Pólvora: A imagem do som
Tá em cartaz no Paço Imperial, centro do Rio de Janeiro, uma das melhores idéias já produzidas em torno de artes plásticas e música: a exposição “A imagem do som”. Pra quem mora no Rio, é programa obrigatório (é de graça, é no centro da cidade, fica em cartaz até 16 de março de 2003). E para quem pretende se aventurar no infernal calor carioca (que parece piorar a cada ano e nem chegamos ao verão!) é uma grande pedida fora do roteiro básico “armadilha pra turista”.
O projeto foi lançado há alguns anos e consiste basicamente em traduzir música em imagem. 80 obras, das mais variadas técnicas (pintura, fotografia, desenho, escultura, etc) que retratam canções de um determinado artista (já foram tema Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e Tom Jobim).
A edição em cartaz não enfoca a produção de um artista específico, mas de um período, de um movimento da música brasileira: o pop rock nacional. “A imagem do som do rock-pop brasileiro” vai do fim da década de 70 (com “Agora só falta você” do Tutti Frutti de Rita Lee) até um pedaço da década de 90 (com “Garota Nacional” do Skank e “Minha alma” do Rappa, entre outros), com destaque absoluto para os anos 80 – tem Cazuza, Paralamas, Legião, Engenheiros, Raul Seixas, Camisa de Vênus, Fausto Fawcett, Biquini Cavadão, Rádio Táxi…
A exposição agrupa cada música (com discmans para ouvir) com a obra que lhe diz respeito, mais a letra. A experiência de ouvir as músicas acompanhando as imagens literais (via letra) e as imagens visuais (via obra) é realmente bem sacada. Algumas pessoas se envolvem de tal maneira que desandam a cantar em altos brados, perdidas dentro dos fones de ouvido em seu próprio show.
No meio de 80 músicas, cada qual com sua obra respectiva, é evidente que a qualidade não é uniforme. A começar pela seleção musical – sempre discutível – temos obras que estão aquém das possibilidades que a música oferecia (por exemplo, os trabalhos feitos para “Garota Nacional”, do Skank, e “Kátia Flávia, a godiva do Irajá”), outras que são muito mais interessantes do que as músicas que “traduzem” (exemplos nítidos: a parede de chicletes mascados que ilustra “Tédio”, do Biquini Cavadão, e o painel que representa “Garota dourada”, do Rádio Táxi) e algumas que casam perfeitamente com a música (como nas excelentes fotos para “Meu erro”, dos Paralamas, “Rio 40 graus” de Fernanda Abreu e a obra de “Negro gato”, de Luis Melodia).
Mas como quase tudo relativo à arte, as opiniões sobre a qualidade variam conforme o observador e seus gostos pessoais. Veja, ouça e leia para formar sua própria opinião. É um grande programa para quem gosta de música em geral e do tema da exposição em particular.