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Deus (da guitarra) é brasileiro e se chama Dado

Hãããã….Antes de mais nada, oi, gente. Hummm…eu tinha prometido um papo sério pra esta semana, mas vai ficar pra próxima.


Me sinto no dever de dar prosseguimento a uma pequena diferença – muito salutar, diga-se - que arrumei com meu colega Leandro Ribeiro, da coluna Fidelidade Alternativa. Pra quem está chegando agora e não sabe qual o auê, recomendo que leia minha coluna do dia 05/02 e em seguida a Fidelidade do dia 11/02, daí você vai entender tudo direitinho.


Então, vou usar meu direito de replicar, mas tomara que eu me faça entender e não precise usar a coluna da semana que vem. Vamos lá:

AHAMM…Deveras interessante seu argumento, Leandro…pena que um tanto quanto equivocado. Oras, eu nunca, em momento algum, mencionei técnica em minha crítica ao Dado. Desde quando um guitarrista precisa ser “técnico” pra ser bom? Quem falou em técnica?
Com certeza, uma coluna é um espaço para o próprio colunista exercer sua opinião. Mas isso não significa que não precisemos usar de coerência. Caso contrário, eu poderia sair por aí dizendo em minha coluna que o CPM 22 (lá vou eu pegar no pé dos caras…) é a banda mais influente que surgiu no Rock tupiniquim em todos os tempos. Ou falar que o melhor filme brasileiro de todos os tempos é o “Super Xuxa contra o Baixo Astral”. Bom, poder eu posso, mas se estou escrevendo para outras pessoas lerem e não só para mim, tenho ao menos que justificar minha opinião, certo? Preciso dar argumentos para tal afirmação. Não concordo que tudo se resuma a apenas uma, ainda que válida, ”questão de gosto”.
Desculpe. Não sei o que o Pedro Bial disse. Não assisto o programa dele. Aliás, não gosto dele. Tô brincando. … Quem é Pedro Bial? Ele curte o movimento? 
Falar de Hendrix eu não consigo. Hendrix é indescritível. Não é uma coisa que se possa definir entre os outros guitarristas, por melhores tecnicamente que sejam e nisso, parece que em parte concordamos. Hendrix é elemental da eletricidade – nossa, que bonito isso! – Está acima de todos porque foi o primeiro que chutou o balde e definiu o que se realmente precisa para ser um guitarrista influente, muito além dessa técnica  que você tanto mencionou em sua coluna e acha, erroneamente, que eu valorizo:
Ousadia. Feeling. Isso mesmo. Sentimento. TALENTO. Muito mais do que técnica, isso é o que faz um guitarrista ser bom. Ou você acha que o Dado Villa-Lobos tem o feeling de um Lightnin Hopkins? De um Howlin Wolf? De um Magic Slim? Ou Robert Johnson? Nenhum deles é citado como um deus de seus instrumentos, mas sem sombra de dúvida influenciaram e continuam influenciando gerações de músicos. E pra não ficar só no Blues, vamos pro gênero embrião da Legião: o Punk. Steve Jones, dos Sex Pistols é um puta guitarrista, influenciou centenas de garotos e não era nenhum virtuoso na guitarra. Mas tinha outra coisa necessária também pra se firmar no mundo roqueiro: estilo. É impossível imaginar uma música dos Pistols sem a sonoridade de sua guitarra. E isso nos remete ao que eu falei da Legião funcionar como banda. Os Pistols, aproveitando que estamos falando deles, era um uníssono. A sonoridade da guitarra, o vocal do Rotten, e até e talvez principalmente a atitude do Sid Vicious. Quer outra influência da Legião? Os Smiths. Johnny Marr é um dos guitarristas mais respeitados do mundo e nem por isso precisou ser virtuoso ou cheio de técnica ou precisar solar nas músicas feito um alucinado pra receber o reconhecimento merecido. E nem depender da sombra do Morrisey. 
Também não falei que o Dado não se encaixava na proposta musical da Legião (leia-se Renato Russo), pra sorte dele, essa proposta não pedia o guitarrista mais importante do rock nacional , mas um amigo que se identificasse com os gostos musicais, por menos que tocasse. A única – e quem disse que precisaria de mais? – força da Legião estava na presença e nas letras de Renato Russo. Era isso que lotava estádios, como você disse, Leandro, e não o talento coletivo ou individual de seus integrantes em seus respectivos instrumentos. Como disse um amigo meu – Alô, Rick! – , se o fato do Edgard Scandurra não ter lotado estádios como a Legião o deixa abaixo do Dado, então o guitarrista da Britney Spears é o cara mais fodão do mundo! Ou você acha que essas multidões iam assistir a Legião pra ouvir o Dado tocar? O Renato atrairia público até com o É o Tchan! como banda de apoio…Concordo quando diz que na SUA opinião, ninguém se deu melhor que o Dado. Ele se deu bem mesmo, não é todo dia que se encontra um Renato Russo. Agora, olha só essa: Em suas referências em relação aos outros guitarristas você diz: Scandurra, fenômeno da guitarra, autodidata, estilo único; Sérgio Dias, fundamental na guitarra nacional, fez uma revolução…Mas que qualidades individuais você próprio atribuiu ao Dado? Nenhuma a não ser tocar com o Renato Russo. Não é um tanto contraditório os outros guitarristas terem tantos méritos próprios e serem relegados para dar destaque pro cara que não fez nada de significativo pra guitarra nacional a não ser  tocar na Legião?
Pode até não parecer, mas eu adoro a Legião Urbana. Nos 80 fui em muitos shows da banda e acompanhei sua carreira até o fim. Mas nem por isso vou ser parcial com quem é melhor que eles em algum quesito, seja lá qual for. A idolatria cega existe a partir do momento em que você canoniza qualquer coisa que tenha relação com a Legião, independente de ser boa ou ruim.
Quanto ao fato do Morrisey ter sido eleito o ser humano mais maravilhoso do planeta, creio que você se equivocou com a matéria. Aquela não foi a opinião pessoal do Lúcio Ribeiro ou quem quer que seja, mas uma votação que houve entre um segmento do povo britânico. E aí, votação é outra coisa. Se por votação algum dia o Dado for escolhido o bambambam da guitarra, então eu abaixo a cabeça e vou tentar ser o guitarrista do Radiohead. Afinal, por pior que eu toque, já garanto meu pé de meia só pelo fato de estar numa grande banda. Quem sabe até sou considerado o guitarrista mais importante dos anos 90?
Bob Dylan. Sem sombra alguma de dúvida ele é o cantor mais importante da história do Rock. Mas aqui no caso, cantor quer dizer mesmo compositor. Ele é mais importante por suas letras e ativismo político/social que por sua voz. Pois eu duvido que se alguém, até mesmo você, Leandro, pudesse escolher ter a voz de um grande cantor, escolheria a voz do Dylan. Agora, ter sua genialidade em composições, eu não poderia imaginar um exemplo melhor. Acha que se ele tivesse aquela voz e compusesse músicas como as do Phil Collins ele seria considerado o maior de todos? Kurt Cobain? a mesma coisa: Suas atitudes e músicas são infinitamente mais relevantes e lembradas que sua guitarra. Só para te dar um exemplo pessoal, eu adoro Engenheiros do Hawaii (pronto, falei…)! Acho as letras incríveis (bom, nem todas, vá lá) e meus amigos tiram o maior sarro disso. Mas e daí? Eu gosto e pronto. Mas isso não vai me fazer sair por aí dizendo que o Carlos Maltz ou algum outro baterista que toque hoje na banda, é o maior baterista do Brasil. Nem que o Humberto Gessinger é o supra-sumo do contrabaixo ou da guitarra. E muito menos que o Engenheiros é uma banda. Não é. O Engenheiros é o Gessinger e ponto. Sempre foi, assim como o Renato Russo era a Legião.  
UFA! Tá acabando…Bom, você mesmo resumiu a coisa com sua Lagoa Azul (putz!…) Se não quer criar polêmicas, basta não se pronunciar. Mas acredito que esse embate foi tão significativo para você como para mim. Como havia lhe dito, debater e se fazer ouvir é um exercício fundamental para se viver em sociedade. Você tem mesmo que mostrar o que acha. Se o Dado pra você é o melhor que o Brasil tem a oferecer em termos de talento na guitarra, fazer o quê? Mas possua argumentos convincentes para que isso seja levado a sério entre seus leitores. A menos que seja uma piada e ninguém tenha entendido.

É isso aí. Segurar uma guitarra e estar numa fantástica banda, não te eleva ao posto de mais importante guitarrista nacional. Mesmo sendo o cabeça da banda, se você compõe muito bem mas é sofrível no instrumento, isso só vai te fazer ser um grande compositor, não um grande guitarrista. É tão simples.

 

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HA, HA, HA… toda essa conversa sobre a Legião Urbana me lembrou de um fato muito engraçado que a envolveu recentemente.


Durante a semifinal do concurso Caça VJ, da MTV, uma das provas era bolar um programa e demonstrar com uma apresentação como ele seria. Bom, quando chegou a vez do candidato Rafa, ele chegou todo-todo simulando um noticiário musical, nos moldes do Jornal da MTV. Até aí, normal, mas se liguem na notícia que ele criou e apresentou como o acontecimento do novo milênio. Era mais ou menos assim:


- E atenção! Num furo de reportagem, descobrimos que a Legião Urbana, depois de todos esses anos inativa, vai voltar! É isso mesmo! E pro lugar de Renato Russo foi escolhido Arnaldo Antunes – !?!?!?! CRASH!! –


…( 5 minutos depois…) ….Ai, desculpem, mas a onomatopéia foi para ilustrar minha queda da cadeira, rolando de tanto rir.


Já imaginaram o ex-Titã cantando na Legião? It would be the end of the world as we know it. Mas o pior é que quando indagado pelo (incrédulo com o que ouviu) VJ Luís Thunderbird, se ele achava aquilo realmente viável, a resposta foi totalmente positiva. A justificativa para tal união era que o Arnaldo também era um ótimo poeta e da mesma geração musical do Renato Russo. É mole?

 

Mas pensando bem, seguindo esse brilhante raciocínio, poderemos esperar uma volta do Nirvana, encabeçada pelo Jakob Dylan, do Wallflowers, já que ele também canta e é da mesma geração…Ou quem sabe a Nação Zumbi ao invés do Jorge Du Peixe, devesse colocar a Ivete Sangalo no lugar do Chico Science? Afinal, os dois tem em comum o sotaque nordestino e também são da mesma geração. O mundo é simples. A gente é que complica.

 

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Acho que está bom, né? Chega por hoje de falar em Legião Urbana.

 

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O fim do mundo está próximo. Não sou um grande fã de televisão, não. Alguns telejornais, documentários e musicais pra mim já bastam. Mas não nego que de vez em quando gosto de ficar zapeando a esmo, sem intenção alguma de assistir algo específico. Numa dessas minhas zapeadas, eu paro em uma dessas redes abertas e me deparo com dois sujeitos dando uma “entrevista”. Na verdade só um deles falava, o outro, um cara esquisito e esquálido, só ficava em segundo plano, olhando pra câmera e dando um sorriso idiota.


Durante a “entrevista”, descubro que o cara é um cantor que está estourando nas paradas do Rio e invadindo com seu sucesso outros estados também. Já impaciente pra saber que sucesso arrasador era esse – a “entrevista” já durava uns dez minutos – finalmente eles resolvem apresentar a obra-prima, e começam a cantar (acho que é assim):

 

Pocotó, pocotó, minha égüinha nunca anda só

Com a mamãe e a vovó

Pocotó, pocotó(…)

 

E eu então me senti como aqueles personagens de desenho animado, que depois de enganados, aparecem com uma ferradura ou um pirulito no lugar da cabeça. Um verdadeiro panaca por estar perdendo meu tempo vendo aquela coisa medonha.


Eu não acredito que a televisão se dispõe a ceder DEZ minutos de sua programação para uma droga daquelas! A idiotia impera! É patrocinada e incentivada ao sucesso a todo custo, pois não é que para minha surpresa o troço começou a tocar em tudo que é lugar? Mas também só se pode esperar que isso faça sucesso. Num país onde você tem de optar entre comer ou se vestir, se vestir ou se educar, se educar ou ter onde morar, a cultura vai pras picas mesmo. E é extremamente do interesse de poucos que isso continue assim, pois quanto mais burro, mais manipulável à interesses alheios. É a velha máxima do pão e circo, descontado que até isso está mais precário, já que pão não existe. E deve até ser de propósito, já que subnutrido o indivíduo fica mais apto a ser “zumbizado” com tanta porcaria que assola a música. É como diz aquele ditado: Milhões de moscas não podem estar erradas. Coma merda.

 

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jackoSó pra descontrair um pouco, deixo uma imagem muito engraçada unindo os demiurgos e aquela coisa esquisita que um dia foi conhecida pela alcunha de Michael Jackson.

 

                                                                    

 

Despeço-me desejando a todos sempre mais do mesmo.

ROCK RULES!









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