Lusoafinidades: Afinal, quem manda na banda?
Outro dia estava ouvindo uma música de uma banda portuguesa que existe há muitos anos, o UHF, e fiquei pensando num tema que me intrigou. Esta banda mantém o mesmo nome desde início da carreira, mas só tem um dos integrantes que formaram o UHF. Depois de meditar sobre isso, perguntei a mim próprio: mas afinal, o que, ou quem faz uma banda?
Por mera coincidência, um pouco depois de pensar nisso, fiquei sabendo da intenção de Ray Manzarek, John Densmore e Robby Krieger de fazerem uma série de shows e talvez gravarem um disco com o vocalista do The Cult, Ian Astbury. Mas e o saudoso Jim Morrison? Eles são os Doors sem o Rei Lagarto? Essa é uma questão muito complicada.
Os Rolling Stones mudaram de formação algumas vezes, com a morte de Brian Jones e a saída de Bill Wyman, entre outras mudanças, mas continuaram a ser os Stones. E se saísse Mick Jagger ou Keith Richards? O leitor está respondendo que neste caso seria diferente. Ok, mas qual a diferença entre eles?
Querem mais um exemplo? E se amanhã saísse uma notícia aqui no Central da Música dizendo que o Nirvana iria se reunir novamente para gravar um novo disco, sem Kurt Cobain?
Por outro lado, o Van Halen mudou de formação algumas vezes e nunca deixou de ser Van Halen, nem deixou de vender discos. Isto é muito complocado, como podem ver.
Se os leitores quiserem que eu diga o que eu acho, posso arriscar uma hipótese. Normalmente diz-se que o vocalista é a cara e a lama da banda, isto é, quando ele sai, deixa de ser a banda como um todo, não é verdade? Mas eu, sinceramente acho que é mais do que uma mera questão de vocalistas, tem mais a ver com o espírito do grupo, a chama que mantém as luzes do carisma e da mídia sobre certa banda. E isso pode significar ser o vocalista, ou não. Kurt Cobain, Mick Jagger e Jim Morrison encarnam ou encarnaram a alma do rock n roll e da música nas suas peles da maneira mais genuína da palavra rock, por isso são indissociáveis da imagem da banda que representam.
Não vou ser radical a ponto de dizer que quando uma pessoa sai de uma banda ela deve acabar, mas também não acho que ela deva existir a qualquer custo, como mera empresa em que o diretor é substituído por alguém mais competente ou com mais disponibilidade. Realmente, carisma é a melhor palavra para descrever essa minha opinião.
Rock n roll é carisma, alma, genuinidade, espírito livre e, acima de tudo, uma filosofia de vida. Por isso, nada melhor do que alguém que seja o sinônimo disso tudo para “liderar” uma banda.
Convido os leitores desta coluna e não só, que deixem a sua opinião no Fórum, ou escrevam para mim e digam o que pensam sobre assunto considerado delicado no meio musical e raramente discutido como deveria ser. Quem sabe conseguiremos chegar a alguma conclusão.