senhor da Guerra”. Gravada para um especial de TV, a música acabou saindo no disco Música Pra Acampamentos, de 91, que reúne material ao vivo da banda.
Confesso que nessas últimas semanas li muita coisa sobre a Guerra. Boa parte foram editorias e textos opinativos condenando toda imbecilidade que está acontecendo agora no Oriente Médio, mas não achei nada tão simples e profundo quanto a letra de “A canção do Senhor da Guerra”.
A começar pelo refrão. Existe algo mais verdadeiramente tocante do que a frase “O senhor da guerra não gosta de crianças”? A questão da juventude ali perdida, a importância da Guerra para os poderosos e a crueldade de tanta gente dar sua vida enquanto os senhores Saddan Hussein e George W. Bush ficam respaldados por forte segurança em suas poltronas é levantada na letra de Renato Russo.
A música ganhou nova versão com direito a voz dos principais artistas do pop rock nacional e já rola na programação das FMs. Apesar de alguns poucos momentos sofríveis, como Marcelo D2 fazendo um rap indecifrável no meio, a versão, bem sacada, ficou muito legal.
Curtas: Festival alternativo decente
Finalmente o aguardado Curitiba Pop Festival anunciou suas atrações. Nada de Strokes, White Stripes e muito menos Radiohead. Ao invés do anunciado maior festival da América Latina, o CPF será sim um decente festival alternativo. As principais atrações são a banda alemã Stereo Total, que faz um pop eletrônico e o bacana grupo pós-grunge The Breedres.
O Breeders foi formado em 1998 por Kim Deal, ex-baixista do lendário Pixies. O maior sucesso do grupo é a música “Cannonball”, aquela que começa com vários sussurros acompanhados de um acorde de baixo. Infelizmente, as Breeders só tocarão no Brasil dentro do Festival curitibano. O CPF contará também com várias bandas do cenário alternativo nacional, como Cachorro Grande, Valv e Walverdes.
Assim se escolhe covers
Semana passada, estava eu no Sesc Pompéia acompanhando um show dos alternativos do Bidê ou Balde e qual não foi minha surpresa quando eles começaram a tocar “Fell in Love With a Girl”, matadora canção do duo White Stripes. Pra fechar a apresentação os gaúchos ainda lançaram mão da também matadora “Song 2″, maior sucesso dos ingleses do Blur. Isso sem contar na versão com letra em português que o Bidê gravou e tocou no Sesc para “Buddy Holy”, do Wezeer. Isso é que é saber escolher covers!