Pólvora: Midnight Oil chega ao fim
Um minuto de silêncio para a única notícia postada em www.midnightoil.com :
“Pete has resolved to call it a day with Midnight Oil, resigning from the band to take up challenges outside music.”
É isso aí, o Midnight Oil acabou. No comunicado, o resto do grupo avisa que pretende continuar fazendo música juntos, “at some point down the track”. Mas a banda, um dos ícones do ativismo musical (ecológico, político e social), não vai mais ter Peter Garret nos vocais, ou seja, não é mais a mesma banda.
Com sua altura descomunal – que impressionava muito ao vivo, no palco – e sua careca “marca registrada”, Garret era o vocalista e líder de um dos maiores fenômenos australianos, que chegou ao mundo via “Beds are burning”, “Blue sky mine” e “The dead heart”, seus principais sucessos (e três letras críticas, sobre a devastação da natureza, a exploração dos trabalhadores das minas e a invasão dos brancos contra os aborígenes, respectivamente). Em 25 anos de carreira, a banda ganhou respeito e fãs não apenas pela boa música e letras inteligentes, mas por uma característica cada vez mais rara no volátil rock/pop: integridade e coerência. O Midnight Oil manteve sua pegada rock n roll e suas letras críticas desde sempre, independente da moda em vigor. Era uma banda com cara própria, fácil de reconhecer.
Como todo artista ativista ecológico, o Midnight Oil tinha interesse pelo Brasil e, como 90% das bandas australianas, criou um fã clube a partir dos surfistas nacionais, na onda da invasão da surf music australiana que sempre foi bem sucedida em praias brasileiras. Teve um episódio trágico no Maracanãzinho (em 92, se não me falha a memória), quando um fã caiu no fosso e morreu eletrocutado durante o show. Mas em sua última passagem pelo país (já comentada numa “Pólvora!” sobre os melhores shows já vistos por este colunista) deu um show histórico, no finado Metropolitan.
O fim do Midnight deixa um vácuo não só no estilo de som (rock n roll limpo, básico e volta e meia marcado pela gaita de Garret) mas principalmente no estilo de composição e nas letras. Hoje em dia vivemos os tempos do egocêntrismo, letras puramente voltadas para o próprio umbigo - quando não completamente vazias. Abordar temas como ecologia e preservação anda fora de moda, em especial depois dos excessos do ”politicamente correto” americano. É uma pena, porque bandas como o Midnight nunca quiseram ser chatas, xiitas ecológicos ou políticos. Apenas conscientes – e inteligentes.
Rezemos pela continuidade do Bad Religion !