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Made in Brasil: O “Novo Aeon” do saudoso Raulzito

Dia 21 completou-se 12 anos sem o grande maluco beleza Raul Seixas. E Made In BraSil não poderia deixar de dissecar uma grande obra desse maravilhoso artista do nosso cancioneiro. Pessoalmente curto demais os 4 primeiros discos do cara, uma fase sensacional, quando escrevia em parceria com o mago Paulo Coelho (Krig-Há Bandolo!, Gita, Novo Aeon e Há Dez Mil Anos Atrás). São todos grandes discos, mas escolhi por preferência o sensacional Novo Aeon, que coincidentemente também era o preferido de Raul.

A bela balada que abre o disco, “Tente Outra Vez”, tem uma letra que intima os perdedores a darem a volta por cima. Grande momento lírico de Paulo Coelho, e com a parte musical perfeitamente completa por Raul. “Rock do Diabo”, como o próprio nome indica, carrega naquele velho clichê satânico. Mas é um som com muita energia, uma das melhores do disco, e clássico imediato. “A Maçã” também é clássica. Bela balada romântica, que meio que sugere um amor liberal, sem compromissos. Ah, Débora Blando fez sucesso com uma versão dessa música… Linda letra tem “Eu Sou Egoísta”, cujo instrumental baseia-se no jazz. Vale citar no finzinho da música uma citação à “Alegria Alegria”. Aliás, na versão dessa música no disco “Metrô Linha 743″ Raul faz essa citação e outras, como “Mr Tambourine Man” (Dylan) e “Imagine” (nem precisa dizer né?).


“Caminhos” começa sombria, mas logo vira um sambão animado. “Tu És O MDC da Minha Vida” é, pessoalmente, uma das minhas favoritas no disco. É um bolerão tremendamente (e deliciosamente) brega. O início da letra diz tudo: “Tu és o grande amor da minha vida/pois você é minha querida/e por você eu sinto calor/aquele seu chaveiro escrito love/ainda hoje me comove/me causando imensa dor, dor/eu me lembro do dia em que você entrou num bode/quebrou minha vitrola e minha coleção de Pink Floyd”. Ainda tem palmas de fundo, como se fosse uma gravação ao vivo. O rock “A Verdade Sobre A Nostalgia” fala sobre a mania das pessoas de valorizarem sempre o que passou, e colocar o presente em segundo plano.

“Paranóia” toca numa polêmica: fala de masturbação, sobre um adolescente que sente culpa por Deus ver o seu “erro”. Chega a ser engraçado ouvir “Peixuxa (O Amiguinho dos Peixes)”: é uma tremenda chupação do clássico do White Album “Ob-La-Di-Ob-La-Da”. Mas é bem legal, até porque “É Fim do Mês” é bem criativo. É um baião que cai num forró e mais pra frente num bom rock n´roll. A letra é eterna, impossível não se divertir. A bela “Sunseed” também lembra o quarteto de Liverpool. Mais o guitarra George Harrison, pelo toque indiano. Até porque assim como George, Raul tem aquela voz bem fina e melódica. “Caminho II” é uma versão calma e “falada” da primeira. O baiano ainda erra e começa de novo. A faixa-título fecha o disco, um belo rock country no estilo de Raul, com pedal steel, aquele velho estilo de canções como “S.O.S”, de Gita, o disco anterior.

Novo Aeon não fez o sucesso esperado, principalmente porque Gita, o disco anterior, tinha sido um tremendo estouro (600 mil cópias, na época um assombro). Raul começou uma fase de alcoolismo do brabo, declinando sua carreira. Depois da maravilhosa parceria com Paulo Coelho, teve bons e maus momentos (mais maus que bons aliás), e discos muito ruins, como Mata Virgem e Por Quem Os Sinos Dobram?. Mas ainda rolaram discos razoáveis (Metrô Linha 743, Abre-Te Sésamo e O Dia Em Que A Terra Parou) e ainda discos muito bons (Uah-Bap-Lup-Bap-Lah-Bein-Bum! e a parceria com Marcelo Nova, Panela do Diabo). Faleceu em 89, praticamente esquecido pelo grande público. Felizmente sua obra se eternizou, e hoje soa até “cool” cultuar seus discos. E seus grandes momentos estão pra sempre na história do nosso rock.


Jonas Lopes também escreve a coluna Na Terra da Rainha no site Dying Days.

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