F. Alternativa: Reflexões sobre o mercado fonográfico
“Essa história de que o preço do CD é caro aqui no Brasil é lenda”. Essa declaração foi dada por um presidente de uma grande gravadora à MTV algumas semanas atrás, dentro de uma série de reportagens que a emissora apresentou sobre a pirataria na música. Fazendo umas visitas recentemente a várias grandes e pequenas lojas de discos, alguns pontos, como esse do preço, me chamaram a atenção.
Ok, o senhor aí está certo, nós reclamamos sem razão. Bom, então, gostaria que ele comparasse o salário mínimo norte-americano com o preço do disco por lá, e o brasileiro. Será que está correto um CD decente custar R$ 35 num país onde o salário é R$ 211? Porque eu fiquei assustado com o tamanho número de lojas que colocam um lançamento do Coldplay a mais de 30 reais. O duplo dos Stones, impossível achar por menos que 50 paus.
Daí eles vêm com essa de que a compra de CD falsificado prejudica o artistas e mais dezenas de profissionais que trabalham para conceber o produto, e eu concordo. Sou o primeiro a ser contra o disco falsificado. Adoro pegar o encarte, ler as letras, não é legal saber que o seu exemplar não conta em nada na vida do artista, agora, levanto uma questão: Se compararmos o salário dessas dezenas de profissionais brasileiros que trabalham na produção com o salário dos mesmos profissionais em outros países, será que chegaremos num paralelo parecido com o preço do disco nos mesmos lugares?
Se o Lobão foi capaz de, numa produção independente, colocar seu disco a R$ 11,90, o Marcelo Nova a R$ 14,90 e os Titãs venderem seu novo álbum através da gravadora por menos de vinte reais, por que é tão comum as lojas cobrarem mais que trinta por um CD? Será que nossas gravadoras não estão querendo ganhar demais?
O engraçado é chegar num Carrefour da vida e ver uma promoção de R$ 2,90 de É o Tchan, KLB, Twister, numa baciada. Alguma coisa está errada. Eles pegam grupos incompetentes que por algum motivo podem vender, gastam uma grana preta na promoção, levam prejuízo e depois, para manter a margem de lucro, jogam o preço do resto lá em cima.
Problema nas lojas
Os países de primeiro mundo têm o costume da divulgação da data de lançamento dos álbuns muito esperados. A mídia anuncia e as grandes lojas são invadidas pelos fãs para comprarem suas futuras relíquias quanto antes. Esse costume seria inviável no Brasil. Primeiro que pouco se divulga data de lançamento, e segundo porque elas não são respeitadas. Uma semana depois da data prevista para “Riot Act”, o novo álbum do Pearl Jam, ser lançado no Brasil, nada de encontrar o disco nas prateleiras. Tanto nas lojinhas de bairro, quanto nas médias e nas mega stores.
Diante do grande atraso no lançamento e mesmo no não lançamento nacional, adquirir os exemplares importados, especialidade de algumas lojas de São Paulo, sempre foi uma alternativa a ser levada em conta. Infelizmente hoje em dia a coisa ficou complicada. O dólar a R$ 3,60 deu uma alavancada nos preços, e mês passado me cobraram mais de 85 reais pelo novo disco do Manic Street Preachers em dois lugares diferentes.
Nessa minha tour por lojas de discos, outro problema me perturbou profundamente. Eu sempre tive a tese de que loja (de qualquer espécie) em que o som ambiente é agradável, entenda-se por um bom rock n roll ou uma bela melodia pop, temos a tendência de permanecer por mais tempo lá dentro (Fiquei extremamente feliz quando um professor de marketing descreveu minha idéia como verdadeira, inclusive com os mesmos estilos musicais). Bom, o que me perturbou foi o fato de 90% das lojas estarem tocando ou mostrando (DVD) esse tal de projeto dos Tribalistas. Caramba, é uma avalanche de elogios, execução maciça, Rede Globo, … . Sorte que temos meios alternativos, como o Central da Música e alguns jornalistas com espaço na grande mídia para não nos sentirmos ETs (Todo mundo fala bem, todo mundo gosta, todo mundo ouve, será que eu sou o anormal?).
Confesso que minha vontade em tecer comentários negativos ao projeto dos “deuses” da MPB com apoio da Rede Globo é grande, mas vou ficar apenas com as reflexões sobre o mercado musical. Preço alto, atraso na distribuição, não lançamento de álbuns indispensáveis, invasão dos discos falsificados, tudo isso contribuiu e está contribuindo para a diminuição forte na venda de discos no Brasil.
O que as poderosas gravadoras deviam fazer para melhorar a situação é tratar desses problemas respeitando o apreciador de música. Se hoje uma pessoa quer determinado disco, tem três opções: baixar o CD inteiro pela internet, comprar o falsificado ou ir até a loja adquirir o original.
A partir do momento em que o original tiver um preço acessível (entenda-se por algo abaixo do quíntuplo do falsificado), chegar às lojas na data correta, apresentar um bom encarte com letras, fotos e outras informações, este passará novamente a dominar o mercado.