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Coluna Tudo Velho: Relançamentos, promos, etc

Geralmente não uso a minha coluna pra ficar conversando com os leitores, nem pra ficar batendo papo sobre a minha vida – nem é esse o objetivo, afinal uma coluna sobre música num site de música deve primar pela informação. Mas é que na inatividade do carnaval (e enquanto várias outras pessoas viajam eu prefiro ficar de retiro ouvindo música e até acompanhando os desfiles pela TV) resolvi dar uma mexida na coleção de CDs, coisa que eu não fazia há tempos. E acabei parando nos discos que encontrei em promoções ou que vi relançados entre 2001 e 2002. Acabei selecionando alguns para comentar aqui.


São duas coisas que sempre me chamam a atenção e que até tem um pouco a ver, uma com a outra. Geralmente os discos relançados, depois de um belo tempo (coisa de meses) acabam indo parar nas promoções – especialmente naquelas prateleiras com promoções a 9, 10, 15 reais. Adivinha se eu já não andei vendo alguns CDs da série 100 anos de Odeon, quase recém-lançados, por ali? Seria legal se as caixinhas da série Brasil de A a Z (difíceis de se encontraer nas lojas, por sinal) tivessem esse barateamento nos preços também… A série Arquivos Warner, que já teve vários outros discos relançados (CDs do arquivo da Continental, incluindo velharias de MPB como Carlos Lyra, Erlon Chaves, e até discos antigos de rock nacional, como Bixo da Seda e Almõndegas) também pode ser encontrada em algumas lojas a preços acessíveis. Lógico que não estamos falando das FNACs da vida. Quem quer achar música a preços baratos tem que fuçar por aí, como sempre.


Mas vamos aos discos:


+ BURNIER E CARTIER (1976, EMI) A dupla Burnier e Cartier, dois cantores-compositores-violonistas, tiveram momentos de sucesso nos anos 70, quando músicas suas foram incluúidas em trilhas de novelas e gravadas por cantores e grupos famosos: os dois faziam uma espécie de ponte entre a MPB, o soul e sons nordestinos. Acabaram sendo incluídos no mesmo rabicho daquela geração da MPB que fazia um som próximo do dos mineiros – gente como Sá & Guarabyra, por exemplo. O disco dos caras, relançado ano passado em CD, é uma verdadeira pérola perdida.


+ CHOQUE, Kiko Zambianchi (1984, EMI) O primeiro LP de Kiko nunca tinha sido relançado em CD, embora tivesse tido altos sucessos – agora saiu na série Brasil de A a Z e só pode ser comprado junto com outros dois discos do cantor, Quadro Vivo e Kiko Zambianchi. Se for o único jeito de se adquirir este disco, paciência, porque é uma das maiores obras-primas do rock nacional oitentista, desde a faixa título e o hit “Primeiros erros” (regravado por um batalhão de gente) até músicas menos conhecidas, como


+ JUVENTUDE 2000, Wilson Neves e seu conjunto (1968, EMI) Essa é pra quem acha que sabe o que é lounge. Quem escuta essas eletroniquices de hoje em dia que são vendidas como lounge tinha que escutar era um som futurista e dançante de verdade, como o que era feito pelo baterista Wilson (das) Neves por volta de 1967/68. As músicas lembram aqueles temas antigos dos filmes brasileiros que volta e meia passam no Canal Brasil (NET), com órgãozinhos, bateria samba-jazz, metais em brasa, melodias meio fórmula 1, etc.


+ MASKAVO ROOTS, Maskavo Roots (WEA, 1994) O Maskavo foi uma das bandas mais injustiçadas do selo Banguela. Tinha tudo pra dar certo, contava com excelentes músicos, uma vocalista bonita (Joana Lewis, que no entanto nem chegou a participar direito da banda, saindo em seguida) e ótimas canções em seu primeiro álbum, que quase não fez sucesso. Agora, com o relançamento, deve-se dar o destaque justo ao disco – muito embora a banda não tenha mantido o nível nos CDs que se seguiram.


+ NÓS SOMOS A AMÉRICA DO SUL, Psychic Possessor (Cogumelo, 1989) Achei esse disco jogado em uma banquinha de venda de CDs no Garage (RJ). Uma puta sorte: o Psychic Possessor era um dos melhores nomes do punk paulista dos anos 80, e Nós somos a América… era um dos melhores LPs dessa época. Mesmo toscamente gravado – nem a remasterização conseguiu ajeitar o som, embora o resultado final tenha peso – o disco do Psychic revelava uma banda afiada, rebelde e até com técnica.


+ IMAGEM E SOM, Cassiano (RCA, 1970) O primeiro disco de Cassiano, mesmo naõ sendo tão bom quanto Cuban Soul tinha qualidades aos montes: um cantor poderoso, bom compositor, bom guitarrista e ligado no melhor do soul que se fazia na época. Cassiano, Tim Maia e Hyldon são os


+ MARAVILHAS CONTEMPORÂNEAS, Luiz Melodia (Som Livre, 1976) O segundo disco de Luiz Melodia (o que tem “Juventude transviada”) é um dos melhores discos da música brasileira – nem vamos falar aqui em MPB, sigla que é de aparente democracia, mas que se mostra como propriedade de poucos. Luiz, que já declarou numa entrevista que “se eu fosse baiano teria sido menos discriminado” se mostra o único autêntico bluesman brazuca, em todos os sentidos, em faixas como


+ REVOLUÇÕES POR MINUTO, RPM (CBS, 1985) Relançado com uma masterização redentora, Revoluções… é a prova de que o RPM era uma puta banda, nem tem o que discuir ou argumentar.


+ SAMBA ESQUEMA NOISE, mundo livre s/a (WEA, 1994) Já que você não vai ver os discos posteriores do mundo livre de volta às lojas tão cedo, fique com esta obra conceitualmente e musicalmente milionária (“rica” é pouco), que já vi pegando poeira em algumas lojas desde que foi relançada. Um tapa no capitalismo, na globalização e na política cínica, da única banda brasileira verdadeiramente terrorista.  Se bem que seria bem legal Carnaval na obra, melhor disco deles, voltar às lojas.


+ SAMBA ROCK vol. 2 (EMI, 2001) Lançada sem a menor divulgação, essa coletânea vem, a ser a continuação de Samba Rock – O som dos blacks, lançada há quase 20 anos pela Copacabana, que hoje pertence à EMI. O disco é um assalto às riquezas dos acervos da EMI e da velha Copacabana: tem Marcos Valle (“Os grilos”), Marku Ribas (“Zamba Ben”), Noriel Vilela (o hit “16 toneladas”), Luiz Wagner (“Tesourão”) e até um obscuro Tim Maia (“Meus inimigos”). Dá pra encontrar esse disco pegando poeira em algumas lojas, por preços que não passam dos 5 reais.


+ MOTO PERPÉTUO, Moto Perpétuo (Continental, 1974) O primeiro e único disco do Moto – grupo que tinha entre seus integrantes o então novato Guilherme Arantes – pode ser visto hoje em dia como uma experiência anacrônica e datadíssima. E é mesmo, mas nem por isso deixa de ser legal, nem que seja como registro histórico.


+ COME IN AND BURN, Rollins Band (Universal, 1995) Esse disco não foi relançado, mas achei numa promoção semana passada, pela bagatela de cinco reais. É um disco legal da banda do fortão Henry Rollins, embora nem se compare a End of silence. Para quem é fã, soa como se fosse o último disco dos caras: logo depois, Rollins dispensaria todos os músicos e mandaria chamar uma banda bem mais fraca, com a qual vem tocando. Ao apostar demasiadamente no próprio taco, Rollins esqueceu que a maior graça dos seus discos era a combinação de peso e técnica de músicos como Sim Cain e Melvin Gibbs.


+ CARLOS, ERASMO, Erasmo Carlos (Philips, 1971) O próprio texto do disco já tem uma declaração do Erasmo avisando que o disco é uma “viagem em todos os sentidos”. Por aí já dá pra se ter uma pequena amostra. Tem samba-rock psicodélico, soul pesado (escrito por Jorge Ben), black music, rock´n roll rasgado, bossinha, baladas… Quase nunca o rock nacional foi tão loucamente variado. Uma boa pedida para começar a gostar do Tremendão – pena que só foi lançado na caixa Mesmo que seja eu e não tem previsão de ser lançado em separado.


RICARDO SCHOTT, 28 anos, escreve sobre música em vários sites e edita o blog de música Discoteca Básica (www.discotecabasica.blogspot.com).

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