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Feedback: Canções dos Senhores da Guerra

Madrugada de 19 de março. Na tela da tevê a jornalista comentava o fato de pela primeira vez o governo atacante ter permitido que os jornalistas acompanhassem a entrada, em “grande estilo, como num filme de holywood”. Na tela, o brilho das explosões e o ruído do horror.


Não adiantaram passeatas na Alemanha, cenas de nudez na Austrália, abaixo-assinados em dezenas de línguas, a oposição frontal da França e aliados e nem a canção composta por Robin Williams. O mundo está nas mãos de um homem, que por ironia do destino passava laquê no cabelo, preparando-se para um pronunciamento à nação, no mesmo momento em que jovens, muitos dos quais como ele jogam baseball, eram tirados de seus instrumentos musicais e livros para serem conduzidos a posição de membros di “livro” da história mundial, como personagens do capítulo “atrocidades”, página “Evitáveis”.


Por incrível que pareça, um dos nossos dois “Senhores da Guerra”, é filho de político, estudou numa das maiores escolas do mundo e fala inglês, a mesma língua na qual Michael Jackson e outra meia dúzia de estrelas da música mundial cantaram “We are the World”.
Para quem não lembra era aquela canção que dizia que nós somos aqueles que faremos um mundo melhor, que não havia escolha a ser feita, que estávamos salvando nossas próprias vidas, então deveríamos, eu e você fazer um dia melhor. Uma canção composta com o objetivo de se acabar com a fome na África, já que ela, a fome, matava e muito. Irônico, não?


O mesmo Michael, quando, diga-se de passagem, ainda não havia sido acusado de molestar criancinhas, também compôs “Heal the world”, cujo refrão afirma (e continua afirmando): Heal the World/(Salvar o mundo)Make it a better place/(Fazê-lo melhor) For you and for me and the entire human race/(Para você, para mim e toda a raça humana)/ …


Resta saber se depois das cenas do fim de março, essa palavras, escritas na língua oficial do país “salvador do Iraque”, ou que pelo menos ostenta o título, de acordo com as palavras proferidas  pelo “admirável Sr. Laquê para cabelo”, ainda farão sentido.


Interessante é fazer uma análise artística das guerras. Elas acontecem e após as perdas irreparáveis, compõem-se canções lindas, profundas, brilhantes e… genuinamente americanas.


Não importa o papel do país na guerra, o mundo chora suas mortes e bravura, além é claro de regozijar com a brilhante inspiração de seus artistas (que é inegável).


E esquece dos outros. Da dor, das perdas e até da arte. Ou, será que alguma canção Afeganistã foi mais ouvida que as muitas homenagens ao 11 de setembro compostas por estrelas “sobrinhas de Sam”?


Terá algum país vítima das muitas ditaduras implantadas com a ajuda de nossos “great saviors”, escutado mais alguma canção latina que a lendária “Sunday bloody Sunday” (por sinal uma das grandes obras do U2)?


Ou alguma música Iraniana ou vietnamita estourou nas paradas de sucesso devido à comoção mundial causada por seus milhares de soldados trucidados?


O segundo senhor da guerra é sanguinário. Condena o próprio, povo à miséria, enriquece as custas do terror e inibe qualquer tipo de expressão artística através da censura. E a razão da censura é fazer com que as pessoas evitem escutar Renato Russo dizendo que:


Existe alguém que está contando com você;
Pra lutar em seu lugar, já que nessa guerra não é ele que vai morrer;
E quando longe de casa, ferido e com frio o inimigo você espera;
Ele estará com outros velhos inventando novos jogos de guerra.


Saddam é um mestre em jogos de guerra, e elege a ignorância como forma de poder. Escraviza seu povo, enquanto o outro protege o seu próprio a custa da escravidão do resto da comunidade global, a qual a guerra provou não ser tão comunidade assim.


Enquanto um povo, ou ao menos seus representantes, descrevem a sua atuação em façanhas genocidas por meios poéticos e sonoramente belos, a maneira pela qual o outro o vê, ninguém conhece e nem conhecerá, por que não haverá chance.


Apesar de não existir nação mais ou menos criativa, ao menos em termos artísticos o conflito já tem vencedor, uma vez que quando vier a paz ela será celebrada como sempre. In english.

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