Os grandes espetáculos bem longe daqui
A “maior banda do mundo em atividade” iniciou sua nova turnê semana passada. Não, a América do Sul não está incluída. A maior banda da atualidade está escalada para abrir dois shows dessa turnê. Sim, pessoas de Washington terão a oportunidade de ver o novo show dos Rolling Stones depois de se extasiarem com os Strokes em ação nos dias 5 e 6 de outubro.
Esse é apenas um exemplo dos grandes espetáculos que aconteceram, estão acontecendo e acontecerão ao redor do mundo e nós ficamos de fora. Desses grandes acontecimentos, a ínfima parte que nos vinha sobrando nos últimos tempos (e sim, nos fazia felizes) parece que está sendo cortada.
A notícia da possível vinda do Radiohead ao Brasil este ano balançou nosso mundo pop. As chances dos ingleses estrelarem a última edição do Free Jazz, como comentado nesta coluna, eram fortes, mas o painel econômico nos privou desse espetáculo. O sempre grandioso Rock In Rio também deu sinais de problema em sua edição número quatro, não oficialmente marcada para janeiro de 2003.
Quem vive no Brasil e acompanha as últimas novidades do rock ficou extremamente frustrado. Além da bacana dupla Stones – Strokes, outros inúmeros eventos sensacionais têm acontecido bem longe daqui recentemente. Os festivais de verão do hemisfério norte são sempre garantias de qualidade, e esse ano não foi diferente.
O inglês Reading, maior festival anual de rock do mundo, não decepcionou, mostrando o estouro do competente novo rock. White Stripes, The Vines, The Hives, Black Rebel Motorcycle Club, Foo Fighters e principalmente os Strokes fizeram a festa das 250 mil pessoas que passaram pelo evento.
Na Espanha, o Benicassin apresentou entre outras atrações as duas melhores bandas do Reino Unido na atualidade (para este que vos escreve): Radiohead e Belle And Sebastian. Além de ser headliner do festival espanhol, a banda de Thom Yorke promoveu grandiosos espetáculos pela Europa ao mostrar uma retomada das guitarras nas músicas.
Outros dois festivais tradicionais, um pouco menos brilhantes e enfrentando alguns problemas, também agitam o mundo essa época. O V2002 teve sua principal atração cancelada devido a uma fatalidade. O Travis não pôde participar por causa do acidente com seu baterista, que está em recuperação. Ainda assim o evento contou com Stereophonics, Manic Street Preachers, Alanis Morissette, entre outros.
O Ozzfest também teve seus problemas. Ele ficou por algumas semanas sem seu astro mor, Ozzy Osbourne, que se dedicou a acompanhar o tratamento contra o câncer de sua mulher. O Festival é um prato cheio para os fãs de heavy metal, e tem como principal atração, além de Ozzy, o badalado System Of A Down.
Não são só os Festivais que fazem o delírio do público europeu e norte-americano atualmente. Dois gigantes britâncos também estrelaram turnês bem disputadas. É verdade que já há algum tempo Morrissey, ex-vocalista dos Smiths, não causa o mesmo furor que nos anos 80 com sua ex-banda, mas o cantor ainda cultiva uma legião de fãs assíduos ao redor do mundo. Até dia 15 de setembro Moz completa sua turnê americana, e dias 16 e 17 faz duas apresentações em Londres – as primeiras em três anos na terra da Rainha. Detalhe: os ingressos para os dois dias já estão esgotados há algum tempo.
O Oasis também voltou com força total. Seus shows, a exemplo do estouro da banda em meados da década passada, são verdadeiras celebrações. É só dar uma olhada nas críticas por aí para percebemos que os irmão Gallaghers continuam soberanos em cima dos palcos.
Com todas essas opções eu me pergunto: por que morar no Brasil? Difícil dizer. O que nos sobrou desta vez não traz muito alívio como em anos passados. De confirmado até o final do ano temos os idolatrados Red Hot Chili Peppers, que apesar de estarem no topo das paradas não têm a mesma criatividade da época de “Blood Sugar Sex Magic”, e os americanos do The Calling. Esta, banda neo-grunge que bebe na mesma fonte do Creed – não mostrando muita inovação, mas possui boas baladas. É duro aceitar tão pouco vendo tanto acontecer lá fora.
Na próxima Fidelidade Alternativa vou dar uma geral nos nossos consolos passados que deixam saudades, e tinham nos festivais alternativas garantidas. Problemas como a falta de patrocínio e o estado econômico da nação nos roubaram-lhes, deixando essa situação deprimente com a qual convivemos hoje. Até lá.
A Fidelidade do Coldplay
Os ingleses do Coldplay, numa atitude digna de milhões de aplausos, recusaram nada menos que US$ 85 milhões para o uso de uma de suas músicas numa campanha da grife GAP. O vocalista Chris Martin deu a seguinte declaração após ser questionado a respeito da decisão: “O que isso significa? Isso significa tudo, cara.” É muito bom termos ainda bandas com essa ideologia. Isso causa uma fidelização enorme nos fãs. Como exemplo, o segundo disco do grupo vendeu só nos Estados Unidos 140 mil cópias na semana de lançamento. Nada mal.