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Filmes + músicas: combinação que dá certo

É antiga a discussão artística a respeito da manifestação mais impactante: música ou imagem. Nesta linha de discussão surge a seguinte questão: são os filmes que fazem as músicas ou as músicas que fazem os filmes? Em meio à difícil tarefa de escolher uma das incontáveis respostas que surgiriam, nos resta apenas a análise de fatos. E é fato, que tanto um imortaliza o outro e que grandes filmes em geral vem acompanhados de trilhas sonoras inesquecíveis.


“Em algum lugar no passado”


Os anos  40 e 50 foram a época dourada dos musicais. A imortalidade de Fredie Astaire confirma a hipótese de que a trindade boa música + dança exímia + belas imagens funciona. “The  Sound of Music” (traduzido para o português como “A Noviça Rebelde”) tornou-se clássico e é um dos filmes mais assistidos do mundo até a atualidade.


Nos anos 70 o fenômeno Beattles inaugurou a era do fanatismo dedicado a determinados estilos. Apesar do inegável talento como intérpretes e compositores, o que os meninos de Liverpool significaram para a história da música mundial continua inexplicável. Em seu livro “Crônicas de Repórter”, o jornalista global Pedro Bial afirma que nem a estratégia comercial, nem o talento incomparável dos artistas, nada explica o milagre da banda; que mesmo anos depois de ter tido sua trajetória interrompida, ainda faz crianças de colo vibrarem ao som de seus acordes, com a mesma intensidade com que faziam adolescentes da década de 60. E os documentários lançados de tempos em tempos, mantêm e cria novas legiões de fanáticos. Ponto para nossa poderosa dobradinha Sound + Music.


Os anos 80 trouxeram Travolta e seus embalos de sábado à noite. Considerados de conteúdo questionável por muitos, os musicais do estilo não traziam mesmo grandes mensagens, nem bandeiras moralistas, mas inauguraram um filão de entretenimento gratuito que não era violento e, se não ajudava, ao menos não atrapalhava. “Nos tempos da brilhantina” enfatizava um outro tipo de arte: a dança. O balé mostrado ali era constituído de passos tipicamente modernos, contemporâneos, sem a sincronia exímia e peculiaridade formal da dança clássica. Acabava chamando a atenção para as músicas, apropriadas para o que se passava.


No estilo “Dança-se muito e transmite-se pouco”, merecem ser lembrados Dirty Dance (Ritmo Quente) e FlashDance, conhecidos como clássicos de sessão da tarde da TV Globo, sendo o primeiro muito melhor que o segundo por vários fatores dentre os quais a trilha sonora, melhor parte do trabalho.


A década passada consolidou o período das produções bilhardarias. Filmes sempre custaram caro (aliás caríssimo), mas nunca tanto. Em 91 “Ghost” foi a primeira peripécia da linhagem que se tornaria mania até os dias atuais, os sobrenaturais românticos. O filme pode ser considerado “pai” de “Os Outros”, do recém lançado “Sinais” e fez com que a antiga canção “Unchained Melody” nunca mais fosse esquecida. As rádios executaram-na exaustivamente e poucas trilhas foram tão vendidas. Depois veio o fenômeno “Titanic”, cuja cansativa “My heart will go on” continua rendendo à cantora Celine Dione ótimos dividendos.


Fora do time das “mais caras e famosas de Hollywood”, a comédia romântica “O casamento do meu melhor amigo” tem uma trilha tão divertida quanto o enredo do filme, e é ideal para ser tema dos dias estressantes. Ainda destaca-se a grande “The way you look tonight” e “Um lugar chamado Notting Hill”, que popularizou “She”, do inigualável Charles Aznavour.


Levar o grande público a conhecer clássicos como a instrumental “Somewhere in the Past” (tema principal de “Em algum lugar no passado”) assim como qualquer trabalho executado por estrelas do quilate de Sinatra (New York, New York), Armstrong, do próprio Aznavoure e de talentos modernos com o Kenny G, é algo muito positivo para com os espectadores, que se diga de passagem, são muitas vezes expostos ao “pop farofa”, logo esquecido após o filme .


Os recentes “Filth and Fury”, documentário sobre a banda inglesa Sex Pistols (e assunto da última edição desta coluna) e Cidade de Deus, tem a sonoridade em papel de pano de fundo. No primeiro, é mais enfatizado devido ao assunto do enredo ser música, ouvem-se canções famosas da banda, até na íntegra. Interessante, mas, como na maioria dos documentários, o ponto chave é a história. Em “Cidade de Deus” há o grande enredo, a grande mensagem, a violência, o realismo e as grandes atuações… em meio a isso tudo, há a música, o “sambinha” carioca tão tradicional quanto o pagode, que se misturou a todo esse sombrio enredo de nossa última mais nova obra prima cinematográfica… 


Ocupando papel de “ponto alto” da obra, ou apenas compondo o “pano de fundo” a música é essencial e, na dobradinha Imagem + Som, dois mais dois não são quatro. Um filme medíocre pode ser melhorado por uma grande trilha e uma grande produção pode ser bem prejudicada por uma música medíocre. O balanço geral é positivo, uma vez que cabe  ao público “peneirar” e imortalizar apenas o que vale a pena. Até porque vale muito.

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