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Pólvora: Paralamas seguem o longo caminho

Órfãos das grandes bandas brasileiras com mais de 20 anos de estrada, alegrai-vos: a salvação chegou. A Legião Urbana acabou, o Barão Vermelho está numa pausa que pode ser eterna, os Titãs estão caindo pelas tabelas, mas os Paralamas do Sucesso estão de volta. E estão com tudo em cima.


O primeiro show da banda no Rio de Janeiro, na turnê do “Longo caminho”, foi num ATL Hall fechado para convidados, numa festa de funcionários da rede hospitalar onde Herbert Vianna ficou internado. Se por um lado a casa de shows era o melhor lugar do Rio para passar mal numa quinta a noite, por outro era um dos piores para a volta de uma banda como os Paralamas. Louve-se o trabalho feito na recuperação de Herbert – que fez questão de agradecer aos médicos por sua vida – mas uma volta histórica como essa merecia um público a caráter, não apenas convidados “black tie” para uma festa chique. Um dado resume bem o clima do local: o colunista da Central era a única figura de tênis e calça jeans, no meio de algo como 5 mil convidados.


Ou seja, faltou clima para rodas, para pogar (e acreditem, o show tem momentos pra isso) e para ver quanto “punch” tem essa turnê dos Paralamas. Claro que qualquer público, até num asilo, iria fazer corinho pra “Meu erro”, “Loirinha bombril” e “Alagados”. Mas não é nos grandes hits que se percebe a diferença da platéia. É quando entra “Mensagem de amor”, “Selvagem”, “Será que vai chover” e a já tradicional cover de “Manguetown” que se separam os fãs da banda dos ouvintes de rádio/tv.


Pois bem, dado esse desconto, resta o que interessa, que é a banda no palco.


Há duas maneiras de avaliar os Paralamas do Sucesso pós-acidente: um olhar benevolente do tipo “estão-tocando-apesar-de-tudo-que-eles-tiveram-que-enfrentar” ou uma análise limpa, considerando a banda dentro de sua história musical como um todo. Olhar com benevolência seria injusto com a qualidade de Bi, Herbert e Barone, que nunca precisaram disso. Claro que é preciso entender o fato do vocalista e líder estar preso a uma cadeira de rodas e com lapsos (quase imperceptíveis, num show extremamente bem amarrado) de memória, mas os Paralamas não precisam de “colher de chá”.


“Longo caminho” não é um grande disco dentro da discografia da banda. Tem boas músicas (“Calibre”, a própria “Longo caminho”) e algumas outras aceitáveis (“Flores e espinhos”, a cover para “Running on the spot”, do Jam). Mas na média, é um disco menor. E na turnê atual, do referido disco, os Paralamas tocam-no praticamente inteiro.


O show é uma mistura da já lendária turnê do “Vamo batê lata” com a do “Acústico MTV” (no que diz respeito ao formato de algumas canções, claro; o show atual é todo elétrico) e o novo disco. Começa com o trio sozinho no palco, a formação original que dá muito mais peso à banda (sem teclados, sem metais, sem percursão) tocando “Calibre”, “Mensagem de amor”, “Fui eu” e “Selvagem” numa sequência arrasadora.


A partir daí, entram os acompanhantes (teclado, percursão e metais) e o show alterna (grandes) sequências de músicas novas com os hits de sempre. De novidade interessante, “Será que vai chover” na versão original, “Assaltaram a gramática” de volta depois de muito tempo e “La bella luna”. Mas estão no roteiro, pra todo mundo cantar junto, “Loirinha bombril”, “Uma brasileira”, “Meu erro”, “Alagados”…


No grande (em todos os sentidos) bis, volta o trio para mandar “Lanterna dos afogados”, “Caleidoscópio”, “O beco”, “Calibre” e “Vital e sua moto”. Quase duas horas de show e a constatação de que os Paralamas do Sucesso estão de volta em boa forma. Fica faltando uma platéia mais elétrica para observar a reação da banda.


De qualquer modo, tranquilizai-vos, fãs do rock brazuca. A esperança está de volta, sentada numa cadeira no palco, e ainda bem assessorada pelos melhores baterista e baixista disponíveis no mercado nacional.

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