Fidelidade: O verdadeiro rock n roll de volta ao topo
Desde o estouro do Nirvana, as gravadoras e a mídia musical mundial não pararam de buscar uma banda a altura que pudesse se aproximar daquele enorme hype que se formou em torno do grupo de Kurt Cobain. Com o suicídio do mesmo, e conseqüente fim da banda, as buscas se intensificaram ainda mais. Se isso é uma vantagem pelo investimento feito em grupos novos, por outro lado é um peso que a maioria não consegue carregar e acaba frustrando as expectativas.
A última aposta de “novo Nirvana” é o The Vines. Banda australiana radicada nos Estados Unidos que lançou recentemente seu primeiro disco, intitulado “Highly Envolved”. Eles apresentam logo de cara três semelhanças com a principal banda do movimento grunge: a sonoridade, a grande atenção lhes dada pela mídia e uma coisa que quase nenhuma outra candidata teve, um vocalista esquisitão.
O aparecimento do Vines reforça um movimento que já há algum tempo balança o universo pop e é tema certo nos meios americanos e europeus. Estou falando do surgimento (e sucesso) de bandas que apostam num rock básico, garageiro, feito com guitarra, baixo (opa! há uma exceção) e bateria. A semelhança destes fatores com o grunge é em grande parte mera coincidência, já que diferente do Vines, as outras bandas têm mais influências de coisas como o punk e Velvet Undergroud do que da turma de Seattle.
Uma característica desse “movimento”, se é podemos chamar assim, é a origem globalizada das bandas. No primeiro pelotão, dos Estados Unidos vêm os Strokes (cujo baterista é brasileiro) e o White Stripes, da Suécia o The Hives, e da Austrália o The Vines. Além desses nomes já batidos para quem acompanha as novidades do rock, há bandas interessantes que também prometem, como Yeah, Yeah,Yeahs, Detroit Cobras, Black Rebel Motorcycle Club, entre outras.
Ano passado, o Strokes foi o primeiro a cair nas graças da opinião pública. E não foi de graça – o álbum de estréia dos nova-iorquinos é maravilhoso e alcançou uma vendagem expressiva até aqui no Brasil, país do samba e carnaval, com mais de 40 mil cópias.
Passado o boom, eles mostraram que não são uma daquelas bandas que estouram e depois desaparecem. Já faz um ano do lançamento de “Is This It” e o grupo possui meia dúzia de músicas brilhantes rolando na internet, além desse mês serem a atração principal do maior festival anual de rock do mundo, o inglês Reading Festival.
De Detroit apareceu recentemente para o mundo o duo White Stripes. Diferente do que parece, não é uma dupla eletrônica, mas sim uma ótima banda de rock. Eles são os mais criativos e experimentados dessa nova safra. Em 2001 colocaram no mercado seu terceiro álbum, “White Blood Cells”, que foi muito bem recebido pela crítica.
O White Stripes se resume a Jack (guitarra, violão e voz) e Meg White (bateria), não tendo baixo na sua formação, e não ficando devendo para nenhuma banda de nu metal com seus cinco, seis integrantes. Na maioria das músicas, Jack manda bala em sua guitarra com influências de blues e punk e solta a voz, enquanto Meg desce a mão na bateria. Este ano eles se apresentaram no Movie Awards, da MTV americana, mandando uma versão ensandecida de “Fell In Love With A Girl” com direito a palhinha de “Death Leaves On The Dirty Floor”.
O The Hives aproveitou a onda de bandas suecas que cruzou as fronteiras do frio país para alcançar o sucesso na América e na Europa e foi o primeiro hype de 2002. A música “Hate To Say I Told You So” invadiu a MTV e as paradas mundiais dando mais fúria a essa nova safra de boas bandas de garagem. Eles fazem um som agressivo, sujo, mostrando que a Suécia não vive só de baladas do Abba na área musical.
Depois de termos que agüentar uma avalanche de artistas pop furados, pós-adolescentes misturando metal com rap e a febre de música eletrônica, finalmente algo de qualidade está no centro das atenções do mundo da música. E não se trata de uma série de pessoas fazendo a mesma coisa ou seguindo uma fórmula, mas sim vários grupos vindo de várias partes do mundo fazendo um som honesto, cada um com seu estilo, mas com o rock n roll básico como elemento comum.
Diferente do que muitos esperam, não se vai descobrir nenhum novo Nirvana entre esses grupos emergentes, mas não há porque se frustrar. O rock novamente está mostrando estar vivo e que não perderá sua majestade tão cedo.
Fidelidade Alternativa vidente
Minha coluna passada abordava o Oasis e as tragédias acontecidas em julho e terminava com um desejo de que o mês de agosto fosse menos duro com o rock. E não é que logo na primeira semana o táxi em que se encontravam Noel Gallagher, Andy Bell e o tecladista Jay Darlington do Oasis sofreu um acidente em Indianapolis, nos Estados Unidos? Noel foi o que se deu pior. Sofreu cortes e hematomas no rosto, forçando a banda a cancelar três apresentações que faria na terra do Tio Sam.
Terra de ninguém
A nossa justiça mais uma vez se mostrou falha e decepcionante. O que dizer da nova turnê do cantor Belo? Foi provado por meio de gravações telefônicas que o pagodeiro está intimamente ligado ao tráfico de drogas, mas simplesmente a permanência dele na cadeia é uma incógnita. Enquanto isso ele ficou solto e fazendo shows por aí.
O que dizer da soltura de Guilherme de Pádua, das candidaturas de Collor e Pitta e de Elias Maluco solto e Tim Lopes ser colocado como culpado pelo seu próprio assassinato? Eles estão de brincadeira, só pode ser isso.
Perdemos o Free Jazz
O melhor Festival anual brasileiro (ao lado do Abril Pro Rock) foi cancelado esta semana devido às loucas condições financeiras em que se encontra nosso país. Triste fim para o Free Jazz Festival, que este ano teria sua última edição, já que a partir do ano que vem ficam proibidos os anúncio público por fabricantes de cigarro. E como dificilmente outra empresa substituirá a Souza Cruz no patrocínio, ficam as histórias, os ótimos shows e os grandes momentos.
Havia fortes especulações de que o evento deste ano teria como atração principal nada mais nada menos que Radiohead. Realmente a situação do Brasil esta cada vez mais complicada.
Leandro Ribeiro, 20 anos, é um amante do rock n roll em geral, com uma recaída maior por bandas mais lentas e belas.