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Radiohead novo: para todos os fãs

Graças a essa maravilhosa invenção humana chamada internet, há quase dois meses meu computador é habitado por Hail to the Thief, superaguardado disco novo do Radiohead que está chegando agora às lojas do mundo todo. Este é o segundo dos três lançamentos que prometeram tornar 2003 um ano inesquecível em se tratando de rock n roll.


O primeiro lançamento foi Elephant, quarto disco do duo White Stripes (primeiro após ele se tornarem mundialmente famosos), que superou as expectativas. Elephant se mostrou tão bom quanto White Blood Cells, o melhor disco da dupla até então. Enquanto a moda vai cada vez mais introduzindo elementos (hip hop, eletrônica, …) e tornando o rock um estilo ainda mais híbrido, o White Stripes vem provando que não importa a quantidade de elementos, mas sim a qualidade dos mesmos. Apenas munidos de guitarra e bateria o duo de Detriot colocou no mercado um disco matador.


O terceiro disco que promete esquentar este ano é o sucessor de Is This It, clássico debut dos novaiorquinos do The Strokes. Primeiro a banda declarou que iria trabalhar com o premiado produtor Nigel Godrich (Radiohead, Beck, Travis), mas recentemente o empresários dos caras desmentiu a história e assegurou que os Strokes vão entrar em estúdio com Gordon Raphael, responsável pela produção de Is This It.


Voltando ao segundo lançamento, o do respeitado Radiohead, se Hail to the Thief não é tão bom quanto os primeiros discos da banda, pelo menos dá um banho nos últimos dois. A declaração deles de que este seria uma mistura de seus últimos quatro álbuns é claramente comprovada, apesar que o experimentalismo de Kid A e Amnesiac parece ter tido uma atenção excessiva.


Os antigos fãs da banda que torceram o nariz para a estranheza apresentada pela banda nos últimos anos (me incluo aqui) têm muito a comemorar ao ouvir Hail to the Thief. Logo na faixa de abertura, “2+2=5″, na verdade na segunda metade dela, é muito bom ouvir uma levada pesada com guitarra e bateria em primeiro plano, coisa rarríssima de encontrar nos últimos discos deles.


Em “Go to Sleep”, a quinta faixa do álbum, a introdução ao violão e, em seguida, domínio das guitarras remete a um passado de glórias, encontrado principalmente em The Bends, de 95. Músicas como “We Suck Young Blood”, “Scaterbrain” e “I Will” mostram um Radiohead melancólico e irresistível numa audição mais detalhada.


Mas nem tudo é “festa” em Hail to The Thief. Apesar de trazer de volta uma música mais assimilável, melodiosa e básica, o disco também dá continuidade ao som superexperimental iniciado no álbum Kid A. Pelo menos metade do disco novo tem forte influência desse segundo momento da carreira da banda inglesa.


Baterias eletrônicas, sintetizadores, vocais espaciais, ausência de guitarras, são todos elementos marcantes em parte do álbum. Ao ouvir “The Gloaming” e “Backdrifts” é inevitável não estranhar o alto nível desses elementos não convencionais no rock n roll.


Após acompanhar treze faixas percebendo um balance entre o brilhante Radiohead pré 1998 e o discutível Radiohead pós 98, a décima quarta canção faz de Hail to the Thief um disco indispensável. Ela é “A Wolf At The Door”, fortíssima candidata a melhor música do ano. Um violão dedilhado faz a base para Thom Yorke dar um show nos vocais. O desespero e a calmaria se revezam nessa obra prima da banda de Oxford.


Para resumir, o disco novo faz a festa daqueles que morriam de saudades de um Radiohead mais puro, sem tanta eletrônica, e também não deixa insatisfeito os amantes do experimentalismo que idolatram Kid A e Amnesiac. Duas perguntas ficam no ar: para qual das duas tendências a banda vai seguir daqui pra frente e quando os ingleses pintarão por terras brasileira.


Curtas:


O verdadeiro amor espera


Enquanto esperamos o Radiohead pintar em palcos brasileiros, em recente apresentação na Inglaterra, Thom Yorke fechou a apresentação de sua banda com uma performance solo da maravilhosa “True Love Waits”. A música, que conta só com Thom, violão e voz, foi gravada em I Might Be Wrong, álbum ao vivo lançado em 2001. Sortudo esses ingleses, não?


Noitada regada a rock da melhor qualidade


A rádio paulista Brasil 2000 deu início mês passado a suas festas semanais no Trip Bar, na Vila Madalena. Este colunista foi conferir a noite que teve como atrativo a apresentação da banda Velhas Virgens, no último dia 30, e saiu com uma ótima impressão do evento. Se o show, aberto pela banda Pit Bulls On Crack, foi apenas bom, a discotecagem surpreendeu. Num set dominado pelo melhor do novo rock – lê-se muito Strokes, White Stripes, Vines e Hives – , a pista foi presenteada com coisas belíssimas, como a ótima versão do Placebo para “Bigmouth Strikes Again”, dos Smiths, e o clássico “She s Losing It”, do Belle And Sebastian”.

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